sábado, abril 19

 
Kant afinal?
Entreguei os textos corrigidos, chamando a atenção para os problemas detectados.
Depois, mostrei-me escandalizado.
- Vi nos vossos textos que mais ou menos unanimemente criticam e acusam os onze jurados de não terem testado a sério, como deviam, as provas que acusavam o rapaz. Que vos permite acusá-los de não terem cumprido o seu dever. Dizem mesmo que cada um de nós podia ser aquele réu, e gostaríamos de ver os nossos interesses defendidos como deve ser. Que vos permite dizer isso?
Ficaram baralhados. Parecia-lhes evidente, digo eu, e parecia-lhes evidente que também o deveria ser para mim, continuo eu a dizer. E foi isso mesmo que disseram: insistiram em que eles deviam cumprir a sua tarefa de jurados como deve ser, etc. Notava-se nos seus olhos que não percebiam a minha objecção. Que não existia. Por isso continuei.
- Então, quando estivemos a apresentar a ética kantiana, vocês levantaram-se contra ela, deram na cabeça de Kant até poderem, e agora dizem que os jurados devem cumprir o seu dever? Recusaram a universalidade kantiana e vêm agora dizer que o réu pode ser cada um de nós, portanto cada um dos homens? Afinal, que vos permite criticar Kant se depois, a argumentar se assumem quase como kantianos?
- É que Kant era um extremista!
- Ah!, um extremista. E qual é a fronteira entre o dever que deve mesmo ser cumprido e o que já não precisa de ser cumprido? Eu creio que sei: devem ser cumpridos os deveres dos outros para com vocês, os que vos interessam, e já não precisam de ser cumpridos os vossos deveres para com os outros, os que não vos interessam. Será?
Foi à volta deste ponto que discutimos um pouco. Para eu concluir:
- Não é tão fácil como parece fugirmos à ética kantiana, quando levamos a sério a ética e os direitos humanos de cada um dos homens.
Aposto que gostaram desta estratégia. Nem todos, é claro.
Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
 
é verdade que muitos de nós concordaram que os jurados deveriam ter cumprido o seu dever. Mas isso não faz de nós mais ou menos kantianos. Nós apenas concordámos com um (dos muitos) pressupostos da ética kantiana. Para sermos kantianos, teríamos de estar de acordo com (quase?) tudo o que esta ética defende.Da mesma maneira, o facto de eu concordar com o mandamento 'Não matarás', não faz de mim cristã.
Mas os nossos textos permitiram mostrar que não somos completamente anti-kantianos. E mais, mostrou que e dificil fugir, nao à ética kantiana, mas sim a alguns dos seus pressupostos.
 
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