domingo, abril 27

 
A geração do ecrã - 2
Sim, é verdade que este não é um caso único, nem será talvez dos mais graves. Foi apenas o que teve “direito” a uma exposição pública, o que teve o mediatismo que poucas outras notícias conseguem alcançar.
Coisas semelhantes acontecem todos os dias nas escolas. Nas escolas do Porto, das escolas de Portugal, nas escolas do Mundo. Não é por certo novidade para ninguém minimamente atento, o rol de casos de alunos que entram em escolas dos EUA e matam uns quantos alunos e professores sem olhar para trás.
Levanta-se portanto uma questão importante: Qual é a “falha”, que há para que as nossas crianças estejam a ser educadas pelo ecrã? Porque é que isto acontece?
Hoje em dia as crianças passam 90% do seu tempo fora de casa. Quando chegam a casa, durante a semana, jantam, tomam banho, vêem um pouco de televisão e vão dormir. Vêm exaustas da escola, das actividades extracurriculares, não se lhes pode exigir que façam muito mais. Afinal, não passam de crianças
Os pais por sua vez, trabalham durante todo o dia, chegam a casa tarde e a cabeça disponível para dispensar um pouco de tempo àquelas crianças que vagueiam pela casa também não é muito.
A nobre tarefa de educar estas crianças de forma “humana” caberá portanto às pessoas que passam mais tempo com elas. São eles professores, educadores, auxiliares de acção educativa, e tudo esse rol de profissionais que muitas vezes passam mais tempo em contacto com estas crianças que os próprios pais. Cabe-lhes a elas cuidar destas crianças. Educá-las, humanizá-las, fazerem delas seres humanos e não apenas pessoas. De pessoas está o mundo cheio.
Ou será que o papel dos professores é meramente o ensino da parte curricular? Não lhes caberá também a tarefa de ajudar os seus alunos a formarem-se, ajudá-los a tornarem-se alguém?
Não culpemos portanto as crianças, os jovens. Lembremo-nos de que as crianças e os adolescentes estão a crescer, a formar-se, a fazer-se. Estão a procurar bases de sustento para formarem, para encontrarem o seu “eu”.
As crianças e jovens não são como são por querem. São assim porque só sabem ser assim. Porque são os exemplos que vêem. Nunca ninguém lhes disse que não era assim, que era assado.
Não podemos esperar que alguém saiba distinguir o bem do mal, o que é certo do que é errado se nunca for ajudado a perceber as duas vertentes. A perceber porque é que isto está certo e aquilo está errado, isto é bom e aquilo é mau.
Contudo, volto a realçar que, felizmente, ainda há por aí muita criança que não foi educada pelo ecrã. Generalizar é arriscado.
Joana Paulo, 10ºC

Dá cá o telemóvel
A notícia “encheu o papinho“ a todos os meios de comunicação e, cada um, à sua maneira, produziu comentários para todos os gostos. Foi o último grande tema de discussão, exposto na Internet e publicitado pela televisão. Como também se tem referido ao longo do último mês, este caso não é único em Portugal, é somente um entre muitos outros. Nas ilhas e de Norte a Sul de Portugal, muitos casos semelhantes devem ter ocorrido. Provavelmente, casos onde foi evidente ainda mais desrespeito da parte dos alunos pelos professores.
No entanto, existem vários tipos de alunos. É verdade que se perguntássemos a alguns como é que eles reagiriam àquela situação, enquanto uns responderiam:
- Da mesma forma, claro!
Outros diriam:
- Eu jamais procederia daquela maneira!
O que pretendo concluir é que, por um lado, não podemos criar um estereótipo de alunos mal comportados, sem normas e desrespeitadores. Devemos julgar, em cada caso, as suas acções, condenando-as ou não.
Por outro lado, é fulcral compreender que o que aconteceu não é só culpa da aluna, é também um problema da sociedade portuguesa. Essa mesma sociedade que se enche de indignação ao ver aquele vídeo e que, em sentido figurado, atirou a primeira pedra, é a culpada daquela atitude. Isto porque aquela jovem está a ser criada num mundo em que os telemóveis estão, passo a passo, a fazer parte do indivíduo. Os telemóveis fazem já parte da satisfação de uma necessidade dos humanos, a necessidade de comunicação com outros indivíduos.
Ora como é possível que pais, jornalistas e professores, que normalmente são a favor do uso de telemóveis (pois é uma mais valia no desenvolvimento), conduzem com o telemóvel na mão, usam-no nas bombas de gasolina e não os desligam nos funerais, venham criticar o comportamento da aluna, adjectivando-o como escandaloso?
O problema é uma questão de formação. Para aquela aluna o telemóvel era uma parte da sua intimidade. Da mesma forma que, se um cão for treinado, mesmo com o comer à frente, só come se o dono lhe der ordem, mas se o cão não estiver treinado e o dono lhe for tirar o osso que está a comer, ele morde o dono. E, neste último caso, ninguém acusa o cão de desrespeito pelo dono, pois toda a gente sabe que se trata de um comportamento normal do animal.
A sociedade onde vivemos está a tornar-nos viciados nos telemóveis. Já não vivemos sem eles. Tornaram-se num apêndice do qual já não nos conseguimos livrar, nem sequer por 10 minutos, quanto mais por hora e meia.
O alerta é: vamos manter a nossa racionalidade, vamos preservar os valores dos nossos avós e vamos usar o telemóvel só quando for mesmo preciso. Caso contrário, qualquer dia estamos de gatas, como o cão, mas só com três patas no chão, porque a outra está a segurar no telemóvel.
Raquel Lalanda, 10ºC

A geração do ecrã - 1
Recebi, por mail, mais um daqueles textos que circulam como a água escorre para o rio. Mandei-o aos meus alunos e pedi-lhes um comentário. Deixo o texto. Deixarei os comentários que receber.
«Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas.
Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os 'Morangos com açúcar', só quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.
Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos - bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se.
Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª ministra - que não entra numa escola sem avisar - é que tem coragem de afirmar que não existe violência nas escolas).
Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe!
O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social.
Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador.Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.
Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs.
E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano.
E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho.
E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.
A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias.
A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar.
A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento.
E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã.
E nós deixamos.»
 
Livro-nos Deu
Os meus alunos do 10º ano, e alguns do 11º, têm mais um conjunto de trabalhos expostos na Biblioteca António Botto.
Trata-se de pegar na ideia comum de livro, aquela que nos é dada, e produzir algum objecto que interpele o leitor e o faça repensar a ideia de livro.
Eles realizaram objectos que estão expostos em vários locais de acesso dos leitores. São, pode dizer-se, provocações à reflexão.
A filosofia é entendida como uma reflexão discursiva, de carácter argumentativo. Mas a reflexão não tem apenas essa modalidade, essa forma de realização e apresentação.
E agora que vamos iniciar os nossos trabalhos no campo da estética.
Já fizemos duas exposições, já vimos uma peça de teatro gravada, já foram ao teatro ao vivo em Abrantes (embora não comigo)... Estamos em condições de avançar.
 
A semana
... foi dedicada a agarrar algumas pontas, pois estamos a terminar a unidade didáctica.

sábado, abril 19

 
Fico feliz quando os meus pais...
... quando o pai e a mãe lavam a loiça.
... quando vão ao parque comigo.
... quando desenho com os pais.
... quando os pais brincam comigo.
... quando os meus pais me fazem cócegas.
... quando me levam a passear.
... quando me deixam andar de bicicleta naquela descida, sem travar.
... quando me pegam ao colo.
... quando vão para o quintal brincar comigo.
... quando passeiam comigo no parque e com a minha irmã.
... quando jogam à bola comigo; mas eles quase nunca querem!.
... quando me empurram na bicicleta.
... quando me deixam ir brincar a casa dos meus amigos.
... quando eu, os meus irmos e os meus primos estamos a brincar e ela vem ter connosco.
... quando me deixam ir aos anos das doutras pessoas.
... quando me compram brinquedos e quando vejo o meu pai.
... quando vou ao trabalho dos meus pais.
... quando regamos todos o jardim. Eu gosto muito de flores.
... quando o meu pai chega ao fim de semana...
... quando me lêem histórias e brincam comigo.
... quando me dão miminhos (dar beijos, fazer cócegas, dar abraços...).
... quando o meu pai anda comigo de bicicleta e joga à bola e a minha mãe me lê, à noite, a história da Rua Sésamo.
... quando me levam a passear e cantam para me adormecer.
... quando me dão mimos, me levam a sítios giros e diferentes e quando me levam a cortar o cabelo para o pôr em pé.
... quando me levam à praia e me fazem uma festa de anos.
... quando me dão carinho, brinquedos e quando não me metem de castigo.
... quando estão a dar-me atenção e miminhos.
... quando me ajudam a fazer os trabalhos de casa.
... quando me ensinam as coisas.
... quando não se chateiam.
... quando dizem que eu sou bom aluno.
... quando ficam alegres porque tive boas notas.
... quando são bons para mim.
... quando não se zangam.
... quando me levam a casa da minha avó.
... quando ficam alegres.
... quando me ajudam quando eu tenho dificuldades.
... quando estão felizes.
... quando brincam comigo.
... quando estão contentes.... quando não brigam.
... quando me oferecem coisas.
... quando me dizem que me adoram, me dão mimos, fazem massagens e me ajudam.
... quando brincam comigo e quando me prestam atenção.
... quando o meu pai me comprar uma mota.
... quando os meus pais me entendem.
... quando me dão carinho e quando deixam a B. vir a minha casa brincar comigo.
... quando dizem que o meu avô que morreu está bem no céu.
... quando estão abraçados um ao outro e quando vão passear comigo.
... quando brincam comigo, fazem palhaçadas, quando me ajudam, me tratam bem, quando me ensinam, quando me ouvem e quando me elogiam.
... quando me ajudam nos trabalhos de casa, quando me levam a passear e quando me ajudam a ultrapassar as dificuldades.
... quando me dão carinho, quando a minha mãe fica admirada comigo e quando a minha família está junta.
... quando me dão carinho, não me batem e me levam ais sítios onde eu quero ir.
... quando compreendem o que eu quero e quando me lêem histórias.
... quando me abraçam, me beijam, me acarinham e me dizem amo-te filha.
... quando me dão carinho e fazem tudo para me proteger.
... quando me dão muito carinho, amor, alegria e felicidade e esperança. Também gosto que eles fiquem felizes e que um dia voltem um para o outro.
... quando me olham e dizem que me amam do fundo do coração, me abraçam e beijam e eu fico sem noção do que está à minha volta.Pelos alunos da Escola da Chainça (selecção).
 
Na Chainça
Sexta à noite. Sessão com os pais dos alunos da escola da Chainça.
Correu bem, como de costume. Mas não consegui que houvesse uma participação activa dos pais na conversa. Só mais para o final é que melhorou, e por isso mesmo, para dar algum espaço de participação, talvez tenha acabado um pouco tarde.
Além disso, quando peguei numa das intervenções não terei entendido bem, ou fui mal entendido eu naquilo que quis dizer. Talvez isso tenha contribuído para alguma retracção.
Mas é sempre bom participar nestas sessões. Por um lado, porque elas são importantes, não pelas novidades ou revelações que se façam, mas porque se recordam algumas coisas que todos sabemos mas de que podemos andar distraídos, e porque sempre cada um se dá conta de que os outros pais têm “os mesmos” problemas. Por outro lado, eu sempre aprendo com as intervenções das pessoas. Há sempre um ou outro aspecto que é realçado e a que eu não tinha dado boa atenção.
Para terminar, a escola ofereceu-me um excelente “compêndio de psicologia na primeira pessoa”, que foi como eu o caracterizei: um grosso volume com desenhos das crianças a ilustrarem frases suas que davam continuidade ao mote “Fico feliz quando os meus pais...” Uma maravilha!
(Também o Conselho Executivo do Agrupamento D. Miguel de Almeida, que organizou estas sessões, me entregou um “diploma” de memória do que fizemos. Que agradeço. Mas peço desculpa de dar mais valor aos “segredos” que as crianças me revelaram.
 
Desinteresse
- Afinal, o que é que se passou que nunca estiveste cá durante esta aula?
- Ó professor, isto não me interessa nada.
- Mas tu sabes que, na maioria das vezes, o interesse vem depois, depois de termos trabalhado sobre uma coisa e termos descoberto a importância que ela tem.Talvez tenha ficado a pensar.
 
O Utilitarismo
Na segunda metade da aula, foi a vez de uma aluna apresentar o pensamento de Stuart Mill e de caracterizarmos sumariamente o utilitarismo.
Comecei por dizer que não se lhes pedia que fossem kantianos, até porque há outras éticas. E por isso íamos espreitar uma outra.
Que lhes despertou de imediato muito mais simpatia. Talvez tanta simpatia como a de Kant lhes tinha despertado antipatia.
No final da aula, partimos à procura de outras éticas. E apareceram várias: a marxista, a cristã, a hippie, a yuppie.
E houve mesmo quem lembrasse o carácter práxico do homem: o homem faz-se fazendo-se. E, ao fazer-se, faz a sociedade de que faz parte.O que é um dado é que cada um de nós tem de decidir e está interessado em decidir bem em vez de mal, e cada grupo ou sociedade tem também de decidir e precisa de decidir bem em vez de mal.
 
Kant afinal?
Entreguei os textos corrigidos, chamando a atenção para os problemas detectados.
Depois, mostrei-me escandalizado.
- Vi nos vossos textos que mais ou menos unanimemente criticam e acusam os onze jurados de não terem testado a sério, como deviam, as provas que acusavam o rapaz. Que vos permite acusá-los de não terem cumprido o seu dever. Dizem mesmo que cada um de nós podia ser aquele réu, e gostaríamos de ver os nossos interesses defendidos como deve ser. Que vos permite dizer isso?
Ficaram baralhados. Parecia-lhes evidente, digo eu, e parecia-lhes evidente que também o deveria ser para mim, continuo eu a dizer. E foi isso mesmo que disseram: insistiram em que eles deviam cumprir a sua tarefa de jurados como deve ser, etc. Notava-se nos seus olhos que não percebiam a minha objecção. Que não existia. Por isso continuei.
- Então, quando estivemos a apresentar a ética kantiana, vocês levantaram-se contra ela, deram na cabeça de Kant até poderem, e agora dizem que os jurados devem cumprir o seu dever? Recusaram a universalidade kantiana e vêm agora dizer que o réu pode ser cada um de nós, portanto cada um dos homens? Afinal, que vos permite criticar Kant se depois, a argumentar se assumem quase como kantianos?
- É que Kant era um extremista!
- Ah!, um extremista. E qual é a fronteira entre o dever que deve mesmo ser cumprido e o que já não precisa de ser cumprido? Eu creio que sei: devem ser cumpridos os deveres dos outros para com vocês, os que vos interessam, e já não precisam de ser cumpridos os vossos deveres para com os outros, os que não vos interessam. Será?
Foi à volta deste ponto que discutimos um pouco. Para eu concluir:
- Não é tão fácil como parece fugirmos à ética kantiana, quando levamos a sério a ética e os direitos humanos de cada um dos homens.
Aposto que gostaram desta estratégia. Nem todos, é claro.
 
Os textos
Uma parte significativa do meu trabalho de professor é investido a “ver” os textos dos meus alunos. Insisto na escrita de textos, aponto as limitações dos mesmos e vou dando pistas de melhoria.
Faço isto por duas razões: uma filosófica, outra metodológica.
Filosoficamente, o que me interessa não é “dar matéria”, que fica “dada” quer os alunos aprendam quer não; o que interessa verdadeiramente é os meus alunos irem constituindo por dentro a sua voz, a sua reflexão, o seu pensamento. E produzir um texto é reflectir de modo muito activo, é defrontar-se com a dificuldade de dizê-lo de modo que o próprio se reconheça no que diz.
Metodologicamente, porque se os alunos vão ser testados, em grande medida, em provas por escrito, então eu devo treiná-los, isto é, desenvolver-lhes as capacidades de darem boa conta de si nisso mesmo. Fazê-los escrever e melhorar a escrita é treiná-los para as provas que vão ser chamados a prestar. Não treinos no vazio, mas no próprio exercício filosófico que vamos fazendo.
Ora acontece que eu vejo os meus alunos a apresentarem melhores produtos escritos. E de modo muito especial aqueles que entraram quase incapazes. Não iam além de três ou quatro linhas; agora já conseguem fazer uma meia folha A4; apresentavam uma folha com muita letra mas pouca escrita, ou seja, coisas sem sentido, frases sem estrutura legível, fragmentos dispersos ser textura, erros e mais erros... Hoje, eles próprios já se dão conta de que escrevem melhor. E eu sou capaz de lhes dar a um texto uma classificação um pouco melhor do que aquela que o texto vale, porque tenho de ter em consideração a evolução positiva, o que lhes serve também de estímulo. Sim, que são os resultados que nos alimentam a energia.
Infelizmente, porém, não é em todos os alunos que se nota esta evolução. E tenho para mim um problema: até que ponto esta melhoria é resultado de evolução real ou de uma maior aplicação dentro da velha estratégia de passar um ano de sorna e recuperar no sprint final? Para mim, só tenho uma resposta: a minha consideração em termos de evolução vai apenas para aqueles casos em que eu tenho visto esse esforço continuado, portanto que me permite ver o novo resultado como sustentado por esses esforço contínuo. Mas sei que esse é um ponto crítico.
 
Melhorar é preciso
No ano passado, a minha escola procedeu a uma avaliação interna, assessorada por uma empresa externa. Os resultados foram apresentados há algum tempo, mostrando os pontos fortes e os pontos fracos identificados pelos vários elementos da comunidade escolar.
O passo seguinte vai ser melhorar a situação. Para isso, o Conselho Executivo nomeou quatro grupos de trabalho. Reuniram-se hoje pela primeira vez para trabalharem num programa de acção de melhoria a ser desenvolvido no próximo ano.
Eu fui convidado a integrar o grupo que vai procurar obter melhorias no Sucesso Escolar. Os outros três grupos vão agarrar os temas da indisciplina, da higiene e da formação de professores.
 
Debate
O tempo era pouco. Mas eu também não queria mais. Porque as reflexões em grande grupo são pouco reflexões. São mais afirmações e contra-afirmações de posição. Mas isso não impede que haja o aparecimento de um inter-espaço de reflexão em que cada um pode ver acenderem-se algumas novas chamas.
 
Reflexão sobre
Na semana passada, vimos um filme / peça de teatro. Hoje, vamos reflectir sobre ela.
Como é segunda-feira, tenho de activar a circulação cerebral dos meus alunos, pois vêm ainda mal acordados. Começamos por, em colectivo, rever alguns dos conceitos que nos últimos tempos temos trabalhado.
- Agora, pegam numa folha de papel e escrevem um comentário sobre o filme que vimos cujo título vai ser Responsabilidade Social e Direitos Humanos. Não quero que me contem a história, que eu também vi e, se quiser, posso voltar a ver. O que eu não sei, mas quero saber, é o que vocês pensam sobre o que vimos. Ao trabalho.
Na segunda parte da aula, fizemos um debate em plenário sobre o mesmo filme.- Cada um já pensou, já escreveu. Agora vamos trabalhar em plenário. Por duas razões: primeira, para partilharem o que foi a vossa reflexão; segunda, porque uns com os outros vamos mais longe do que sozinhos.

domingo, abril 13

 
Em Mouriscas
Nesta sexta-feira, foi a vez de realizar uma sessão com os pais e professores do jardim de infância e primeiro ciclo de Mouriscas.
Correu bem. Talvez não tenha sido tão fácil desenrolar a conversa como em Fontes, mas depois da sessão ainda ficámos um pouco a conviver.
De qualquer modo, durante e depois, foi tempo para conversarmos sobre preocupações de todos os pais. E o mais importante é isso mesmo, conversarmos, recordarmos o que já sabemos mas que as pressas da vida por vezes nos fazem colocar um pouco para segundo plano.
E a verdade é que a vida não está fácil para ninguém. Nem sequer para as nossas crianças e os nossos jovens.
 
Parabéns! Vitória!
O Gonçalo Simões ganhou o primeiro lugar no Campeonato da Língua Portuguesa,
e o Filipe Gomes ganhou o terceiro lugar.
É bom saber que colegas / alunos nossos conseguem obter vitórias.
Temos de agradecer a estes jovens terem mostrado, mais uma vez, que não era só antigamente que havia gente com valor.
E na nossa escola, como nas outras, há jovens que mostram valor em muitos e diversificados domínios.
Força!, a todos.

quinta-feira, abril 10

 
A meia idade
Mandaram-me um mail com um problema:
Sabes o que é a Meia Idade? É a altura da vida em que o trabalho já não dá prazer e o prazer começa a dar trabalho !!!
Sim, é um problema. Eu continuo a gostar do que faço com os alunos, ainda me dá prazer. Mas cada vez me custa mais a suportar a escola, ou seja, cada vez tenho menos paciência para o que na escola está para lá do trabalho com os alunos.
Fico sem saber se já estarei na meia idade, ou seja, na idade do meio, ou já na terceira.Tenho de ver se alguém me informa.
 
Investimento
Três em um. Não, quatro. Este texto dramático, além de uma reflexão sobre a Ética, é ainda uma preparação para a abordagem à Estética, que faremos de seguida, e à Argumentação, de que falaremos no próximo ano lectivo.
E permite dar o salto para o tema dos Direitos do Homem.
Por isso, levaram para ler em casa três páginas sobre os Direitos do Homem:
- E estejam prontos para darem conta disso na próxima aula.
 
Fazer a diferença
Continuámos, no 10º ano, a ver a peça de teatro. Eu ia parando o documento e fazendo alguns comentários. No final, o rapaz, que tinha sido considerado culpado quase por unanimidade, é declarado por unanimidade como inocente. Não que ele estivesse inocente, mas porque havia uma “dúvida razoável” sobre as supostas provas que o incriminavam. Durante a discussão, uma variedade de posições e argumentos foram trazidos a debate.
No final, escrevi no quadro:
Eu faço parte.
Eu posso fazer a diferença.

E comentei:
“Fazer parte” é um facto, não está sujeito à minha decisão fazer parte ou não.
“Fazer a diferença” é uma possibilidade, que depende da minha decisão.
Tenho a certeza de que perceberam.
 
Saldo negativo?
Conseguimos fazer alguma coisa. Sobretudo, conseguimos que não vigorasse ali a lei da selva.
Mas não esqueço que perdi para aquela aula quatro alunos.
Aliás, a meio, vieram perguntar se podiam entrar para a segunda parte. Respondi-lhes que não.
- Vocês é que se foram embora, de livre vontade.
Percebi que vinham, ou que podiam vir, agora organizados, dar baile na segunda parte. Eu não iria conseguir controlar a situação. Creio que fui contra as regras em vigor, mas as regras não eram ali funcionais. O essencial era manter o controlo da situação e alguma produtividade com aqueles que aceitavam participar da ordem frágil que tínhamos conseguido.
Sinceramente, não creio que qualquer professor sozinho, muito menos um que vem numa hora de substituição, consiga resolver os casos mais agudos. Estes precisam de outra intervenção.
Há muitos anos que defendo que um professor comum é “de clínica geral” e que, por isso, os casos de especialidade devem ser entregues a especialistas. Que podem e devem ser professores que desenvolveram aptidões especiais.
No final da aula, os alunos que estavam dentro tinham ar de quem não tinham desgostado do que se passou. Os que ficaram de fora não ganharam nada. Eu não fui capaz de altar à altura das necessidades deles? É verdade. Mas não me condeno por isso.
 
Substituição
Quinta-feira, primeira hora. Fui chamado a fazer uma substituição. Naquela turma do 7º ano onde já, uma vez, tinha enfrentado um ambiente difícil. Quando me viram, torceram logo o nariz, como se lhes tivesse saído uma carta indesejada.
Logo ao sentar, houve problemas. Um aluno, aquele que na outra aula tinha criado maior confusão, queria sentar-se lá ao fundo num lugar já ocupado.
- Não, tu vais sentar-te lá à frente.
- Ai isso é que não vou.
- Vais sim senhor.
E, num momento, revi em memória as imagens do duelo do telemóvel. Não podia deixá-lo fazer a briga que queria com o colga, nem deixá-lo lá atrás, mas também não podia eu entrar em briga com ele. Insisti, portanto, mas sem atitude de confronto, que tinha de ir para a frente.
- Então, vou-me embora.
E saiu.
Num outro foco de tensão que já crescia, mandei uma aluna vir para a frente, para o pé de mim.
- Isso é que não vou. Eu não quero fazer nada.
- Eu não disse para fazeres, Disse que vens aqui para o pé de mim.
Peguei-lhe na mochila e trouxe-a para a primeira carteira. E ajudei-a a vir também. De manifesta cara de contrariada.
- Também quero ir-me embora. Posso?
- Tu é que sabes.
Saíram três. Na sala, fez-se um momento de silêncio.
- Podemos jogar?
É claro que não podíamos jogar. Mas também era claro para mim que a coisa não iria ser fácil.
Resumindo: durante toda a aula houve um trabalho de equipa, de equipa formada em treino já prolongado, para sabotar tudo o que poderia ser feito. Como sempre acontece nestes casos, não de modo manifesto, ou enfrentando directamente o professor, mas com bocas dispersas, ruídos estratégicos, comentários foleiros, etc.
Foi necessário ir fazendo frente a todas as situações.
- Têm alguma proposta de trabalho? Que iriam fazer se tivessem aula?
Trabalho de projecto. Quiseram ir à Biblioteca buscar os computadores portáteis para poderem consultar a Internet. Nem pensar, é claro. Eu não conseguiria ter um mínimo de controlo numa aula em que teríamos Internet e nada para fazer aí.
Alguns quiseram fazer os “trabalhos de casa de Inglês”. Seja, então. Os outros, nada.
- Que aula vão ter a seguir?
Português. Óptimo. Vamos ler, que vocês precisam de saber ler. E escrever. (Contestação geral.)
- Ainda há pouco, em Abrantes, um engenheiro esteve quase a ser despedido por não saber escrever em condições os relatórios que tinha de fazer.
- Eu não quer ser engenheiro.
Burro! Eu, claro. Como é que vou querer motivar-lhes um comportamento com uma profissão que está completamente fora do seu imaginário pessoal?
Abrindo brechas por dentro da confusão, lá abrimos o livro, pedi a uma aluna que viesse para junto de mim, para eu poder ler pelo livro dela, e eles escolheram um texto dramático. Distribuímos as personagens e entreguei também a leitura das indicações de cena. E começou a leitura.
Havia um silêncio relativo. E um relativo trabalho de boicote. Por várias vezes, três?, tive de retirar folhas de jogos. Mas a leitura continuava. Aqui ou além, referia que podia haver uma leitura melhor. No final da cena batemos palmas aos leitores.
E fizemos assim em três cenas diferentes.
Parámos, porque eles estavam já a ficar pouco atentos. O tempo de concentração deles é curto.
- Pegam no caderno ou numa folha de papel – não é para entregar! – e vamos escrever.
Alguns dos que estiveram a ler quiseram agora fazer os trabalhos de Inglês. Que façam. Aos outros, fiz-lhes um ditado.
Agora, abrem o livro e vêem quantos erros deram. Zero, um, três...
- Então, escrevem três ou quatro vezes cada uma dessas palavras para aprenderem a escrevê-las.
E assim fizeram. Entretanto, era hora de arrumarmos as coisas, e sair.Doía-me a garganta do esforço feito. No intervalo, tive de fazer alguns exercícios de recuperação. E seguir para a próxima aula.

terça-feira, abril 8

 
Mistério
Há anos, há décadas mesmo, que «a qualidade da escola vem a decair» e que «os alunos sabem cada vez menos», em que «caminhamos para um abismo sem retorno». É a cada vez mais nítida ignorância geral.
Contudo, o desenvolvimento técnico e científico é cada vez maior. E em Portugal, contra aquilo a que estávamos habituados, há casos e casos de manifesto êxito internacional, tanto entre estudantes como entre cientistas e entre empresários.
Se toda a formação desce de qualidade e os êxitos num mundo cada vez mais exigente são indiscutíveis... donde vêm estes êxitos?
Se não vêm da educação e da formação, só podem vir... Donde?
 
Milagre
Só pode.
Num “país de choldra” em que nada presta, nem o sistema político, nem os ministros da educação, nem os pais, nem os psicólogos, nem os sociólogos, nem os “cientistas da educação”, nem a sociedade civil, repito, neste “país de choldra”, só se aproveitam os professores.
Eu fico muito satisfeito, é claro.
Mas intrigado.
Que terá acontecido para que no meio de tanto esterco só se aproveitem os professores?
Foi um acto inteligente de escolha dos melhores para professores? quem, embora sem qualidades, os escolheu? Ou terá sido um vírus que empestou todos menos os professores? e por que não os professores?
Sinto-me grato por estar a salvo desta hecatombe civilizacional. Afinal eu sou de uma espécie superior.Apesar de, no meu tempo, também ter ouvido, sobre mim e a minha geração, mais ou menos o mesmo discurso que hoje ouço sobre a actual. Afinal, os mais velhos desse tempo não tinham razão nenhuma.
 
Os médicos
Há muito que os estudos do sector vêm mostrando a importância ou os efeitos do que os médicos pensam e sentem na evolução dos seus doentes. E é por isso que se fazem experiências duplamente cegas: para que essa projecção do médico não actue sobre o doente.
Para quem quiser um cheirinho, pode aceder-lhe em “Como pensam os médicos”, de Jerome Groopman, da Casa das Letras.
Aí é dito, preto no branco, em síntese, que «a maioria dos doentes se apercebe dos sentimentos negativos do médico» (p. 36).
E o nosso conterrâneo José Falcão Tavares diz que «há lacunas importantes da comunicação médico-paciente, exigindo maior apoio formativo. Atitudes invasivas e não treinadas podem danificar em definitivo a relação de confiança.» (Falcão Tavares, “O mundo da família” Laboratórios Bial 1994).
Quando é que se efectuam estudos sobre o modo como pensam os professores? Há-os, mais raros, mas não são divulgados. Porquê?
 
Pela boca...
Estes textos (como o que acabo de referir) são muito importantes.
Eles revelam como os professores pensam. Não é preciso acusar os professores, eles denunciam-se e mostram uma – apenas uma – das razões da crise que denunciam.
Quem assim pensa, assim age. E quem assim pensa e age, só pode criar monstros.
Sabemos há muito que aquilo que uma pessoa pensa e sente transparece com grande facilidade para os outros, que reagem na “justa” medida, mesmo sem se darem conta do processo.
O que cabe perguntar é: Como é que é possível que este modo de pensar se denuncie deste modo tão sincero e arrogante, tão sério e legitimado por si mesmo? Que se passou e se passa para que isto esteja a ser possível? Como é que esta conversa ainda pose ser considerada séria num país que se diz no Se. XXI?
 
O diagnóstico
De Vila Real vem a descrição dos monstros (este termo é meu, mas só pode, não é), e vem também a lista dos responsáveis pela monstruosidade:
O sistema político
Muitos ministros da Educação
Maria de Lurdes Rodrigues em concreto
Pais
Psicólogos
Sociólogos das “desigualdades”
Espúreos “cientistas da educação”
Sociedade civil
enfim, Este país de choldra.
Excepto, é claro, só podia,
excepto os professores
que, necessariamente, não têm qualquer responsabilidades.
Os professores são apenas vítimas, coitados,
sem qualquer responsabilidade no que se passa.
 
É mentira
Os meus alunos... são:
Trogloditas
Selvagenzinhos
Impunes e com a sensação de impunidade
Mal-educados
Habituados à violência
Turmas indisciplinadas e selvagens
Hordas de alunos arruaceiros e selvagens
Não sou eu que digo. Lê-se por aí neste tempo de reflexão (!!!) crítica (!!!) sobre educação. Por aí, escrito por professores. Só pode, não é?
Estas pérolas, por exemplo, vêm no Público (8.4.2008), nas Cartas ao Director.
Eu quero dizer que, se isto é verdade em geral, como se quer fazer crer, é mentira no meu caso particular.
Este é o meu 35º ano de actividade como professor e nunca encontrei nada parecido com o que aqui é dito a partir de Vila Real.
Os meus alunos não são assim, nem nunca foram.
 
GIF
O Grupo de Intervenção Filosófica continua a trabalhar. Ao fim da tarde, decidiu sair à rua. O programa já começou a ser esboçado. A seu tempo se saberá.
 
A ética kantiana

A ética kantiana é uma ética deontológica, em que o valor das acções é determinado pelas intenções do sujeito, ou seja, aquilo que o sujeito pretendia fazer, e não os resultados obtidos. Este tipo de éticas não nos indica o que devemos fazer, mas sim como devemos decidir, utilizando neste caso a razão para nos orientar nas nossas decisões.
Este tipo de ética é uma ética formal, ou seja, é vazia de conteúdo, pode dizer-se que é uma ética de princípios ou de valores.
Kant viveu durante o Sec. XVIII, pelo que passou por um período de mudança, a Revolução Francesa (1789). Foi a partir deste período que o homem começou a recorrer à Razão nas suas decisões, em vez do que Deus, a religião, lhe dizia como sendo a escolha mais acertada. Desta forma, Kant defendia que o homem só seria livre quando decidisse pela Razão.
Kant defendia também o imperativo categórico (obrigação sem discussão), o que significa que a Razão estava acima da liberdade e até da felicidade.
O seu valor máximo era a boa vontade, agia-se por amor ao dever.
Raquel Lalanda, 10ºC

Kant viveu entre o século XVIII e o XIX. Antes deste tempo, vivia-se numa sociedade que se limitava a Deus e limitava-se a aceitar tudo o que era dito em termos religiosos. No entanto, durante o período em que Kant viveu, especialmente a partir de 1789 (Revolução Francesa), isso mudou, deixou de haver um pensamento vertical.
Assim, nasceu a ética kantiana. Esta tinha como autoridade máxima a Razão: esta estava acima de tudo, de todos os valores, até mesmo da felicidade. E, visto o homem ser dotado de razão, era um ser livre, sendo que, para Kant, ter liberdade era fazer o que a Razão “ordenava”, visto a liberdade também estar subordinada [?] à Razão.
Sendo o homem livre, este era moral. E, na perspectiva de Kant, agia-se moralmente quando se fazia algo que se pudesse tornar numa lei universal – imperativo categórico.
O valor máximo que se queria atingir então era a vontade boa, agir por “amor” ao dever, ou seja, segundo o imperativo categórico, e não por obrigação [ou por interesse] em conformidade com o dever.
Marta Lopes, 10C

Kant defendia que aquilo que estava acima de tudo, na vida de um homem, era a Razão. Segundo Kant, um homem atingia a felicidade quando agia por amor ao dever, quando se regia pela Razão. Isto implicava também que os sentimentos, os desejos, os sentidos, ficassem em segundo plano. O valor máximo a atingir era uma vontade boa.
A lei moral de Kant era, por isto, muito simples: age apenas segundo uma máxima tal que esta se possa tornar numa lei universal. – Imperativo categórico.
Como facilmente podemos constatar, esta ética kantiana tem alguns pontos fracos. É o caso das excepções à regra. Segundo esta ética, sabemos sempre que, por exemplo, matar é errado, é imoral. Independentemente de qual tenha sido a intenção dessa acção, ela é sempre imoral. Eu até posso matar em legítima defesa. Segundo esta ética, serei sempre condenada da mesma forma que se o tivesse feito de forma intencional.
Tem também um ponto forte: enuncia de forma clara os princípios morais. O que está certo e errado. O que é moral e imoral
Joana Paulo, 10C
 
Tu podes fazer a diferença
Na segunda metade, começámos a ver um trecho da peça de teatro “Doze homens em fúria”, que eu intitulei para nós “Tu podes fazer a diferença”.
Doze jurados vão decidir se um jovem de 18 anos, acusado de ter assassinado o pai, é culpado ou inocente. O veredicto parece óbvio: culpado. E a pressa que quase todos têm ajuda a decidir rápido. Mas, por lei, terá que ser por unanimidade.Contudo, a votação mostra um voto por “inocente”. Vão ter que discutir. Que aborrecimento!
 
Kant
Voltámos à ética kantiana. Os alunos encarregues do serviço expuseram os seus dados e eu fui completando aqui e além. Depois, porque nada fica feito na exposição, mas tudo deve evoluir para um discurso pelo próprio aluno, passámos à fase seguinte:
- Agora, pegam numa folha e escrevem o título, A Ética Kantiana, e fazem um texto em que expõem o pensamento deste filósofo.
Houve as naturais reclamações, próprias da encomenda e mais ainda de uma manhã de segunda-feira... mas cada um fez aquilo de que foi capaz. Alguns quase nada, outros já bem bom para a situação.
Deixo três exemplos, feitos em situação de aula (publicação autorizada).
Do ponto de vista técnico, podemos fazer reparos. Mas para alunos do 10º ano que têm uma hora de exposição sobre Kant, não está mau. Mas, é claro, esta não é a paisagem normal nas duas turmas.

domingo, abril 6

 
Atenção
A Joana, que é uma querida, continua atenta ao que se passa e vai dando notícias de nós.
É obrigatório espreitar:
http://joanarssousa.blogspot.com/

sexta-feira, abril 4

 
Qualificar as escolas
Olhemos para as nossas escolas. Por exemplo, a Solano de Abreu e a Manuel Fernandes, que conheço melhor. Comparemo-las no que foram há 30 anos e no que são hoje. Há alguém que tenha dúvidas de que o bar e a secretaria de cada uma delas deu saltos enormes de qualidade de então para hoje? Sim, prestam hoje um serviço que responde a maiores exigências de qualidade. (O da minha escola está agora em obras, mas isso não vem ao caso.)
Mas há alguém que possa garantir que o núcleo daquilo que a escola faz - socialização, educação e instrução – se faz hoje melhor, responde hoje a maiores exigências de qualidade? Não, ninguém pode garantir uma coisa dessas.
Então, podemos ver que o desafio que se coloca às escolas passa por qualificar o miolo, o núcleo, a essência daquilo que a escola faz. Repito: socialização, educação e instrução. Se não o fizer, a escola vai chumbar no exame. Não tenho disso a menor dúvida.
 
Qualidade e Competitividade
Mal tive tempo de comer qualquer coisa, já estava no Tecnopolo para proferir uma comunicação no âmbito da Semana da Qualidade e Competitividade. Fui indicado pelas escolas para dar conta do que tem sido feito por elas neste domínio.
Para isso, tinha-me informado junto das escolas e tinha produzido um texto que ia ler com o apoio de uma projecção.
Na mesa, além da moderadora, por acaso a minha mulher em representação de organização do evento, estavam também o Director da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes e o Director (não deve ser o nome do cargo, talvez administrador) da Tejo Energia, responsável pela Central do Pego.
Procurei apresentar duas grandes ideias: primeiro, que tem sido e está a ser muito o trabalho das escolas, desde o jardim de infância e primeiro ciclo até ao secundário, na Qualificação dos seus alunos e mesmo no domínio da formação profissionalizante, contra a ideia comum de que “já não há” formação profissional nas escolas; depois, que as escolas têm ainda muitos problemas por resolver, o que exige um esforço de Qualificação do seu próprio processo produtivo, o que será a tarefa da próxima geração, se quiserem ter o sucesso que desejam.
Já passava das 23h00 quando saímos. Tinha sido um serão interessante. E muito mais haveria para dizer, mas o tempo não é elástico e a sexta-feira era dia de trabalho.
 
Nas Fontes
Quinta-feira, 18h30. Nas Fontes, eu era o convidado para falar para / com os pais das crianças dos jardins de infância e do primeiro ciclo de Fontes, Carvalhal e Souto. E as educadoras e professoras, é claro.
Éramos aí umas 40 pessoas. O tema era eterno: como ajudar o meu filho a ter sucesso na escola. Eterno, apesar de nem sempre ter havido escola, mas no sentido de que sempre os pais quiseram o sucesso dos filhos.
Primeiro, passou uma montagem audiovisual produzida por uma das professoras. Muito oportuna, centrava as pessoas no tema.
Depois, conversámos durante uma hora. De forma aberta e animada. Eram oito horas quando demos a sessão por terminada. Creio que saímos todos satisfeitos. Eu gostei muito de encontrar, mais uma vez e sempre, os pais com os mesmos problemas e os mesmos objectivos.
No final deram-me três prendas: um quadro pintado pelos alunos do Jardim de Infância e da escola do primeiro ciclo de Fontes, outro pelos alunos da escola do primeiro ciclo do Souto e uma flor-de-abrir, em papel, dos alunos do Jardim de Infância e da escola do primeiro ciclo do Carvalhal.
Regressei satisfeito. O maior presente foi mesmo ter participado deste esforço que ali estão a fazer pais e professores de construir hoje os homens e mulheres de amanhã. Os outros presentes ficam como memória deste fim de tarde.
Mas regressei também com outras memórias. De quando fui membro da Comissão Instaladora da então recentemente criada Freguesia das Fontes. Ou das vezes que ali fui, de noite, ao curso de alfabetização que ali ajudei a criar já há quase 25 anos. Ou dos tempos em que eu fui professor de algumas das pessoas presentes: mães, uma professora e uma funcionária. Já estou velho. Felizmente.
 
Outra vez
Na outra turma, as coisas foram semelhantes.
A mesma dificuldade em aclarar os conceitos e a mesma insegurança dos que iam expor. Mas as coisas correram também de um modo satisfatório. Pelo menos para mim.
E digo isto porque houve dois episódios menos felizes.
Na primeira parte, na aclaração de conceitos, foi difícil segurar as pontas ao processo. E, às tantas, nem eu sei bem porquê, já eles tinham substituído a procura pela afirmação, que já é teima. E isso é um processo que eu tenho obrigação de não deixar crescer dentro da aula. Quando o debate descai na “briga” em que cada um já só diz e repete o mesmo, não é possível progredir. Ponto final. Foi o que fiz. Não há mais discussão. E disse isso mesmo: porque a procura foi substituída pela simples afirmação.
No final, também não houve tempo suficiente para debater aquilo que os alunos tinham a dizer contra Kant. Veremos isso depois. É natural que não tenham a perspectiva de Kant, nem o nosso objectivo é que se tornem kantianos. Mas, primeiro, têm de saber (que não é o mesmo que adoptar) a posição de kant; depois, sim, podem, e devem, afirmar a vossa posição. Mas eles queriam já dar caça ao homem. Teve mesmo de ficar para depois, que era hora de almoço.
- Podemos discutir isto no GIF?
- Bom fim-de-semana.
 
Kant
Um grupo de dois fez a apresentação da “necessidade de fundamentação” da moral.
E passámos ao grupo seguinte: apresentação da ética kantiana.
Já me tinham dito que não percebiam nada daquilo. Que era terrível. A Margarida até me tinha chamado um nome tipo “malvado”, mas um tom que dizia mais insegurança do que acusação. Eu tinha-lhe dito que não fazia mal: queria que eles experimentassem que nem sempre as coisas são como a escola faz crer: seguras, firmes, eternas e imutáveis. Que podemos progredir expondo as nossas perplexidades. Era isso que lhes pedia que fizessem.
Ao apresentarem-se frente à turma disse isso mesmo: que estavam em situação de insegurança, mas que a vida é assim muitas vezes. E começaram.
Competia-me servir-lhes de almofada. Ir aproveitando tudo o que pudesse ser aproveitado na sua exposição e corrigir ou ampliar o que fosse necessário ou possível.
Correu bem. No fim, a Margarida veio dizer-me que afinal eu não era “malvado” ou lá o termo que disse.A aula correu bem. No geral, tranquila, em regime de trabalho. Participado. Talvez as coisas não tenham ficado muito organizadas, mas isso será para depois.
 
Divisão de tarefas
Enquanto alguns colegas acabavam de preparar as apresentações que iam fazer, os outros iam dar conta dos conceitos que íamos rever. Foi um pouco difícil esta últimas tarefa, por duas razões: porque eles tinham dificuldade em aclarar os conceitos, mas sobretudo porque não estavam disponíveis para isso. Era preciso puxar a saca-rolhas, e era preciso obrigá-los a escrever os conceitos aclarados. Num caso ou noutro, sob resmungo. Mas por que devo eu dar-me ao trabalho de suportar a resmunguice daqueles que mais precisam? Porque eles são uns tolitos que não sabem nem sentem o que lhes é preciso. Nalguns casos já desistiram e é preciso ir buscá-los ao fundo do poço. Contra a vontade deles? Sim. E não. Sim, porque já desistiram. Não, porque eles apenas não sabem que ainda talvez seja possível... se. Se não desistirem. E o problema, penso eu, é justamente este: não é neles que está a possibilidade de quebrarem o círculo vicioso. O que não significa que eu seja capaz de fazê-lo.No final, apesar de alguns resmungos, o serviço fez-se.
 
GIF
Numa das turmas, 10º C, duas alunas deram conta aos colegas de que tinham fundado o GIF – Grupo de Intervenção Filosófica. Um grupo que se juntou para ir além do que as aulas permitem. Ao fim da tarde, o grupo realizou mais uma sessão.
 
Experimentar
É mais uma experiência.
Ainda há dias ouvi alguém acusar as experimentações na educação. Que não, que temos de acabar com isso.
Eu sou de opinião contrária. Num mundo em que tudo muda, é inevitável continuar a procurar e encontrar novas formas, mais eficazes, de resolver os problemas, que são novos também.
São os mais novos que têm mais responsabilidade na inovação. Até se diz que a verdadeira inovação ocorre com a morte dos mais velhos. Mas não me sinto dispensado, apesar de já fazer mais parte do mobiliário que do activo da escola.
O que é necessário é que a experiência seja feita com o máximo de cuidado e tendo em atenção os interesses dos alunos e vistos também por eles.
 
Regresso
Numa das turmas saudámos com uma salva de palmas o regresso de um dos alunos que esteve quase todo o trimestre ausente.
São melhores os dias em que recebemos sinais de que a vida dos nossos colegas e amigos está a melhorar.Vamos ter de encontrar forma de ajudá-lo a fazer a recuperação possível.
 
Recomeçar
«A felicidade é saber o que se quer e querê-lo apaixonadamente.» Félicien Marceau
Foi com esta frase escrita no quadro que iniciámos o novo período.
Depois, fiz nova distribuição dos alunos pela sala. Os que tiveram menos bons resultados ficaram à frente e os que tiveram melhores resultados foram lá para trás.
Como seria de prever e é sintomático, alguns dos que ficaram à frente reclamaram por terem ficado à frente e alguns dos que foram lá para trás reclamaram por irem lá para trás.
E expliquei.
- Isto é sinal de que a guerra vai começar. Não a guerra contra vocês, mas contra aquilo que vos impediu de terem resultado positivo. E quero saber se estou sozinho ou bem acompanhado nesta guerra. Porque não quero lutar sozinho.
De seguida, ditei-lhes uma lista dos conceitos que estudámos no trimestre passado. E distribuí os primeiros pelos alunos que tiveram menos bons resultados.
- Para a próxima aula vão explicá-los aos colegas. Estes são os conceitos que devem saber explicar e definir e que devem ser capazes de utilizar nos vossos textos. Vamos a isso.
E fomos ler e comentar uma lição de resumo da matéria dada. Foi ainda oportunidade para esclarecer alguns dos conceitos e para insistir com os que estavam mais perto de mim.
Agora é um pouco mais fácil conter o desejo de responder dos que têm melhores resultados – estão mais longe; mas não é mais fácil fazer falar os que estão mais perto.
Além disso, foi manifesta a dificuldade em fazer progredir a compreensão de alunos que não são capazes de acompanhar com atenção aquilo que se está a fazer. Dá a impressão que têm de fazer esforço para conseguirem não ouvir o que estamos a dizer.
No final, distribuí tarefas para os lá de trás: eles vão explicar aos colegas os dois pontos da matéria seguinte.
 
Susto
Passei quase todo o domingo a tentar recuperar o acesso a este blogue. Não ia ser fácil inicial outro e dar continuidade aos contactos que já temos por aqui. Felizmente voltei a ter o acesso perdido. Problemas de quem nasceu há tempo demais para estas coisas, ou que tem prática de menos.

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