domingo, fevereiro 24

 
Intervenção filosófica
Nas últimas aulas, temos andado a finalizar uma “intervenção filosófica” na Biblioteca António Botto.
Disse-lhes:
Estamos habituados a estudar para escrever nos testes, que é sobretudo um reproduzir. Um trabalho solitário, em que cada um procura a sua nota. Mas nós dizemos que filosofar é pensar a vida. Vamos quebrar a rotina. Em vez de estudar para reproduzir no teste, vamos criar um objecto que condense a reflexão que estamos a fazer. Em vez de pensarmos entre nós, vamos intervir na cidade e desafiar ou provocar os outros a reflectir também. Vamos criar, em grupos de três a cinco, um objecto para expor na Biblioteca.
Na próxima segunda-feira, será a montagem. Durante a semana será a oportunidade de os frequentadores da Biblioteca serem confrontados com os exercícios dos nossos alunos.
Tratam-se de exercícios que, como digo acima, vão num sentido diferente da lógica de funcionamento da escola.
 
Os testes, as notas
Quando se entregam os testes, há alunos que confirmam um bom resultado e outros que vêem o chão a fugir-lhe debaixo dos pés.
O que mais me incomoda é que os alunos que tiveram um resultado menos bom são os que estão menos interessado na correcção das respostas.
O jogo é, claramente, “estudar para pôr no teste”. Cumprida a função, mal ou bem, nada mais interessa. Virá outro teste lá mais para a frente, “pode ser que corra melhor”.
Não há, minimamente, nem nos alunos nem na escola, uma cultura de aprender para a vida. O saber escolar apenas tem valor de troca, por uma nota um diploma e um emprego; não tem valor de uso.
Enquanto esta cultura se mantiver, não há resultados escolares sustentados.
 
A ética, a moral e a política
De acordo com o programa, estamos agora a tematizar estes três conceitos. Tão usados e tão pouco pensados.
Para os alunos é difícil. Sobretudo, surgem com um conteúdo cristalizado: a política, Deus te livre!, é o reino da pouca vergonha.
No fundo, e em síntese, fomos procurando sintetizar três conteúdos de base:
a ética é o campo da reflexão dos homens livres que, podendo decidir, querem decidir “bem”;
a política é o reino dos homens livres enquanto membros de uma cidade, ou polis, sociedade organizada, que “sofrem” as consequências das decisões dos outros;
a moral é o campo das regras estabelecidas entre homens livres sobre o modo como as coisas “devem” ser feitas.
Os primeiros políticos são os cidadãos, homens e mulheres da polis, cada um como sujeito livre e cada um também como objecto da acção dos outros. Eles são os únicos soberanos da sua cidade. Depois, porque as acções são livres, é necessário regular as interacções entre os sujeitos livres e, porque os homens e as mulheres são capazes de mais e melhor, há que trabalhar para melhorar as condições de vida. Daí, destas duas fontes, nascem as instituições e os detentores dos cargos políticos. Mas a política nasce dos e nos sujeitos livres e soberanos que constituem a polis, a cidade organizada dos homens e mulheres livres.
 
Assembleia Constituinte
Dar aulas e classificar trabalhos dos alunos é apenas uma (ou duas) das funções de um professor. Há muitas outras.
De momento, cabe-me participar na Assembleia Constituinte do novo Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Fernandes. Sendo novo, como um novo país, precisa de ter a sua “lei fundamental”, sem negar, é claro, a legislação do país. Há, para esse efeito, uma assembleia eleita constituída por professores, funcionários, pais e alunos do secundário.
Uma parte do meu trabalho, ou melhor, do meu suposto tempo livre, tem sido dedicado a estudar legislação, a examinar minuciosamente a Proposta de Regulamento que nos foi apresentada, a estudar as sugestões e propostas que nos foram apresentadas, a procurar a melhor formulação para apresentar a votação...Por isso, não tenho conseguido respeitar um dos meus princípios: entregar os testes, sempre que possível, na aula seguinte.
 
Lado a lado...
... na mesma carteira, tenho dois alunos.
Um com notas brilhantes: não precisa de mim para nada. Ou só precisa que eu marque a matéria, faça a explicação suficiente e faça o enunciado dos testes. O resto, está garantido. Será feito com qualidade.
Outro com péssimos resultados: nem sequer consegue estar com a devida atenção, nem durante as aulas, nem durante o teste. Quer, gostaria de; mas não é capaz. De qualquer modo, já conseguiu algum resultado. Será que consegue chegar lá?
 
Os testes
Estamos de novo em época de testes. É indispensável que os alunos voltem ao que estudámos, que procurem fixar conceitos, que se envolvam com algumas questões que é necessário resolver.
Alguns levam esse trabalho a sério; outros confiam na sorte; outros não conseguem dar a esta tarefa o investimento que até vêem que precisariam de dar. Mas isso é com eles.
Costumo dizer que não avalio alunos, nem sequer se estudam muito ou pouco: classifico prestações, orais ou escritas.
O que mais me custa são os alunos que estudam muito e não conseguem resultados. Por várias razões, mas, nestes casos, não por culpa sua.
O pior é que, nestes casos, a solução não parece estar ao nosso alcance. Antes de mais, porque nem eu nem eles sabemos muito bem o que se passa em cada caso concreto, depois porque o que há a fazer escapa ao controle de ambas as partes.
Mas, por outro lado, o que me dá mais gozo, se assim posso falar, é ver como alguns alunos conseguem ir subindo degraus e chegar a níveis que nem sequer já acreditavam. Só que são poucos, entre os muitos que precisavam.
 
Recomeçar
«A sorte detesta os que apenas sabem queixar-se.»
e
«Desistir é a melhor forma de não chegar lá.»
Foi assim que começámos o segundo semestre. No secundário, o tempo divide-se em trimestres. Mas o Carnaval pode ser lido como a divisão em semestres: estamos agora a meio, vamos começar a segunda metade.
Por isso, distribuí uma pequena ficha a cada aluno com um duplo pedido de resposta:
a) que nota quero ter a esta disciplina no final do ano;b) que devo fazer para lá chegar.
É a repetição do mesmo exercício feito no início de Janeiro. Mas é indispensável voltar sempre ao que queremos. «Quem não sabe para onde vai é quase certo que vai ter a outro sítio qualquer.» Depois, não basta saber o que se quer; é indispensável ter muito claro o que é necessário fazer para lá chegar. O resto... é fazer o que se quer que aconteça. Foi isto que lhes disse.
Nós somos muito pobres em pensamento estratégico, e essa é uma das razões que nos fazem lastimar em vez de resolver os problemas.
O exercício anterior tinha produzido respostas como “quero melhorar a nota”, “quero ter melhores resultados” e assim por diante. Não, o exercício é mesmo escrever um número que se considere desejável mas também alcançável. O resto é não se querer comprometer.
Além disso, este tipo de exercícios tem ainda outra função: ajudar os alunos a perceber que é o seu interesse que está em jogo, e não o do professor ou da escola ou de quem quer que seja. O jogo terminou com uma palavra do género: a guerra é vossa, eu sou apenas auxiliar.

domingo, fevereiro 10

 
Os mestres
No karate passei agora de 9º (cinto branco) para 8º Kyu (cinto amarelo). Tenho pela frente um longo caminho, até ao 1º Kyu e, depois um novo caminho já de cinto negro, do 1º Dan até... nem sei onde, talvez 9º Dan, talvez mais.
Como professor, posso dizer que recebi o cinto preto no dia em que me profissionalizei. Depois, ponto final. Como se nada mais houvesse a aprender. Ponho aqui reticências... para me dispensar do que não quero dizer.
Digo, isso sim, que tive de procurar os meus mestres, que têm sido sobretudo três: os meus alunos, pelo retorno que vão dando das minhas aulas; os professores de quem eu tenho tido oportunidade de ser professor, pelo que vejo neles de muito parecido com o que vejo nos alunos, e as situações em que eu sou aluno, e têm sido muitas ao longo da minha vida.
Mas é pena que a instituição não tenha sabido criar e instituir outros mecanismos de formação. Desde logo, a aprendizagem entre pares, que tem sido alguma, mas nada de parecido com o que poderia ser; e depois a tão (pouco) falada formação de professores, que serve para muita coisa mas muito pouco para aquilo que devia servir.
De facto, não tenho dúvida de que, entre os professores, também há uma escala ignorada – do 1º Dan até... sei lá onde. Mas é suposto não existir. Por razões várias, que não vêm aqui ao caso.
 
No karate - 3
No domingo de manhã, ainda um pouco dorido do estágio da véspera, sujeitei-me a exame. Ia confiante. Não porque soubesse muito, mas por duas razões: porque confiava que a passagem era quase um prémio para aqueles que não tinham desistido e que soubessem o mínimo, e eu sabia o mínimo, e porque o meu futuro não passa por ali e tanto podia ter-me sujeitado a exame como não ter. Para mim era igual.
Ou talvez não. Porque é bom pormo-nos à prova, sujeitarmo-nos ao julgamento de outros e, desse modo, vermos até onde somos capazes de ir. É bom mas não é fácil, ou tão fácil como pode parecer à primeira vista.
Eu consegui, no exame, passar de cinto branco a amarelo. Podia, como disse, não ter ido a exame, mas tenho para mim como seguro que não gostaria de reprovar. Quem gosta? Por isso fiquei contente pela promoção. Quem não ficaria? Mesmo que isso represente muito pouco na minha vida.
Estas situações permitem-me compreender melhor – por dentro – as experiências difíceis dos meus alunos. E ajudá-los a enfrentarem melhor as situações que eles vivem como de “grande perigo”. Outro mal de que sofrem as nossas escolas. Um mal que não ajuda a resolver a situação, isto é, a enfrentar o “perigo”, mas que retira algumas das competências que seriam necessárias.
Passei, portanto. Mas não sem ter cometido alguns erros. Um deles motivou mesmo um reparo da parte do júri. Vou ter de corrigir aqueles movimentos. Na verdade, eu tinha treinado durante meia hora, antes de ir para o exame. Havia-me mesmo parecido que aquele movimento específico, no interior de um conjunto mais vasto, era simples de mais para ser assim. Mas não tinha como perceber que estava mal. Lá o fiz como tinha treinado: mal. É claro que... o mesmo se passa tantas vezes com os meus alunos. Eles aprendem, com esforço, mas mal. Depois, tenho de ser eu a dizer-lhes que não é assim. São sempre momentos delicados, em que cada uma das partes está fragilizada. Mas o lugar do professor é sempre um lugar de poder, por isso sente-se aí muito menos a sua fragilidade.
 
No karate - 2
No sábado passado, dia 9, houve estágio de karate em Constância, com karatecas de Abrantes, Constância, Sardoal e Sertã, dirigido por mestres que vieram da capital.
No estágio, havia desde cintos brancos até cintos castanhos, e todos praticavam em conjunto e, por várias vezes, os cintos brancos faziam exercícios com/contra os mais graduados. Havia, é claro, uma nítida diferença técnica, mas havia também uma nítida atitude de colaboração e ajuda por parte dos mais capacitados. Muitas vezes mais novos. No meu caso, eram sempre mais novos que eu.
Não é isso que frequentemente encontramos nas nossas escolas. Por definição, o aprender escolar é um acto solitário, individual e individualista. E cada aluno deve mostrar apenas e só que sabe, e nunca que não sabe. Por isso, muitos ficam para trás, o que não é um mal, dado que não pode haver movimento uniforme, mas perdidos, e isso sim, já é mal. E como não se pode errar, porque é penalizado em vez de valorizado e corrigido, cria-se um ambiente ameaçador para os que não são capazes de emparelhar com o movimento suposto.
Não é muito melhor quando não se é “burro” por não se ter aprendido, mas apenas alguém que necessita de ajuda para melhorar?
 
No karate - 1
Desde Outubro que sou praticante de karate em Abrantes. Já o disse algures e volto agora ao tema.
Inscrevi-me nesta arte marcial por três razões: para manter a forma física, que o corpo morre mais parado, para fazer a experiência de uma “arte” oriental, o que me é muito importante nos meus estudos sobre o lugar do corpo na consciência, e para me obrigar a sair do quente dos hábitos instalados e assim me proteger um pouco contra o envelhecimento precoce.
Ou seja, inscrevi-me porque quis e tendo em vista objectivos bastante significativos para mim. (Coisa que nem sempre acontece ais meus alunos.)
Mas depressa me dei conta de que estava a alcançar um outro objectivo de que não tinha tido consciência prévia. Eu explico.
O karate é muito fácil – quando se vê os outros a fazer ou quando nos explicam como se faz. Mas é bem mais complicado quando vamos tentar fazer. Aí, por mais que nos expliquem, por maior que seja a paciência do mestre, por mais fácil que aquilo pareça, tudo se complica quando se trata de fazer.
É preciso paciência, treino, humildade. É necessário não desistir, mas insistir. É preciso aprender com quem sabe, mesmo o puto ao lado que tem idade talvez para ser nosso neto.
Mas... se se for por esse caminho, aprende-se, evolui-se. Depressa nos damos conta de que estamos já longe do ponto em que nos encontrámos.
A que propósito vem tudo isto? Não é para contar a minha história, é claro, mas para dizer que ali eu encontro-me mais perto dos meus alunos. Ali torna-se evidente o que são as dificuldades deles com a filosofia.Em filosofia, eu sou talvez cinto negro, nem que seja do primeiro Dan. Mas os meus alunos são cintos branco e amarelo, talvez um ou outro já laranja. Do meu lugar de cinto branco em karate shotokan, eu percebo melhor as dificuldades deles em filosofia. Aquilo que é tão simples, para nós e para alguns deles, pode ser tão impossível para alguns outros.
 
Testes
Na segunda metade da semana, foi tempo do primeiro teste do período. É altura de cada aluno ver se está mais próximo ou mais distante do seu propósito. E haverá ambos os casos.
Alguns disseram mesmo «desta vez estudei mais», outros mostraram o mesmo ar desprendido, como se aquilo tivesse pouco a ver com eles. Mas, no geral, não é assim. Querem alcançar aquilo de que andaram esquecidos. Basta, contudo, olhar para alguns durante o teste para se perceber que vai ser difícil: o ar desconcentrado e o pouco investimento deixam supor que dali não poderá vir nenhuma surpresa. Noutros casos, é o contrário: o sofrimento que revelam diz que as coisas não estão a correr nada bem, na opinião do próprio, é claro.

Para o professor, o teste serve sobretudo para se dar conta de até onde os alunos são capazes de ir e por onde é que é necessário insistir.
O pior é que há uma doença instalada que dificulta as coisas: feito o teste, “aquilo” já não interessa. E é difícil fazer um trabalho de recuperação. O que indicia um problema de comunicação, mas cuja solução exige uma chave ainda não encontrada.

quinta-feira, fevereiro 7

 
O todo e as partes
Ouvimos, de Abrantes, o seleccionador nacional de futebol Sub 21 dizer:
«Temos os melhores jogadores, mas não temos ainda a melhor equipa».
Ele sabe, como poderia não saber?, que uma equipa é muito mais que a soma dos seus elementos, que o todo não é apenas a soma das partes.
Só na educação é que ainda não se sabe disso.
Uma escola é um acto de fé de que o todo é apenas e só a soma das suas partes.
E nós somos responsáveis por este erro histórico.
Permito-me o atrevimento de um conselho:
ler o funcionamento de uma escola à luz da obra
Compromisso: nunca desistir, de Tomaz Morais e Filipe Mendonça (Ed. Booknomics).
Tomaz Morais é aquele rapaz que pegou na débil equipa portuguesa de rugby e a tornou num caso sério de nível (e análise) mundial.
Ele sabe o que faz e esse saber mede-se pelos resultados.
Por onde poderia medir-se?
 
Da Ignorância
“Só sei que nada sei, mas mesmo assim sei mais do que aqueles que nem isso sabem”. Foi assim que Sócrates, no seu tempo, classificou o seu conhecimento. E ainda hoje este dizer continua tão actual como sempre.
Ao longo dos tempos, o homem foi adquirindo conhecimentos numa ou noutra área com o fim de saciar as suas insatisfação e curiosidade naturais, mas também como via para dominar melhor o mundo. Porém, não nos contentámos apenas com isso. Surgiu então a necessidade de uma reflexão acerca do próprio conhecimento, isto é, procurámos o conhecimento sobre o conhecimneto, ao que chamámos teoria do conhecimento ou gnoseologia.
Esta trata-se, portanto, de uma reflexão de cariz epistemológico sobre a maneira de fazer melhor e, assim, evitar erros. De facto, ao conhecermos melhor as coisas, temos mais poder para obter delas aquilo que desejamos.
Isabel Leal vem, no texto [de Notícias Magazine aqui a ser comentado], lembrar-nos que, no entanto, à medida que conhecemos mais, que sabemos mais, que aumenta a quantidade de conhecimento que conseguimos elaborar e assimilar, aumenta também a nossa ignorância. Por termos mais conhecimentos, surgem-nos cada vez mais questões para as quais temos de dar uma resposta satisfatória, sentimos que temos de saber mais.
Somos ignorantes por natureza. Não ignorantes no sentido pejorativo (se é que ele existe!), simplesmente ignorantes por haver tanta coisa neste mundo que não conhecemos e nem podemos ainda conhecer, já que ninguém por agora conhece (aqui um conhecimento mais vocacionadopara o campo científico). Somo-lo também por desconhecermos o conhecimento de outros. Somos ignorantes acerca do presente, do passado e do futuro. O passado que se confunde nas nossas memórias e o futuro que nos é totalmente desconhecido.
Contudo, esta ignorância é tão normal, tão natural como uma característica própria do ser humano. Tentar dizer que não o somos é um atentado à possibilidade da existência de novos horizontes, à procura de novas respostas, à busca de novos conhecimentos.
Assim, e para fazer face à nossa ignorância, devemos esforçar-nos por compreender novas realidades que se nos deparam e não, por oposição, angustiarmo-nos ou procurarmos esconder a ignorância, vivendo sem qualquer esperança em nós e no que podemos fazer, depositando todo o vislumbre de novos mundos em crenças tantas vezes infundadas.
Sabemos que não sabemos, mas a sabedoria é limitada pela ignorância, e por sabermos isso já demos o pontapé de saída para a procura de outros (novos!) caminhos, para o esclarecimento no sentido da vida, para o conhecimento do conhecimento.
Bruna Rodrigues, 11ºC

Trata-se de mais um texto vindo do 11º ano, que desbrava caminho para o que será o próximo ano.

terça-feira, fevereiro 5

 
Problemas?
Todos nós temos problemas.
Os fracos arranjam desculpas.
Os fortes criam soluções.

Foi assim que começámos a semana.
Mas desta vez não vou falar dos conteúdos que abordámos.
Com efeito, mais importante que “a matéria” é o processo. O caminho.
Numa das turmas, as coisas encaminharam-se para um clima de trabalho. Alguma perturbação corrigiu-se e há um clima de trabalho, de procura, de aprendizagem. E se alguns alunos têm ainda alguma (muita?) dificuldade em se concentrarem, em investirem, em pensarem em profundidade, o conjunto é de orem a facilitar as coisas.
Na outra turma, é o contrário. O ambiente dissolve-se. Não é que se portem mal. Mas nota-se que não há investimento, que não há concentração. Fazem as coisas, mas não as pensam, e se pensam é o mínimo para ficar feito. E essa desconcentração com muita facilidade resvala para ruído.
Se aos primeiros reconheci o progresso e incentivei a continuarem, aos segundos disse-lhes o que me parecia: que tenho a sensação de que estão piores do que no início do período. Então, disseram que queriam recuperar e melhorar os resultados. Agora, não os vejo nesse caminho. Como é natural, as coisas vão subindo de nível, de exigência. Se não há trabalho consolidado, não pode haver progressos significativos.
Eu estou preocupado. Eles, parece-me que não.
Houve quem dissesse que a culpa é da filosofia, que é chata. E quem acusasse as aulas, que «não são empolgantes».
Apeteceu-me lembrar-lhes como tinham começado a aula. Mas não o fiz.
Não creio que a filosofia possa ser empolgante para quem não investe. A filosofia exige paragem, reflexão, interiorização, pergunta a si mesmo e resposta por si. E isso é o contrário do arrastamento, da exultação. Do empolgante.
Eu sei, eles são muito novos, as questões não os interessam “naturalmente”, para eles não é o seu ritmo de vida... Além disso, o meio social donde a maioria vem não os ajuda a colocarem-se este tipo de problemas.
A única verdade que se me apresenta é que por este caminho vamos dar a um lugar onde não queremos estar.

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