sexta-feira, março 28

 
Já cheira
... de novo a aulas. Vem aí o terceiro período, maior este ano. Por isso mesmo, capaz de efeitos que noutros anos não podem ser esperados.
 
Gostei
... de ver vários alunos meus na assistência. Não tenho dúvidas de que terão ganho com isso. E que esse ganho se pode reflectir de vários modos na sua vida, inclusivé escolar. Embora uma vez não seja mais dos que uma vez, e por isso de efeitos limitados.
 
Onde?
A sala estava cheia.
- Onde andam estas pessoas todas quando há teatro aqui?
As razões que levam as pessoas ao teatro são múltiplas. Neste caso, há, sem dúvida, um elo de ligação directa entre os que estão em palco e os que estão na plateia. Estes vêm ver os amigos ou acompanhar os seus colegas que vêm ver os amigos. E assim se cria uma rede de ligações e cumplicidades. E isso é normal, e é bom.
E é assim que se começa e se pode desenvolver o padrão de ir ao teatro, de estar atento à informação sobre teatro e de gostar de teatro. Pois tudo tem um princípio.
 
O grupo
Convém não andarmos distraídos. O Grupo de Teatro Palha de Abrantes continua a desenvolver o seu trabalho. E é enquanto o faz que merece atenção. Não é só no caso de desaparecer.
Lembremo-nos do barulho que foi quando deixou de haver cinema, em contraste com os vários “silêncios” no tempo em que havia e até nos momentos em que foi retomada a projecção.
O silêncio e o abandono são duas importantes causas de morte.
 
“Olhares e Impulsos”
No Dia mundial de Teatro, Abrantes foi brindada com uma dupla estreia: de “Olhares e Impulsos”, um trabalho do Grupo de Teatro Palha de Abrantes, e de Ana Jael, pelo menos como encenadora entre nós.
O trabalho foi um verdadeiro manual de Psicologia e Sociologia do Adolescente, embora incompleto, apresentado em linguagem estética por um grupo de adolescentes.
Quem esteve presente pode constatar que não há nenhuma razão para descrer da nova geração. Têm os mesmos problemas e também as mesmas forças e fraquezas das gerações de sempre, embora com as devidas diferenças, é claro.
A estética apresentada foi limpa e fresca, mostrou-se trabalhada e os resultados foram conseguidos. Notava-se, sem dúvida, a presença do carácter amador e adolescente dos actores, mas isso faz parte da natureza – e das virtudes – do trabalho.
Só falta... mais.
 
Qualificação e Competitividade
Fui convidado pelas escolas para falar em seu nome na Semana que aí se aproxima. Há dois dias que trabalho sobre o assunto. O desafio é representar as escolas e dar conta do que estas fazem, mas não ser um mero representante corporativo, perdendo o espírito de análise que deve ter um debate sério.
O teste vai ser dia 3, à noite.
 
O professor
Seria fácil concluir que sou bom professor numa turma e mau professor na outra. E concluir, por isso, que sendo eu o mesmo, a diferença está nas turmas, uma que é boa e outra que é má.
Mas seria uma conclusão ilegítima.
Pode muito bem acontecer que o professor que sou, isto é, que as metodologias que utilizo estejam adaptadas a uma turma e não adaptadas à outra, que os meus métodos de trabalho sejam propícios ao êxito de um certo tipo de alunos e não ao êxito de outro tipo. E o mais provável é que assim seja.
E tenho pensado muito nisso. Não vejo, porém, como posso, em consciência, deixar de trabalhar – e exigir – com os meus alunos mais fracos uma melhoria de competências que lhes faltam mas que lhes serão necessárias no futuro.
Já não estou convencido de que as competências mais necessárias passem pela resposta a testes formais como aqueles que a escola utiliza para medir e classificar os alunos.

domingo, março 16

 
Balanço do período
Como de costume, recebi a avaliação do que foi o nosso trimestre. A greve da função pública impediu o encontro com uma das duas turmas. Fica aqui uma antologia quase só de uma turma. Desta vez, todos os alunos a entregaram assinada, o que me alegra, por revelar confiança. Mas eu deixo os fragmentos anónimos, entre outras razões porque não tenho autorização dos seus autores.

«Bem, neste período andava um pouco à toa com isto, como que tive bastante medo, no entanto correu bem.»

«Eu gostei deste período, mas acho que no outro tinha mais interesse. A matéria foi engraçada. A forma de dar as aulas do professor é fixe, apesar da minha falta de concentração, por ser a hora de almoço, estar com fome, entre outras coisas que não vale a pena dizer.»

«A turma tem muitas negas porque há uma série de pessoas que estão sempre a desconcentrar os outros, talvez por serem demasiado “cachopos” ainda, mas se o professor mandar para a rua chega ao fim da aula não tem lá ninguém. Há aí uns quatro ou cinco que estão sempre a desestabilizar.»

«O balanço que posso fazer a esta disciplina é o mais negativo em todo o meu percurso escolar, quer nesta escola, quer nas anteriores. As notas foram miseráveis e vergonhosas, visto eu não atinar com esta disciplina (...). Decido anulá-la e continuar o meu percurso escolar sem esta disciplina (...). Todavia vou esperar até ao próximo teste para ver se recupero deste terrível choque emocional(...).»

«As aulas são difíceis, pois são aulas que antecedem o almoço, o que me faz ficar mais confuso ainda.»

«Ao longo deste percurso colectivo, eu sinto que a carruagem foi-se perdendo. O desinteresse aumentou e não houve quem parasse dois minutos para pensar na situação negativa em que se encontrava.»

«Neste período gostei da matéria. No primeiro teste, que me correu um pouco mal, tive má nota, porque não me esforcei o suficiente. No segundo teste, (...) em que me esforcei mais, consegui atingir uma nota que me agradou mais, mas que com esforço pode subir um pouco até à minha nota ideal.»

«No segundo período, na disciplina de filosofia, o meu desempenho foi fraquíssimo. Não obtive boas notas, não entendi a matéria e não estudei o suficiente. Devia ter estudado mais, prestado mais atenção e ter-me esforçado mais. O que também não ajudou foi a matéria. Não gostei dela, e não me senti motivado nesta disciplina.»

«Não me sinto motivado e uma certa monotonia que existe nas aulas não contribui para o sucesso. Não sei que mais se possa fazer, visto que a estrutura das aulas foi ligeiramente alterada, mas continuam a ser pouco cativantes. Além disso, o barulho que existe nas aulas também não ajuda.»

«Para melhorar a filosofia, tenho em primeiro lugar de aprender a gostar de filosofia e a incentivar-me a mim próprio para estudar mais filosofia.»

«Os testes foram sempre perto da positiva, tento perceber a filosofia, mas não vou muito “à bola” com a filosofia. Acho que as aulas são uma “seca” em termos de matéria, já que o professor tenta ajudar para que a matéria fique escrita “pelo lado de dentro da cabeça”.»

«Durante este trimestre tenho a consciência que consegui compreender melhor a matéria. Pessoalmente acho que consegui interiorizar melhor alguns conceitos. Gostei mais das aulas deste segundo período, talvez por a matéria interessar-me mais ou pelo facto de tentar colaborar um pouco mais. Apesar das minhas notas ainda serem de nível negativo, tenho consciência de que trabalhei e investi um pouco mais do que noperíodo passado.»

«... decididamente, não vou estudar mais para os testes. Quando estudo, as notas dos testes são bem piores comparadas com quando não estudo. Provavelmente porque me baralho a estudar.»

«Achei a ideia da exposição bastante interessante, foi uma maneira divertida de jogar com a filosofia.»

«As más notas continuam a existir, mas isso não é culpa do professor, é culpa dos alunos, que não se empenham o suficiente para as fazer desaparecer.»

«Creio que da minha parte não houve um grande esforço para obter a tão desejada nota. Agora percebo que não vale a pena desistir, se ainda não terminámos.»

«As aulas são boas, o professor tenta puxar pelos alunos, mas parece existir um total desinteresse por parte de quase todos os alunos, não sei a razão dessa desmotivação, mas talvez seja a disciplina em si que não vejo muito cativante para nós.»

«A conversa e a falta de atenção é uma constante nesta disciplina, e parece que se tem vindo a agravar, quando devia estar a acontecer o contrário.»

«Acho que o professor deverá ser mais rígido, apesar de lhe custar e apesar de isso poder ser mau para nós.»

«Acho que, antes de mais, ser professor também significa ser amigo, não querendo dizer que o professor não seja, mas apenas que se dê com todas as pessoas da turma de igual forma, para conseguir ganhar confiança e logo conseguir obter melhores resultados das pessoas.»

«No meu caso apenas quero dizer que estou contente por ter subido as notas, e que as aulas são as melhores que já tive, porque são diferentes, não querendo desvalorizar as outras disciplinas e professores,»

«Este período, em termos gerais, foi melhor. As aulas foram mais dinâmicas. Mas houve uma coisa má, há elementos da turma que não respeitam os outros colegas, e isso chateia-me imenso.»

«Este período também foi divertido, pois fizemos um trabalho de grupo, e esse trabalho foi fascinante, pois nunca tinha feito um trabalho para pôr numa exposição. Eu gostei da experiência, e gostava muito de repeti-la. (...) Para o próximo período, as aulas devem continuar assim, dinâmicas, alegres... Podemos fazer muitos mais trabalhos, pois estes fascinam bastante os alunos, e os alunos gostam.»

«Achei mal os grupos deste período, porque houve grupos de diversas capacidades, grupos com elementos com grandes capacidades e grupos com elementos com pequenas capacidades.»

«Este período correu muito mal. As notas foram más e a única coisa que correu bem foi o trabalho que fizemos para a exposição na Biblioteca. Não trabalhámos, é verdade, mas eu acho que esta matéria não despertou muito interesse, talvez não tenhamos feito para que tivesse, mas é preciso motivação para trabalharmos e se calhar não temos.»

«O facto de o professor nos pôr à vontade para exprimirmos a nossa opinião por vezes confunde-nos mais do que estávamos. A filosofia é interessante, mas muitas vezes (desculpe o termo) torna-se uma seca porque temos de explicar tudo e aprofundar sempre mais.»

«O nosso comportamento na aula é péssimo, mas se a matéria nos chamasse mais a atenção, não era necessário estarmos desatentos. O professor ajuda, e muito, mas isso por vezes não chega.»

«Gostaria que existissem outras técnicas de trabalho mais dinâmicas, porque penso que o comportamento e o aproveitamento poderiam ser melhores. Foi o que aconteceu com o trabalho que fizemos [para a exposição] que, por ser um trabalho dinâmico, interessante e diferente do que habitualmente fazemos, houve mais interesse por parte de todos, mais empenho e isso fez com que fizéssemos um bom trabalho.»

«O segundo teste correu mal, como não poderia deixar de ser, pois nem me lembro de ter dado a moral, por isso pouco estudei.»

«Notei que estive mais atenta este trimestre, salvo certas excepções.»
«A matéria deste período até é bastante interessante, mas acho que nas aulas não há debate de ideias, ninguém fala, não há contraste de ideias, discussões e questionar de ideias. A matéria faz-nos pensar, e muito, na sociedade em que vivemos. Mas acho também que estamos quase todos muito desalentados com as notas, o que nos faz perder o ânimo.»

«Acho que umas aulas na rua, num bom dia solarengo, podiam ajudar bastante, pois cativavam o nosso interesse e o sol desperta-nos os sentidos, o pensamento.»

«Foi um período interessante e as aulas foram boas de uma maneira geral. Oprofessor sabe dar a matéria de uma maneira tão especial que é quase impossível não o estar a ouvir.»

«Quanto a mim, tento fazer o melhor que posso, embora às vezes a preguiça seja mais forte que eu e as minhas respostas sejam “diarreia mental”, como diz o professor.»
«Ao longo deste período, não tenho prestado muita atenção, tenho estudado pouco e [tido] muita preguiça.»

«... baixei imenso a minha nota em vez de a levantar, isto porque perdi o interesse por esta disciplina, mas com isto perdi imenso, pois não estava com a cabeça na aula, não participava e o meu comportamento não era o melhor, ou seja, este período foi um desastre.»

«Um problema que eu tenho é que quando estudo para os testes, por vezes começo a estudar nas vésperas dos testes.»

«... vou ter negativa no final do período. Penso que não foi falta de estudo ou, se calhar, embora tivesse estudado muito, não foi suficiente. Para melhorar este desastre, tenho de estudar ainda mais e tenho de melhorar a minha escrita, ou seja, tenho de fazer respostas mais elaboradas e completas.»

«A filosofia está a tornar-se um ponto muito fraco nas minhas notas, está a baixar-me muito a média.»

«Fiquei um pouco desiludida comigo este período porque estava confiante que iria conseguir tirar melhores resultados e no entanto só baixei as notas. Isto deve-se a não estudar o suficiente, mas também à pressão que sinto da escola, porque são muitas coisas ao mesmo tempo (testes, trabalhos para apresentar, etc.) e às vezes estas coisas no mesmo dia. A verdade é que andava um pouco cansada e desmotivada e os últimos já não saíram nada de jeito e parecia que quanto mais tempo estudava, menos sabia, não conseguia concentrar-me... (...) Até neste simples texto não consigo concentrar-me e explicar-me como deve ser.»

Na outra turma, os textos recebidos foram ainda poucos.

«Descobri que ajudar os meus colegas e principalmente o meu colega de carteira é um excelente método para eu própria perceber algumas coisas. Obrigando-me a encontrar formas simples de explicar as coisas, estou eu própria a desenvolver uma melhor compreensão sobre aquele assunto em particular.»

«Gostei mais deste trimestre do que o passado. Primeiro porque a matéria é bastante mais interessante do que a anterior e há mais temas relacionados com elas sobre os quais se pode reflectir e debater. Acho que só agora é que começámos a ver o que é que é realmente Filosofia e filosofar.»

«... enquanto que, no período passado o barulho prejudicava, por vezes, o normal funcionamento da aula, tal já não aconteceu com tanta frequência este período. Por isso, os nossos colegas estão de parabéns.»

«... ao longo do 2º período realizámos trabalhos bastante interessantes nesta disciplina, dos quais, obviamente, se destaca a exposição que realizámos na biblioteca municipal. Para além dos trabalhos realizados penso que as aulas continuam a ser divertidas e interessantes.»

«... outro aspecto positivo é o facto de, pelo menos no meu caso, já não ir tão nervosa como ia para os testes no 1º período.»

«... fiquei um pouco aborrecida porque não pude apresentar tantos textos quanto os que eu queria a propósito da matéria da ética, política e moral, uma vez que nas últimas semanas de aulas tivemos uma grande sobrecarga de testes.»

«A avaliação das aulas ao longo do ano lectivo? é 20. Gosto bastante destas aulas, fazem-me pensar de uma forma que nunca tinha pensado antes.»

«Achei estas aulas tão interessantes como as outras, continuo a gostar da maneira de dar aulas do professor e também continuo a tirar boas notas. É certo que a curiosidade inicial que senti já passou quase completamente, mas continuo entusiasmada com a disciplina, embora existam matérias e aulas que menos me agradam. A única critica que tenho a fazer é que em certas alturas das aulas se cria um certo burburinho na sala que impede a minha concentração e certamente a dos meus colegas.»

«Quanto mais estudo os resultados são piores, eu sei a matéria mas quando chego ao teste, já não percebo nada. Eu consigo acompanhar as aulas e tudo, o problema é depois nos testes. Com os resultados que eu tenho tido nos testes não me sinto muito motivada. Gostei muito de realizar o trabalho de grupo exposto na biblioteca.»
 
Cultura - Valores
Todos nós crescemos num determinado sítio, numa dada cultura, e isso faz com que a adoptemos e respeitemos.
Eu, Patrícia, nasci em Portugal, mais precisamente em Abrantes. Aí, os meus pais fizeram-me crescer, ajudaram-me a crescer, e eu hoje agradeço-lhes por isso.
Era, sim, o dever deles, mas existem certos pais que trazem os filhos ao mundo e depois não se preocupam mais, a isso chamemos de pais "irresponsáveis".Os meus não são assim, tive sorte. Eles ensinaram-me tanta coisa, assim fizeram-me o que sou, como sou! Tenho valores e, sim, tenho-os bem definidos !
Valores e cultura. Estes não se podem separar, isto é, os valores nasceram da cultura, e para mim, viver aqui em Portugal, sem ter os meus valores, quer positivos, quer negativos, não faria sentido. Se me perguntassem:
- Patrícia, quais os teus valores ? Eu iria ficar mesmo à toa, pois quem não tem valores, não tem mais nada. Os valores são a base de toda a cultura.
Sem valores, existir uma cultura era mesmo a dimensão de não existir, isto é, sem valores não poderá existir cultura.
Muitas pessoas, que ainda estão no começo desta "barca", possivelmente não sabem bem definir isto de valor, mas com o tempo vão-se adaptando, como nós nos adaptamos a estudar Filosofia, como nós aprendemos a interpretar Filosofia, estas pessoas também se vão adaptando aos valores, a perceber os valores.
Eu sei bem o que é isto de se adaptar, porque no início, e como disse antes, não sabia mesmo nada disto. Andava ali à toa, tentando perceber, até que comecei a adaptar-me e a partir dai a perceber melhor tudo isto. Com o tempo, foi o tempo... Só o tempo o dirá!
Hoje tenho mais ideia do que é isto tudo de valores. E sim, já sei responder a determinadas perguntas como:
- O que são valores ?- São importantes ?- E indispensáveis, são?
Eu, claramente, já sei bem, ou pelo menos, melhor do que no princípio responder a isto.
Os valores, para mim, e tenho a certeza que para toda a sociedade, são importantes. Sei que sem os valores nem tudo seria assim. Existiram relações muito diferentes.
Gosto imenso, e orgulho-me mesmo, de ter os meus próprios valores, pois eles são tão importantes para mim, e também influenciam as minhas atitudes.
Sem ter valores poderia tomar quaisquer decisões que me pudessem prejudicar, não só a mim, mas também às pessoas que me rodeiam. Os valores... Com os valores, as coisas não são assim, tomamos decisões, mas antes disso, pensamos e reflectimos sobre o que é melhor. Podemos dizer, repensar e voltar a dizer: os valores, sem dúvida, são mesmo importantes!
Mas também estes valores podem levar a determinadas coisas e atitudes por parte das pessoas de cada cultura, como aquelas pessoas que inferiorizam as outras culturas e vêem só a sua no topo do mundo, o etnocentrismo, que pode levar ao racismo ou xenofobia, atitudes não muito positivas para a sociedade. E ao contrário do etnocentrismo está o relativismo cultural, este que respeita as outras culturas, os valores destas, e que ao contrário do etnocentrismo, não põe a sua no topo de tudo.
Apesar disto, os valores são muito importantes para todo o mundo, eles fazem parte de todo o nosso dia a dia. Cada pessoa tem os seus valores, cumprindo-os e respeitando-os !
Podemos então, a partir daqui dizer que os valores são muito importantes para qualquer cultura, são essenciais. Sem valores tudo era muito diferente !
VALORES. Todos têm os seus valores, e sem eles, a cultura não era possível existir.
Patrícia Matos, 10ºD
 
"O Homem é um ser práxico!"
Nunca tinha ouvido falar nesta frase, até.... entrar para a sala 46 da ESDMF em Abrantes, onde o professor Jana, no-la explicou !
Um ser práxico? Um ser práxico? O que é isso de o homem ser um ser práxico? Eram estas as perguntas que nos ocorriam na altura e desatávamos a fazê-las ao professor.
Nunca tínhamos ouvido isto, ou então se já a tivéssemos ouvido, não nos lembrávamos.
Ainda me lembro claramente de quando pela primeira vez me dei conta exactamente do que era um ser práxico. Ainda me lembro bem de que estava a meio de um teste, e lá o professor tinha colocado uma pergunta que dizia "O Homem é um ser práxico! O que quer dizer esta afirmação?"
Lembro-me bem de que fiquei mesmo à toa com isto, ou não tinha estado com atenção na aula ou tinha faltado, acho mesmo que foi a primeira hipótese... fiquei tão chateada porque pensei logo que iria ter uma má nota devido a não saber a resposta a essa pergunta. Sei que foi uma atitude, sei lá, estranha, mas sei e lembro-me bem do quanto custou.
O teste continuou, e fi-lo, deixando apenas aquela pergunta em branco. Comecei a fazer as outras para ver se me lembrava então daquela resposta, mas a resposta não me ocorreu. Então decidi mesmoescrever qualquer coisa que para mim parecia fazer mais sentido, pois eu sabia que mais valia tentar do que não fazer nada. Como dizemos sempre, "Quem não arrisca, não petisca!". Naquele caso, eu arrisquei mas não petisquei, pois aquilo que escrevi estava mal.
Muita gente errou aquilo, lembro-me vagamente disso e também me lembro de que na aula a seguir o professor pediu essa resposta numa folha à parte. Eu não me lembrava mesmo, não fui ver à Internet, no livro não encontrei nada. Estava completamente "lixada". Mas foi aí que ouvi um colega meu a dizer o que pensava que era, pois ele é repetente, e de certeza que sabia explicar-se nessa questão melhor que eu. Lembro-me exactamente da resposta dele, pois eu pedi para ele repetir, e escrevi-a logo numa folha. "O Homem é um ser práxico.. O Homem faz-se por si próprio!", esta, sim, foi a resposta exacta dele. Fazia sentido.
Noutras aulas o professor voltou a explicar-nos isso, e a partir dai percebi melhor aquela expressão, que nas aulas é muito mas mesmo muito usada pelo professor."O Homem é um ser práxico!". Com as aulas, com o passar do tempo fiquei a entender isso melhor, e agora sim, posso explicá-la, da forma que eu a vejo, da forma como sei o que ela é.
Esta afirmação que muitas vezes é dita pelo professor nas aulas, e também em muitas matérias do livro, acaba por estar sempre presente, e de certo modo, é uma afirmação completamente certa, pois o homem faz-se por si próprio, isto é: Quando nascemos, nascemos sem saber fazer nada, apenas chorar e dar pontapés, visto que é das únicas coisas que fazemos mais e exactamente bem... Os dias vão passando e crescemos... Muitas das pessoas que nos são próximas, mais velhas, tentam-nos ensinar muitas coisas, mas nem tudo o que nos ensinam é principal... Os professores, os pais, os tios, os vizinhos, muitas pessoas nos dizem e nos vão ensinando coisas, diversas coisas, mas essas tais pessoas, não são elas que agem por nós, não são elas que usam a nossa cabeça, enfim, não são elas que fazem a nossa vida andar. O ser humano, o homem terá de agir para saber o que para ele é melhor e pior, porque o que pode ser bom para o João, pode não ser bom para nós. Logo o homem tem de agir, tem de tentar, e arriscar.
O homem passa a maior parte da vida a tentar, todos os dias toma decisões. Todos os dias se faz... passa por diversos processos, passa por diversas características, passa por diversas aventuras, cansaços, problemas. O homem durante toda a sua vida toma decisões, todos os dias aprende, pela positiva ou negativa... E sim, a expressão que aqui estamos a abordar é verdadeira. O homem é um ser práxico, faz-se por si próprio, todos os dias... a toda a hora !
Patrícia Matos, 10ºD
 
Liberdade
Tenho 15 anos! Já me senti presa, já me senti triste, já me senti distante, já me senti feliz, já me senti livre. E então ?Sou livre? Posso fazer tudo o que eu quero? Tenho a liberdade que quero? Tenho-a? Então e a responsabilidade? Caminha ao meu lado!?Quando falamos em liberdade, em especial os adolescentes, pensamos logo: "Sou livre... Tenho liberdade... logo posso fazer tudo o que eu quero!". Mas como bem sabemos, não é bem assim. Existem certos condicionalismos.Todos sabemos que desde o 25 de Abril de 1974, em Portugal instaurou-se a liberdade.
Mas, e então? É devido a isto que podemos fazer tudo o que desejamos e queremos!? É claro que a resposta é “não”, sem quaisquer dúvidas! A liberdade existe, mas como disse antes, ela traz diversos condicionalismos ao seu lado.
Eu lembro-me bem de muitos episódios da minha infância, da minha adolescência, do meu crescimento.Lembro-me tão bem de todas as vezes em que queria ter a liberdade completa e não a podia ter! Lembro-me de tantas vezes que queria ter tudo o que desejava, sem pensar em nada, nos seus condicionalismos, na responsabilidade.
Lembro-me, exactamente, de todas as vezes em que ia com os meus pais a qualquer sítio e queria trazer tudo para casa, não me importando, na altura, se eles tinham posses ou não, e também me lembro de quando queria ir com as minhas primas ou amigas a qualquer sítio e eles não me deixavam !
Hoje quando me lembro disso, sinceramente não consigo perceber... mas também o que há para perceber ? Acho que não, nada! Afinal, somos adolescentes, estamos a crescer! Fazemo-lo, aprendendo todos os dias!
Sei que, quando somos crianças, o que mais queremos na vida é ser livres, poder ir para as discotecas, bares, de que tanto os adultos falam, queremos crescer, crescer, o mais rápido possível.
Mas a liberdade não é apenas sair, apenas escrever, apenas podermos sair à rua e argumentar, dar a nossa opinião.
É isto, mas também algo mais. Pois qualquer coisa que façamos, temos de incluir nela estes tais condicionantes e também a liberdade, pois se saíssemos à rua com uma "raiva" imensa de alguém, e nos apetecesse matar essa pessoa, não o podíamos fazer assim. Somos livres, sim. E então? Matar está incluído na nossa liberdade? Claro que não. Quem mata por matar não é responsável, então logo não pode estar associado à liberdade.
Se assim fosse, saíamos à rua e nunca estávamos descansados, pois há sempre alguém que não vai com a nossa cara, não gosta de nós. Então isto quer dizer que não estaríamos protegidos, podíamos ser atacados a qualquer altura. Logo não existiria a liberdade !
Por isto tudo, os condicionalismo, a responsabilidade, têm de estar sempre associados à liberdade, porque sem estes, a liberdade não é possível, não é certa, não é correcta.
Patrícia Matos, 10ºD
 
Filosofia
"Um começo sem fim ... Um começo para a vida !"

O que será isto de Filosofia ?
Será que existirá uma resposta mínima, simples ?
Ainda me lembro bem de quando iniciámos esta "nova" disciplina. Lembro-me bem de muitas das explicações do professor Jana, de todos os textos que ele nos mandava fazer, com o intuito, penso eu, de nos adaptarmos àquilo, de tentarmos perceber melhor, de nos expressarmos melhor, de sermos mais espontâneos na organização das nossas ideias.
No início do ano, quando entrei para esta nova escola, para um ciclo novo da minha vida, confesso que me senti meio à toa com isto tudo, e também a disciplina de Filosofia contribuiu para que isso acontecesse. Nunca tinha tido esta disciplina, nunca tinha ouvido falar, não fazia mesmo a mínima do que era isto.
Simplesmente era um novo desafio... um novo desafio, em que ou eu entrava e caminhava, ou parava e ficava a olhar os outros caminhar.
Então eu decidi optar pela primeira hipótese, porque nunca fui de desistir à primeira, e também porque nem tudo o que é novo e diferente pode ser mau.
Pensava diversas vezes porque será que esta disciplina existia, tentava perceber o porquê de isto, nesta altura, ter aparecido na minha vida ... mas resposta não alcançava.Também ainda estava no início. O que queria ? Chegar ali e fazer logo tudo à primeira? Sim, dizendo bem, queria. Mas como o provérbio diz: "Nem tudo o que queremos, podemos!". Aqui podemos dizer o mesmo. O desejo de todos nós era chegar ali e conseguir perceber e fazer tudo, mas não foi, não é assim.
A evolução acontece sempre! E também comigo aconteceu. Tenho a noção de que evoluí muito desde o primeiro dia, até hoje. Tenho aprendido todos os dias mais e mais, e sei que isso se nota .. no empenho, esforço, em tudo.
Com o passar do tempo, eu percebi qual era realmente o significado de Filosofia, para que ela serve nas nossas vidas, e também de que maneira contribui para o nosso desenvolvimento, felicidade.Hoje, se me perguntarem:
- Patrícia sabes o que é a Filosofia? Sabes para que serve? Sabes para que cotribui ? Ajuda, não ajuda ?
Vou responder de maneira clara, dizendo exactamente o que acho, dizendo apenas uma palavra, mas com convicção... "SIM... de todo, já me sei exprimir correctamente !"
Filosofia! Filosofar! Antes de ter entrado nesta " barca", nunca tinha pensado em nada deste género, mas agora que penso, sei que faz mesmo sentido.
Quando pensamos... argumentamos? Sim. Exemplo disso são as perguntas dos testes. Quando os professores as fazem e de seguida pedem para justificar. Logo, estamos a argumentar.Estamos a dizer o que achamos e porque achamos aquilo, logo estamos a dar a nossa opinião.
Hoje sei que a Filosofia tem uma forte, melhor dizendo, essencial importância, na nossa vida, isto é, a Filosofia, à medida que a aprendemos, baseamo-nos sempre nela, para tudo. Ela está e acaba sempre por estar presente na nossa vida, em todos os segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, vida.
Muitas pessoas não entendem o que ela contribui para o nosso desenvolvimento, para a nossa formação, educação, e muitas mais coisas importantes. Eu acho que a Filosofia já se tornou indispensável, pois ela em toda a gente provoca um efeito somente diferente, isto é, faz com que nos libertemos, faz com que nos sintamos melhor, faz com que consigamos dizer coisas, fazer coisas, que antes de a Filosofia aparecer, nem sob poder do rei o conseguíamos fazer.
Posso dizer que hoje me sinto mais liberta em relação a isto, sei que hoje me sei exprimir muito melhor, sei que hoje não tenho medo. Como o professor Jana diz sempre "Diz, não importa que esteja mal, pelo menos tenta. É a tentar e a errar que se aprende!" . O professor Jana tem muita razão, há que agir, há que tentar, há que arriscar. A Filosofia, o filosofar, podemos bem dizer que serve, é importante para quem lhe dá valor, sim, torna-se e acabará sempre por tornar-se essencial ! FILOSOFIA muda as pessoas, FILOSOFIA faz-nos mudar... para melhor !
Patrícia Matos, 10º D
 
Liberdade
Outra mudança, em mim devido ao meu professor, à Filosofia e também ao desenvolvimento do meu pensamento, foi os pensamentos sobre a Liberdade… Anteriormente a isto, não tinha dúvidas de que cada pessoa fazia o que queria, porque cada pessoa tem as suas próprias escolhas (não tinha pensado sequer nos chamados condicionantes)… Agora a minha opinião relativamente a isso está mudada… É impossível o ser humano fazer tudo o que quer.
Em primeiro lugar, o ser humano tem competências para querer, mas por vezes não tem competências para fazer devido às “condicionantes”… Por exemplo, um velhinho que quase não se consegue levantar da cama, pode querer fazer o pino, mas é muito provável que não o consiga fazer, devido às condicionantes da seu estado como ser humano que lhe condicionaram muitas capacidades que antes certamente possuía. Por isto, também agora sei que nem tudo o que quero posso fazer.
Mas há outras que quero e que conseguirei, certamente, alcançar com esforço e com responsabilidade, porque também a responsabilidade, como os valores, são condicionantes à Liberdade, estão interligados com a ela. Para eu agir de determinada maneira, terei que ter em atenção se o resultado dessa minha acção irá prejudicar outro ser humano ou a natureza… Para isso existe a responsabilidade… e os valores, que me condicionam também nas minhas opções, na minha liberdade de escolha, porque se eu quero ir pelo caminho “A” é porque esse caminho terá a ver mais com os meus valores do que optar pelo caminho “B”. Logo posso afirmar que as minhas escolhas estão sempre condicionadas pelos outros e pela minha sociedade.
Há um tempo atrás sei que era impossível escrever este texto, porque não tinha filosofia nem o professor Jana, logo aí está uma condicionante, à escrita deste texto. Assim percebemos que cada dia que passa aprendemos uma nova coisa, ontem não sabia, hoje já sei, mas amanhã ainda irei saber mais, e no outro dia também, até ao fim...
”Só sei que nada sei” Sócrates, filósofo grego.
Vânia Raimundo, 10ºC
 
Filosofia
Há um ano atrás, ainda não tinha a disciplina de Filosofia (nem sequer sabia o que essa disciplina nos ensinava!). Quando tive a primeira aula de filosofia, lembro-me do primeiro texto que o nosso professor, Jana, nos deu para lermos e disse para o lermos quantas vezes fossem precisas. Acho que o li umas 5 vezes, mas a verdade é que não estava a perceber nada, fiquei um pouco confusa … Mas tenho a certeza que a intenção do professor era mesmo confundir-nos, tal como se passava no texto.
Depois de ter lido o texto umas cinco vezes ainda não tinha percebido. Para quê estarmos a ler um texto de um miúdo que esteve três dias a olhar para um peixe?! (sim foi esta a pergunta que eu fiz a mim mesma naquele momento)… A verdade é que aquele era o meu primeiro contacto com a filosofia… Mas depois de insistir no texto, naquela disciplina e tentar perceber a sua lógica (apesar dos meus pensamentos confusos sobre tudo aquilo lá cheguei, eu percebi que o intuito do texto não era saber como era o peixe (numa aula de filosofia não íamos estar a estudar a constituição dos peixes, certamente, pensei eu..), era desenvolver os princípios fundamentais da filosofia, que hoje para mim são muito claros: “observar muitas vezes as coisas e chegar à sua radicalidade para tentar compreender a verdade, pensar com a nossa própria mente sem nos deixarmos influenciar por outros seres humanos, ter o nosso próprio ponto de vista”.
Aquele texto fez-me pensar verdadeiramente que o que vemos por uma vez, pode não ser a verdade, temos que investigar mais, pensar e olhar para tentar compreender a sua origem. A verdade é que antes de ter filosofia (sim, já pensava um pouco por mim… não o suficiente mas pensava… ainda bem!!!!) deixava-me influenciar muito pelo pensamento dos outros, limitava-me a interiorizar muitas coisas que tinha visto e que interiorizava facilmente, porque não achava que estava errado. Não achava porque nem sequer pensava nelas. Agora esse “não pensar” faz-me confusão, custa-me a acreditar que, realmente não pensava!.. O meu cérebro devia de ter algum botão em que carregavam que dizia “carrega e terás toda a razão”.
Hoje acho que já não o tenho, de certeza, porque tenho-me tornado numa pessoa tão crítica, que até crítico muitas das minhas acções e porque as fiz (mas quase sempre levo tempo até obter resposta) e em coisas que dantes “me passavam mesmo ao lado e, eu não as via”. Agora percebo o texto que recebi na primeira aula de filosofia e a intenção do professor Agassiz [do texto] e do professor Jana. Por exemplo, quando era mais pequena ouvia histórias da formação do mundo e considerava-as verdadeiras, mas as aulas de filosofia do professor Jana, fizeram-me pensar…Como podem as pessoas afirmar que o mundo começou de uma ou de outra maneira, se dizem também que nessa altura Deus ainda não tinha criado o Homem? Acho, agora, esses pensamentos contraditórios.
Desde pequena, que a minha mãe insistiu em colocar-me na catequese e levar-me à missa (nunca a contrariei e até acho que ela fez bem, é mais uma experiência para o meu currículo da vida...), lá ouço as histórias da Bíblia que, achava verídicas. No entanto, agora penso e duvido se será que são… Acho que ninguém sabe, só há pessoas que se limitam a seguir os dogmas de uma religião, que desde sempre interiorizaram, devido às pessoas à sua volta e à sua sociedade que também já os tinha interiorizado das gerações anteriores.
Mas se muitas dessas pessoas tivessem estudado a disciplina que “faz pensar”, tenho a certeza que muitos dogmas iriam desaparecer. Agora percebo o porquê do texto de “um peixe” numa aula de filosofia.
Vânia Raimundo, 10ºC
 
Etnocentrismo
Desde que o stor Jana me explicou o que era «etnocentrismo», que eu percebi que vivia num mundo estranho. Há 15 anos que vivo nele e nunca tinha tomado realmente consciência. Estou a falar nas pessoas racistas, xenófobas… Sim, decerto tem a ver com aquilo que o Stor Jana explicou também nas suas aulas (que somos muito influenciáveis pela nossa sociedade, desde pequenos). Isso leva-me a pensar que até à adolescência não somos muito “racionais”, porque até essa altura não “pensamos”, por nós. Mas por falar nisto, lembro-me que quando era mais nova acreditava muito no que me diziam (os miúdos são mesmo ingénuos)! Mas o facto é que consegui distinguir sempre o bem do mal, nunca me deixei levar pelos preconceitos… Sempre me ensinaram que o mundo era diferente e que ninguém era igual, por isso cada ser humano tinha que respeitar cada ser humano e ser respeitado também. No entanto, sei que há culturas que não aceitam outras (denomina-se de etnocentrismo). Não posso criticar essas culturas porque nunca “convivi” com elas, mas o facto é que não concordo… mas respeito! Não concordo porque agora sei que a partir da adolescência é que começamos a pensar. No entanto, sei que existem pessoas que já passaram essa fase e não pensam por si próprias… Se calhar é por nunca tiveram filosofia (sim, porque a filosofia faz-nos ver o que realmente é, e não o que faz de conta ser)! Outro facto notável na sociedade são aqueles que acham ser “superiores”, por isso interiorizam estes preconceitos que dão origem a catástrofes na vida dos seres humanos… Alguns seres humanos “começaram a pensar por si” e conseguiram [fazer] evoluir o mundo para melhor, no entanto ainda há aquelas que insistem em ficar na “pré-história”. Se o mundo fosse formado de seres humanos civilizados, seria bem melhor. Às vezes vejo coisas que, infelizmente, passaram e passam na minha vida e, sinceramente, não percebo o que leva pessoas a agirem de maneiras menos boas, só porque convivem com pessoas de uma cor diferente, maneira de vestir diferente, uma língua diferente da sua ou mesmo por terem culturas e hábitos diferentes. O ser humano tem o de dever de respeitar e o direito de ser respeitado, mas essa ideologia, na prática, não é cumprida por muitos. Gostaria que o meu mundo mudasse para melhor, para um mundo mais justo e unido.
Vânia Raimundo, 10ºC
 
E, no entanto...
Não podemos dizer que tudo se reduz a nada.
Entre esta minha anterior reflexão e o “balanço” que se segue, deixo alguns textos de duas alunas desta turma mais fraca. Há alguns dias que mos entregaram para publicação, mas a sobrecarga destes dias atrasaram a tarefa.
São, é claro, o resultado de uma primeira escrita, um assinalar meu de deficiências a corrigir, uma correcção da parte das autoras, e uma última correcção de pormenores da minha parte. Mas o mais importante não é tanto produto ou como se chegou de facto a ele, mas aquilo que está por detrás: os processos reais do que se passa com os alunos, com alguns alunos, o que a filosofia faz para lá do alcance dos nosso solhos. Neste caso com duas alunas que gostam de escrever e o fazem por sua iniciativa.É ainda oportunidade para referir de novo que o sucesso destes textos ou da forma de chegar a estes textos não tem nada a ver com o insucesso das respostas dos testes.
 
Os resultados
As notas dos testes vêm a reforçar a dupla linha de evolução: uma turma com bons resultados e outra com maus, cada vez piores.
Nem eles nem eu conseguimos inverter esta segunda linha.
Muito naturalmente, as dificuldades lectivas vão sendo maiores, os temas mais abstractos, a exigência de rigor maior... Mas eles não conseguem.
As razões destes maus resultados, se bem entendo, são diversas: falta de estudo nuns casos, dificuldade de atenção noutros, enorme dificuldade de ler e entender noutros, enormes problemas de escrita ainda noutros... E, em geral, uma escrita sem controlo de qualidade que torna o texto sem valor de conteúdo e um método de trabalho intelectual sobretudo reprodutivo, que consiste sobretudo em decorar frases para “pôr no teste”.
Alguns têm grande dificuldade de prestar atenção e em acompanhar um raciocínio e, por isso, em atingir um conceito abstracto. Mas, se eu insisto no esclarecimento, já estão fartos e é-lhes difícil acompanhar o processo. Chega a acontecer um deles fazer uma pergunta e já não está com atenção à resposta.
Muitos, numa turma de letras, não conseguem escrever mais que duas ou três linhas de nível elementar.
A verdade é que eu não sei como resolver estes problemas... que me atrevo a dizer que não podem ser resolvidos com os recursos que tenho à disposição.
Depois, há um problema de base. Para utilizar a expressão que vem de trás, os seus estilos de vida não passam pela disciplina de filosofia, pelos seus conteúdos, sequer pelos problemas que aqui se tratam. Mesmo que os temas sejam colocados de forma quase directa: por que razão devo eu dar-vos notas justas?
Nesta turma mais fraca, onde o ambiente é de desinteresse e de não trabalho, os resultados têm baixado. Na outra, o ambiente é de mais concentração e de conseguir resultados, por isso estamos a obter resultados bastante interessantes.
 
A querela - 4
Mas não fiquei contente. Nem convencido comigo. Nem percebia bem porquê.
Ao reflectir sobre o tema, dei-me conta de que talvez tenha sido injusto.
É uma turma que, em grande parte, é constituída por alunos que vêm de meios difíceis. Talvez eles estejam a fazer um enorme esforço para sair da origem e chegar a níveis que lhes exigem um esforço difícil, porque acima das suas possibilidades. Talvez esse “cumprir as normas da sociedade” seja, afinal, a única libertação que, no momento, lhes interessa. E talvez a única que esteja ao seu alcance.Que sei eu deste tempo de hoje e das suas dificuldades?
 
A querela - 3
Voltei à carga. Que é que se passou?
- Então o professor mandou escrever e nós escrevemos.
- E se eu vos mandasse atirarem-se para um poço, também iam? Então vocês escrevem tudo aquilo que alguém vos dita e depois escrevem o vosso nome por baixo, mesmo sem concordarem com isso? Só porque vos dizem para escrever? E andamos nós aqui a dizer há quase meio ano a importância do espírito crítico, a necessidade de pensar, e até que pensar é dizer não...
O meu objectivo, é claro, foi interpelá-los para a autonomia do pensar, para a liberdade de espírito.
 
A querela - 2
Em casa, ao ler os trabalhos, passei-me.
Então não é que quase todos os alunos tinham terminado a sua folha com “mas a única solução é mesmo cumprir as normas da sociedade”?
 
A querela - 1
Nesta semana, numa das turmas, por acaso (?) a mais fraca das duas, decidi fazer um exercício. Os textos dos alunos denotavam, na generalidade, aquilo a que eu chamaria de conformismo. Uma insistência continuada na ideia simples de que “viver bem é cumprir as normas sociais”.
Posto o assunto à discussão, insistiram nessa perspectiva. Então, mandei-os pegar numa folha e escrever “quais as principais coisas que estão mal na sociedade”. Depois de terem escrito, pedi-lhes que escrevessem “o que pode ser feito para mudar o que está mal”. Após este segundo momento, voltei a colocar à discussão se viver bem era sempre “cumprir as normas da sociedade”. Que sim, que é preciso cumprir as normas, etc.
No aceso da discussão, disse em tom provocatório “então se é assim, depois de terem escrito o que está mal e o que pode ser feito, escrevam : mas a única solução é mesmo cumprir as normas da sociedade”.
 
Estilo de vida - 2
«Eu até estive para ir ao colóquio, mas devido ao estilo de vida que tenho, não pude comparecer. Por isso, acho que é desnecessário esse post
Trata-se, da confirmação do que eu afirmei.
Contudo, que fique claro, não fiz qualquer juízo de valor sobre aqueles que foram e os que não foram. (Nem sequer digo que “faltaram”.)
Houve os que foram, os que quiseram ir mas não foram, e os que nem sequer quiseram ir. Mas quem sou eu para julgar as vidas dos outros? Quanto mais as vidas que desconheço!
Contudo, creio ter o dever de chamar a atenção – tanto dos estudantes como dos pais - para esta relação entre o “estilo de vida” e os “resultados da vida” que se leva.
À primeira vista, parece evidente. Mas não é, de todo. Nós vimos de uma tradição que pensa o espírito ou a alma e a vida intelectual como independente da vida física e social. Mas tal corte é ilegítimo.
O que somos é o resultado do estilo de vida que levamos e, mais concretamente, dos padrões que se instalam na nossa vida.
E destaco, entre outros, dois padrões principais:
- o padrão do tempo (o modo como gastamos o tempo ao longo do dia)
- o padrão dos pensamentos (aquilo que pensamos).
Quem quer algum objectivo para/na sua vida deve verificar se os seus padrões de vida (a ocupação do tempo e os seus pensamentos) vão nessa direcção. Se não forem, não vale de nada querer aquilo que parece que quer.
Digo “parece”, porque querer, para ser real, tem de traduzir-se em padrões de vida. O resto não é querer, é mais da ordem do “gostava de”.

segunda-feira, março 10

 
Estilo de vida
Diz o senso comum, o tal que «nunca tem razão», que os resultados escolares dependem sobretudo (se não apenas) do esforço que os alunos investem no estudo da disciplina.
Eu cada vez mais penso que a verdade é outra. Os resultados escolares dependem sobretudo do estilo de vida que um aluno faz e este é em grande parte função do estilo de vida que faz a sua família.
Nem creio que as excepções infirmem a regra.
 
Curiosidade
- Estão formalmente convocados e convidados, todos os que puderem e quiserem, para um colóquio sobre Bioética que vai decorrer...
Foi assim que falei aos meus alunos na última aula antes do colóquio.
Foram três. Nada mau.
Mas, curiosamente, esses três são os alunos de mais altos resultados: até ao momento, um de 20 e duas de 19.
Nada acontece por acaso. Nem os resultados escolares, nem as idas a um colóquio.
 
Bioética
Um grupo de alunas lançou-se na louca, mas inteligente aventura de organizar em Abrantes um colóquio de bioética. Bem organizado, teve o sucesso merecido: desde logo, uma sala bem cheia, depois uma conversa interessante e importante, finalmente a evidente satisfação dos que investiram ali o serão de sexta-feira.
Não tenho dúvidas de que aquelas alunas aprenderam muito mais de bioética do que se tivessem apenas estudado muito para o teste. Mas desenvolveram ali competências e realizaram a si mesmas testes que nunca seriam atingidas por qualquer estudo para um teste.
Estão de parabéns, elas e o professor Mário Pissarra que lhes serviu de retaguarda.

domingo, março 9

 
Conquistas
Há alunos que, embora sem resultados à altura do esforço, nunca desistiram. Por isso, começam a aparecer algumas boas surpresas: resultados positivos inesperados face às notas anteriores, mas decorrem do facto de não terem desistido. Mesmo que sejam ainda instáveis.

Dificuldades
«Eu não consigo estar dentro da sala. Mal dou por mim, já ando sei lá onde. Não consigo estar com atenção.»
 
Brinde
No último sábado, fui o convidado pelo Rotary Clube de Abrantes para falar no jantar que aquele clube dedicou aos seus jovens bolseiros. A minha comunicação, que intitulei “A hora da verdade”, agradou. Decidi lê-la aos meus alunos. Se a mensagem pôde ser considerada importante, então queria oferecer-lhes o que talvez tivesse interesse para eles.
A última meia hora da aula de segunda-feira foi para isso. Avisei-os da natureza do texto e nas inevitáveis diferenças de contexto. E parti, sabendo que estava a arriscar um bom bocado.
Tenho a certeza de que gostaram. E tenho a certeza de que são necessárias mensagens deste género.
Se a filosofia é, antes de mais, a procura de respostas, mesmo que teóricas, ao eterno problema “como hei-de viver?”, não é admissível que tenhamos pudor de entrar por esse campo, ainda por mais num tempo em que essa pergunta quem uma intensidade maior. Desde que, é claro, não caiamos na tentação de dizer aos mais novos “como” hão-de eles viver. Também nós, na idade deles, não admitíamos que no-lo dissessem. E não há como responder por alguém.
 
Os testes, os textos
Há muitos anos que me dei conta disso: a inteligência das coisas filosóficas que os meus alunos revelam nos testes é muito diferente daquela que eles revelam nos textos mais livres.
Os testes avaliam um certo tipo de competências. São questões de um certo tipo que exigem respostas de um certo tipo para as quais são necessárias competências de um certo tipo.
Outro tipo de provas exige outro tipo de competências.
Por isso, detesto ver testes, porque vejo sobretudo incapacidades, tantas vezes incompreensíveis, mas gosto de ver textos dos meus alunos (mesmo feitos na aula), porque vejo ali claramente como eles JÁ são capazes de pensar e dizer coisas que até há pouco lhes estariam a milhas de distância.
Por que razão a escola só valoriza (ou valoriza em 70% ou 80%) um certo tipo de competências e não outro?
 
Retoques
Esta é uma semana sem história. Reforço, esclarecimento de dúvidas, clarificação de conceitos, estabelecimento de uma ou outra nova ligação... e avaliação.
O principal dos testes, continuo a pensá-lo, é consistirem num obstáculo que leve os alunos a “estudar para o teste”. Isso obriga-os a um esforço de domínio da matéria que, sem isso, não existiria. Mas há o lado perverso disso mesmo: a grande maioria dos alunos têm interiorizada essa filosofia de “estudar para o teste”. E, nisso, o que se perde é quase tudo: o valor do conhecimento, o facto de ele ser conhecimento do mundo, o carácter decisivo do conhecimento para a acção no mundo, e uma série de outros valores e significados que escorrem por entre os grãos de areia que são os testes.
Não admira, por isso, que até de bons resultados em testes não reste praticamente nada ao fim de pouco tempo. O emblema desta filosofia está na situação que qualquer professor já viveu: - Ó professor, dê cá o teste depressa se não eu esqueço-me.
 
Metodologia de projecto
Digo-o muitas vezes. Andei já 22 anos na escola e, que me lembre, nunca me pediram e nunca fiz um único trabalho de grupo. No entanto, a vida tem-me exigido, com muita frequência, que trabalhe em grupo.
Mas trabalho em grupo não é o mesmo que trabalho de projecto, embora o trabalho de projecto exija o trabalho de equipa.
Sei que não sou bom a utilizar a metodologia de trabalho de projecto, sobretudo porque o meu trabalho tem-se especializado noutra direcção, também importante. Mas isso não implica que eu desvalorize ou sequer abdique daquela metodologia.
O trabalho de projecto em educação escolar tem uma já longa história, desde que foi proposta nos anos 20 por William Kilpatrick até que em1974 na universidade de Aalborg, na Dinamarca, e depois em 1994, na universidade de Twente, na Holanda, conquistou o ensino superior. (A Reforma de Bolonha tem no trabalho de projecto um dos seus eixos mais fundamentais.)
O trabalho de projecto é, portanto, uma alternativa ao ensino tradicional expositivo.
Um projecto começa com um problema significativo para os que o vão agarrar, continua por um processo de planeamento de acção e termina pela execução e avaliação dessa acção no mundo.
Não é necessário dizer mais para nos darmos conta de como a escola portuguesa anda longe desta metodologia. E para suspeitarmos que aí talvez esteja uma das razões por que os seus resultados são tão... pobres.
O trabalho de projecto é multidimensional. O aluno é sujeito do seu trabalho e faz aquilo que, em grupo, resulta da sua decisão sobre algo que sente e pensa como um problema, e isso faz logo uma grande diferença. O seu trabalho mobiliza competências intelectuais, emocionais e relacionais, implica opções estratégicas e uma atenção constante ao real. E poderíamos continuar até... onde este espaço já não permite.

terça-feira, março 4

 
Intercâmbio
Dei notícias à minha colega Lara, do Brasil, da nossa exposição e indiquei-lhe o nosso blogue. Dela recebi esta resposta, que registo como sinal de que as coisas crescem entre e não apenas em: entre os lugares de acção e não apenas nos lugares onde agimos.
«Gostei muito de receber notícias suas e de seus trabalhos. Gostei muito também de visitar seu blog e fico muito agradecida pela referência que faz a mim. Que bom que minha participação no Congresso tenha deixado algo de bom em meus colegas portugueses. Também trouxe muitas experiências e idéias, inclusive, saiba que estou utilizando seu texto com meus alunos da disciplina de prática de ensino de Filosofia, pois sou responsável pela formação dos novos professores e seu texto nos ajuda a pensar a realidade de sala de aula e a necessidade de uma formação cuidadosa dos novos professores.
«É com muito carinho que guardo todos os amigos que aí fiz! Obrigada!»

domingo, março 2

 
Eu, o outro e a instituição
A dimensão ética exige que não se pense apenas nos interesses individuais mas que haja uma preocupação com os interesses dos outros em geral, uma vez que a ética só faz sentido existir devido à nossa relação com os outros. Isto ocorre porque são esses “outros” que nos olham e avaliam.
Assim para que haja uma ordem e um equilíbrio que visa o bem estar de todos existem as instituições que através da política regulam as interacções de modo a que as liberdades individuais sejam respeitadas.
Pode-se concluir que as instituições e os outros condicionam o agir ético de um sujeito.
Raquel Lalanda, 10ºC
 
A dimensão ético-política
Qual a diferença entre ética e moral?
No dia a dia utilizamos estas duas palavras como se de um mesmo conceito se tratasse, no entanto isto não se verifica.
Ética diz respeito à reflexão sobre tudo o que respeita aos valores que orientam a vida do ser humano em sociedade, enquanto que Moral compreende o conjunto de regras e normas que regulam a conduta prática dos Homens.
Pelo facto de o Homem estar vivo tem de estar constantemente a tomar decisões. Ao realizarmos acções humanas, conscientes e voluntárias, nós deliberamos no sentido de tomar uma decisão, que queremos que seja sempre positiva. Isto diz respeito à ética. No entanto, seria muito complicado se o ser humano estivesse constantemente a deliberar no sentido de tomar uma decisão, seria impossível viver deste modo. Por isso é que existem as normas morais, conjunto de regras estabelecidas pelas quais orientamos o nosso agir.
Raquel Lalanda, 10ºC
 
A ideia
- Mas donde te veio a ideia de uma coisa destas?
De três origens distintas. Por um lado, da procura de pistas para novas experiências com os alunos, porque é necessário continuara a experimentar; depois, porque já várias vezes promovi exposições na biblioteca municipal com obras dos meus alunos, tanto da Escola Manuel Fernandes como da ESTA. Finalmente, talvez o contributo maior... Eu conto.
Foi em Novembro, salvo erro, que fui ao Congresso da Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico, onde apresentei duas comunicações. Aí encontrei uma colega brasileira, Lara Ferraz, de Petrópolis, com quem tive oportunidade de trocar preocupações sobre o nosso trabalho e, sobretudo, ouvi-la falar do seu trabalho com os alunos, grande parte deles das favelas do Rio de Janeiro. Em particular da “sua” Feira de Filosofia. Uma iniciativa brilhante, mas que não se me afigurou de realização aqui, pelo menos para este ano. Essa feira resulta de ela pedir aos seus alunos que façam um trabalho ao vivo para apresentarem ao público.
Vai daí... porque não fazer uma exposição? Isso eu já de algum modo sabia fazer. E fizemos. Não com o êxito que a Lara obteve, mas com um êxito à nossa dimensão.
De qualquer forma, Obrigado à Lara.
 
Como foi?
De imediato ficam excertos da avaliação pelos alunos. Primeiro, sobre como fizeram; depois, como avaliam a experiência.
São fragmentos, sem sequência entre si. Vão anónimos, por todas as razões, mais a de que não pedi autorização para publicá-los.
Apenas a pontuação e alguns erros foram corrigidos.
A palavra aos alunos.

«Reunimo-nos várias vezes para discutirmos e decidir o tema do trabalho. Demorou até termos um tema, pois as ideias eram muito diferentes.»

«Começámos por decidir sobre que tema iria ser o nosso trabalho. Decidimos que o que seria mais interessante para nós e para as pessoas que nos iriam ver era a liberdade, nomeadamente as condicionantes físico-biológicas. Juntámo-nos em casa da J. e decidimos como explicar esta matéria de uma forma simples: fazer um prédio com um homem a saltar de um andar elevado.
Começámos por cortar a caixa........
Durante o trabalho ouvimos muita música e comemos o Chocapic todo à J. (ela é uma boa anfitriã).»

«Foi uma experiência única. Começou na aula de filosofia, onde eu não tinha estado presente, no início do segundo período. os meus colegas contaram-me por alto com uma excitação/preocupação incrível os objectivos do trabalho.
Mais tarde, formámos os grupos (...).
Decidimos que um livro em branco seria o melhor para caracterizar a filosofia: podemos pensar tudo, e dizê-lo. Os mais filósofos vêem e aceitam. Mas perguntam: porquê?
Mas esquecemos o livro e decidimos fazer um homem a sério.
Construímo-lo com todos os materiais (e pensamento) possíveis, dividimo-lo em preto e branco, e colorido, (filosófico). Juntámo-nos todos na biblioteca e fizemos a maior "algazarra" de sempre, dobramos o cartão, fizemos bolinhas de jornal, nós em linhas e cordéis, e tudo. E ainda nos mascarámos de árabes ali no meio. Foi muito engraçado e preocupante. No final, cinco estrelas.»

«Acho que foi uma boa experiência e deveríamos repeti-la, pois fez-nos pensar sobre o assunto e puxou um pouco pela criatividade.»

«Foi um trabalho duro (no sentido de nos ter obrigado a puxar pela cabeça), mas acho que a experiência foi boa, principalmente porque para a próxima vez já vamos estar mais aptos a fazer uma exposição.»

«Adorei a experiência, pois nunca tinha exposto nada que tivesse sido da minha autoria (e das minhas companheiras, claro). Espero repeti-la.»

«Foi uma experiência interessante, apesar de poder ter tido muito mais empenho por parte dos elementos do grupo. Não obstante isso, foi uma boa aprendizagem fazer uma reflexão sobre algo que pudesse ser traduzido fisicamente e que ao mesmo tempo fosse apelativo. Gostaria de repetir, e numa próxima experiência chegar a algo melhor.»

«Este trabalho veio para nos sabermos organizar em grupo. Foi um trabalho interessante, demorado, com ele aprendemos mais um pouco da matéria e ficámos orgulhosos por saber que seria apresentado num sítio tão visitado, neste caso a Biblioteca Municipal de Abrantes.»

«Foi um trabalho interessante no qual deu para perceber nem sempre os trabalhos de grupo correm como planeado.»

«Acho que foi divertido e que valeu a pena, apesar de não ter havido uma boa relação entre os elementos do grupo. Talvez por não nos termos organizado bem desde o início.»

«Achei a experiência muito interessante. Embora com algumas dificuldades em orientar o grupo, achei muito divertido, pois ao mesmo tempo que fazíamos o trabalho também nos íamos distraindo e brincando. Gostava de voltar a realizar experiências deste género.»

«Esta experiência foi interessante e diferente das experiências que habitualmente costumamos fazer. Era bom que em todas as escolas de Portugal se pudesse ser avaliado a nível prático, isto é, pudéssemos realizar mais trabalhos criativos, desenvolvendo a nossa capacidade de expressão.»

«Penso que a experiência foi positiva e gostaria de voltar a realizar um trabalho como este. Isto porque no meu grupo conseguimos organizar-nos de forma a que no dia da exposição todos tivessem cumprido as suas funções e assim todos tivessem trazido as partes do trabalho que nos competiam.»

«Toda a experiência mostrou-se interessante, mas também trabalhosa e complicada. No entanto, gostei de todo o processo, desde a formulação da ideia até ao produto final. Este, contudo, poderia ter ficado melhor.»

«Realizar este trabalho foi uma experiência muito boa, pois aprendemos novas coisas e o processo de realização em si foi muito divertido. Acho que valeu a pena fazer o trabalho e que se deveria repetir. Ajuda-nos a reflectir e a desenvolver as nossas capacidades.»

«Gostei bastante desta experiência, porque me diverti imenso a fazer o trabalho. Conheci (ainda) melhor algumas pessoas da nossa turma, o que foi uma vantagem.
Muito resumidamente, fazer este trabalho não foi uma obrigação (de todo!) e apesar de ele não ter resultado uma obra de arte, acho que valeu a pena.»

«Foi um projecto interessante. Aprofundei conhecimentos, melhorei os meus "trabalhos manuais" e tive a oportunidade de conhecer melhor os elementos do meu grupo, pois fora da escola somos diferentes.»

«Gostei muito de fazer este trabalho, principalmente porque discutimos muito sobre o tema e todos ficámos a compreendê-lo melhor. Também foi engraçado montar uma exposição sobre filosofia (coisa que nunca tinha visto) e ver o trabalho dos outros grupos. Podemos e gostava muito de repti-lo.»

«Na minha opinião, o trabalho foi muito interessante na medida em que foi uma forma de aplicar os nossos conhecimentos. O facto de o trabalho estar exposto é para o grupo muito gratificante.»

«Foi interessante e divertido, embota tenhamos tido alguma dificuldade a escolher o tema e decidir como iríamos realizar o trabalho.»

«Foi uma experiência muito engraçada e educativa, pois eu nunca tinha feito um trabalho para exposição.»

«Fazer o trabalho de filosofia foi de certo modo difícil, porque não nos organizámos bem e tínhamos bastantes trabalhos para fazer. Mas penso que nos ensinou a, mesmo em condições difíceis, "desenrascarmo-nos" e fazermos um bom trabalho.»

«Foi uma experiência boa. O único problema foi a minha participação com o resto do grupo, porque os meus conhecimentos de filosofia não são lá muito bons e aí senti-me um pouco à parte do grupo, mas tentei ajudar no que pude.»

«Não poderei contar como foi trabalhar com os meus colegas, porque eu não trabalhei. Não porque não quis, mas porque os meus colegas não se dignaram dizer-me quando é que era para fazer o trabalho.»

«Espero realizar mais trabalhos deste género, pois foi bastante interessante e gostei de vê-lo exposto na biblioteca.»

«Estes trabalhos são bons para aprender a trabalhar com várias pessoas, visto que isso não acontece muitas vezes.»

«Antes de mais, foi divertido, pois à medida que íamos fazendo íamos aprendendo. Decidimos fazer algo que contasse com a pessoa que iria ver.»

«Foi uma experiência interessante, pois era educativa e permitiu um divertimento enquanto trabalhávamos e estudávamos/aprendíamos.»
«Não poderei contar como foi trabalhar com os meus colegas, porque eu não trabalhei. Não porque não quis, mas porque os meus colegas não se dignaram dizer-me quando é que era para fazer o trabalho.»
 
Avaliação
Na segunda metade da semana, a tónica foi avaliativa.
Numa das turmas, tivemos mais um teste, com as habituais dores de barriga. Alguns não estudaram, «aquilo é uma seca, não dá pica». Digo sempre que não avaliamos pessoas, nem sequer o trabalho que tiveram; «eu avalio prestações», aquilo que os alunos fazem ou dizem. Por isso, eles falam naturalmente do que estudaram ou não. Isso não interfere com os resultados e permite-me ter acesso ao outro lado da barreira: «o que mais me irrita é que eu farto-me de estudar e não consigo tirar positiva e outros não ligam bóia e conseguem»; «isso quer dizer que o teu problema não é falta de estudo, está noutro lado e não se resolve a estudar mais».
Mas tanto numa turma como na outra, que demos um passo em frente na matéria, foi a hora de avaliar o trabalho colectivo da “intervenção filosófica”: cada um escreveu sob três alíneas - o que fizemos, como avalio a experiência e como avalio cada um dos membros da minha equipa (excepto o próprio).
Não é o simples facto de se fazer e sair da rotina que faz com que tenha sido positivo: preciso de feed-back. Além disso, é importante que os alunos adoptem uma postura de levar a sério o que fazem e isso passa também por serem avaliados, inclusivamente pelos pares, que têm uma perspectiva a que eu não tenho acesso.
 
Assembleia Constituinte
Terminaram os trabalhos da Assembleia Constituinte cuja função era elaborar o primeiro Regulamento Interno do Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Fernandes. Foram dois meses de trabalho, acumulado à actividade lectiva normal. Há, agora, como que um respirar fundo e uma re-concentração da atenção dedicada à escola no trabalho com os alunos.
Nestes tempos de alterações profundas, há muitas matérias em cima da mesa. Outros colegas estão a dedicar-lhes a atenção necessária. Não posso acompanhar tudo. Tenho de depositar neles a confiança necessária. Mas também tenho que, dentro em pouco, prestar alguma atenção ao que vem sendo feito. Até porque sobre alguns trabalhos devo pronunciar-me.
Ser professor vai bem para lá de dar aulas. Às vezes, demasiado para lá.
 
Um clube de filosofia
À tarde, foi o princípio. Um grupo de alunas tinha tomado a iniciativa de criar um clube de filosofia, para discutir aquilo que não dava para discutir nas aulas. Há sempre alunos que querem ir para além do que os tempos lectivos permitem, mas raramente as coisas passam de um vago desejo. Neste caso, pediram-me o patrocínio, informei os “donos da casa” e começámos.
Éramos apenas cinco. Não quero ter ali um estatuto de professor: o clube é delas, que o querem e o formaram. A mim cabe-me o estatuto de sócio mais velho, aprendiz de filosofia mais adiantado.
Na primeira sessão, foi estabelecida a política da casa: os objectivos e a organização, sobretudo. Deixo para os membros do clube uma eventual divulgação de conteúdos, a começar pelo nome adoptado.
 
Almoço no jardim
Após a segunda aula, era tempo de almoçar.
- Venha almoçar connosco.
Como estava sozinho, aceitei. Fomos comprar umas sandes e comê-las para o Jardim da República.
- É a primeira vez que come com os alunos?
Claro que não. Já comi com os alunos muitas vezes e de muitos modos. Para mim foi um acto normal, nada de novo. Mas não para eles.
- Foi a primeira vez que um professor comeu connosco. Se os professores se misturassem mais com os alunos, as coisas corriam melhor.Não é necessariamente verdade, mas é um ponto de vista. Mas fiquei a pensar: para estes alunos (não para muitos outros), nunca um professor tinha comido por perto. O que implica uma distância significativa, que marca todo o processo de relacionamento. Muito haveria a dizer a este respeito.
 
A montagem filosófica
Segunda-feira de manhã. Primeiro com uma turma, depois com a outra, foi o tempo de montar a “intervenção filosófica”. No primeiro piso da Biblioteca António Botto, os alunos expuseram as obras que haviam realizado com este objectivo.
Por que razão há-de a aprendizagem filosófica traduzir-se necessariamente num texto escrito que responde a questões elaboradas pelo professor? Essa é uma modalidade, não a única modalidade.
Quando se tem de elaborar em grupo um objecto que condense um pensamento, um pouco ao modo do processo artístico, as dinâmicas são qualitativamente diferentes. Há um processo grupal, implica discussão e negociação, verifica-se a diferença de posições, é necessário introduzir uma argumentação horizontal, desenvolvem-se processos de liderança, surgem conflitos que necessitam de ser resolvidos... Podemos dizer que é a filosofia em acção no interior de um processo social específico.
Por isso mesmo, é fácil encontrar “processos de fluxo”, aqueles momentos em que as pessoas estão tão implicadas no processo que investem o máximo, perdem a noção do tempo e fazem-no com evidente satisfação apesar dos custos.
Há uma limitação evidente. Como os alunos, bem como o professor, não têm uma formação suficiente em artes, como o tempo lectivo tem de ser sobretudo investido no processo de reflexão filosófica e não no processo de construção do objecto, então o resultado que pode ser exposto não tem a qualidade plástica que seria de desejar. Mas são as limitações próprias quer do projecto, quer do analfabetismo plástico em que vivemos.
A grande maioria dos alunos não tem uma história de contacto com exposições de artes plásticas. Donde lhes poderia vir a formação que nunca tiveram?
Apesar de tudo, as (poucas) reacções que tivemos foram positivas, no sentido de terem descoberto ali dimensões de que não suspeitavam nos nossos alunos.
 
Os grupos
Um dos problemas que se coloca quando se trata de projectos que impliquem o trabalho de grupo é a constituição dos próprios grupos.
Como se tratava de um trabalho que teria de ser feito fora das aulas, era da maior importância que os próprios alunos se organizassem de acordo com a facilidade para trabalharem fora do tempo lectivo. E foi isso mesmo que lhes disse.
Além disso, por que razão na aula tudo deve ser controlado pelo professor? Há que dar espaço de autonomia e iniciativa aos alunos. Há que torná-los sujeitos activos. Há que saber que eles também sabem coisas que o professor não sabe. Recusei-me, portanto, a intervir na formação dos grupos. Até porque esse processo de autonomia acaba por revelar factos que não ocorreriam se o professor decidisse tudo. Quem toma iniciativa, quem se deixa ficar para o fim, quem aceita e quem recusa este ou aquela... É bom observar todos esses fenómenos da micro-sociedade que é uma turma. Isso permite entender o essencial, que é o processo de ensino-aprendizagem e oferece matéria de reflexão à turma.
Mas há quem levante problemas.
Por exemplo, que o professor deveria evitar que “os melhores alunos” ficassem num grupo, a fim de dar oportunidade aos outros “menos bons”. Mas quem disse que o melhor aluno num processo de avaliação clássica em filosofia é também o melhor num trabalho desta natureza? Quem disse que um “menos bom” aluno na elaboração de respostas por escrito é também “menos bom” na liderança de um grupo ou na criação e montagem de um objecto a três dimensões? E como pode o professor saber isso se nunca os pôde ver em acção nessas dimensões?

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