quinta-feira, junho 12

 
“A invenção do Amor”
Última aula. Que havemos de fazer que tenha sentido? Apesar dos pedidos, poucos, serem de “deixe-nos ir embora” ou, mais neste caso, de “deixe-nos sair mais cedo”.
- Vou ler-vos um poema. Um poema de amor. Por acaso é sobre o amor entre um homem e uma mulher. Mas podia ser – e aqui significa – qualquer forma de amor, porque qualquer forma de amor é uma forma do mais fundamental Amor à Vida. E não há nada mais importante. Será, portanto, uma homenagem a todos os que amam a Vida, portanto também a vocês na medida em que amam a Vida. E é, é claro, um desafio e um convite ao Amor à Vida em todas as suas formas.
Depois, expliquei que é um poema onde se torna nítida a sociedade portuguesa do tempo da ditadura, com todos os seus constrangimentos. Lembrei-lhes o caso recente da Birmânia, onde a ditadura impediu o acesso do socorro humanitário para que a ordem política não fosse contagiada. Referi que o poema era um pouco longo para o que estamos habituados, mas que valia a pena. Disse, inclusivamente que é um poema tão bonito que esteve na origem do nome que pusemos ao meu filho, Daniel Filipe.
E li. O melhor que pude.
Percebia-se que estavam a gostar.
Depois, despedimo-nos com um voto verdadeiro de Boas Férias.
Nalguns casos, foi um Até Sempre, pois vão mudar de escola para efeitos de mudança de curso.
 
A greve
Penúltimo dia de aulas. Greve da função pública. A escola não abriu.
A turma da ficha sobre a aula anterior não teve a última aula, que deveria casar a sessão sobre a música com a que seria no dia seguinte a aula da outra turma.
São os custos, quer de termos tido que fazer a ficha, quer da greve. O que mais me custou foi não me poder despedir deles. Afinal, foi um ano intenso de trabalho. Mas não ficaram dispensados de entregar o texto de balanço.
 
A música
Era a última aula com condições de ser aula. Dediquei-a à música. Por isso entraram ao som de música.
Começámos por uns momentos de música clássica, a 5ª sinfonia de Beethoven, depois saltámos para uma peça de música erudita contemporânea, para fazermos um contraponto. De seguida, visitámos várias peças de música coral, que eu queria terminar com um trecho cantado pelo Orfeão de Abrantes, para lhes chamar a atenção para o facto de que também por cá há vários grupos a produzir música.
Fizemos depois uma viagem pela música religiosa. A música exprime algo que vem de dentro. A actividade religiosa e os valores religiosos são a outra parte do programa que não demos, porque escolhemos, em alternativa, a actividade estética e os valores estéticos. Vamos ver como diferentes culturas exprimem a sua religiosidade cantando. E ouvimos pequenos trechos de música religiosa tibetana, gregoriana e ortodoxa russa, entre outras.
Para terminar, fizemos um pequeno “concurso”: de que cultura, de que povo são as canções que vamos ouvir? Índios americanos, gregos, peruanos, tuaregues, e outros passaram pela nossa sala sob forma musical. O que dissemos em conclusão foi apenas o reforço do que tinha ficado evidente na actividade.
 
O balanço
Porque é mais fácil em casa e porque têm mais tempo para prepararem o que devem dizer, marquei para a aula seguinte um texto de avaliação e balanço do que foi este ano.
- É obrigatório fazer. Porque é a forma de pagarem aos vossos colegas dos anos anteriores o que com os seus balanços me ajudaram a perceber o que resulta mais e menos. E vocês devem-lhes o que de melhor eu consegui fazer convosco. Os vossos textos vão ser vir para os alunos seguintes. Que, em princípio serão vocês no próximo ano. Por isso, podem apresentar sugestões.
Não houve reclamações.
 
O design
A sociedade de produção em série e de consumo generalizado traz vários problemas. Por exemplo... E, com a ajuda do livro, levantámos alguns.
Mas fiz questão de começar por recuperar alguma informação que eles já devem ter.
- Se são problemas novos, isso quer dizer que antes desta sociedade havia outra. E vocês já sabem como era, porque já o estudaram, pelo menos em História. Vamos lá caracterizá-la.
É importante estabelecer articulações com outras disciplinas. É importante que os alunos se habituem a mobilizar conhecimentos adquiridos - também noutras disciplinas - para terem um papel activo na procura e organização do conhecimento. É mesmo muito importante que eles experimentem a utilidade dos conhecimentos (anteriores) no próprio processo de construção e organização do conhecimento. É muito bom que eles se sintam capazes de resolver problemas intelectuais com conhecimentos que só aprenderam na escola.
E lá construímos em conjunto uma caracterização da sociedade pré-industrial em confronto com a sociedade industrial: produção artesanal / produção em série, rural / urbana, etc.
Depois, sobre isso, tratou-se de descobrir, com o apoio do livro, que problemas é que isso traz no campo da estética.
Na segunda parte da aula, apresentei alguns objectos de design. Objectos de produção em série, mas onde o aspecto estético estava casado com a melhor funcionalidade. Um clip, de certo modo símbolo máximo do design, uma garrafa tradicional e um de elevado design, que analisámos em conjunto, etc. Mas fiz também questão de lhes apresentar um cocho e uma base para incenso, para poderem constatar que há ali de certo modo o mesmo que no objecto de design técnico: são objectos dotados de beleza e mesmo elegância, perfeitamente adaptados à sua função pois nada se lhes pode tirar sem prejuízo... A grande diferença é que o design é baseado num método de investigação sistemática que deve levar a um resultado qualificado.
Gostaram.
 
A ficha
Creio que até ao último momento houve a expectativa de que não haveria ficha. E iam nesse sentido algumas intervenções de última hora. Eu reconheço aos alunos o direito de tentarem levar a água ao seu moinho. Mas, na hora, a ficha foi distribuída para resolução. E era sobre a matéria da aula que tinha ficado em falta. Sem comentários ou reclamações.
No final, depois de recolher as respostas, disse:
- Sei que há quem queira reclamar, sempre disse que não são obrigados a concordar comigo, quem tiver alguma coisa a dizer é agora o momento de fazê-lo.
E houve quem o fizesse. É bom que os alunos possam apresentar os seus pontos de vista, as suas reclamações. Por vezes, a decisão final pode ter em consideração os seus pontos de vista, noutras ocasiões, como esta, nem pensar. Mas isso não impede que possam expressá-las. Terminei com uma palavra de respeito por quem pensa diferente e passámos a diante.
Mais tarde, mais que um aluno me agradeceram pela lição que lhes tinha dado: que têm de caminhar para o que querem e precisam, dito na minha linguagem.
Este episódio, no entanto, roubou meia aula. Numa ponta final, vai haver prejuízos que não são evitáveis. Resta-me minimizá-los.
 
O regresso
No dia seguinte, senti que havia no ar um ponto de interrogação. Não tínhamos aula, mas não é possível não nos cruzarmos nos corredores.
Por mim, não havia nada a considerar. Era um dia como outro qualquer. Eu não estava zangado, não tinha nenhum contencioso pendente. Cumprimentei os alunos que encontrei como sempre costumo cumprimentar.
Senti que alguma tensão se desanuviava. Também não tive dúvidas de que isso podia estar a ser interpretado como sinal de que não haveria a tal ficha. Mas isso não era da minha conta.
Mais tarde, recebi um mail duma aluna que não tinha ido à aula, a perguntar se sempre era verdade que havia ficha. É claro que há ficha.
 
O gosto e a Estética
Pelo manual, fomos descobrir as diferenças entre Juízo de gosto e Juízo estético segundo Kant.
Os objectivo são múltiplos. O mais importante é levá-los a pensar que no campo da Arte não basta ficar-se pelo gostei ou não gostei. Aliás, em Filosofia encontramo-nos no domínio do pensar argumentativo. E procuramos argumentar face a todo e qualquer homem dotado de inteligência. Portanto, é fácil perceber que Kant distinga estes dois tipos de juízo.
Já sabemos o que é um juízo. “É uma afirmação”, disseram.
Kant distingue três tipos de juízo: científico, moral e estético.
Vamos tipificá-los:
Juízo científico: A é B.
Juízo moral: N é bom.
Juízo estético: X é belo.
O livro dava-nos algum apoio para esta formulação. E as coisas andaram, em regime de procura conjunta dialogada.
O pior foi que, numa das turmas, talvez por estarmos já em hora de pensar mais em almoço que em juízos estéticos e porque começa a pairar um cheiro a fim de ano escolar, não foi fácil conduzir o diálogo e, às tantas tornou-se praticamente ineficaz.
Zanguei-me, talvez seja este o termo. Já lhes tinha chamado por duas ou três vezes a atenção, sem resultados. Lembrei-me que tinha sido aquela mesma turma a ter o menos eficaz comportamento no atelier de Lucília Moita: não que se tivessem portado mal, mas havia um certo ruído perturbador, que denunciava um menor investimento de atenção e concentração no que estava a passar-se. Senti, como sempre, aquilo que mais me incomoda: o funcionamento de uma turma que trabalha contra si própria, que a impede de obter resultados (e isso ocorre justamente nas turmas que mais precisam de resultados, o que deve ser investido para: os menos bons resultados são produto do menos bom comportamento). E a pergunta é sempre a mesma: que posso eu fazer? Sim, porque, nestas circunstâncias só eu posso fazer alguma coisa para corrigir a situação.
Com a intensidade com que estava a viver o momento disse-lhes:
- Se é assim que querem, tudo bem. Para a próxima aula, vamos fazer uma ficha sobre a matéria de hoje. Esta é matéria que devem compreender. Se me estão a dizer que não precisam de mim, tudo bem. Por hoje, não tenho mais nada a dizer.
E sentei-me.
Houve as naturais reacções do “não faça isso”, “não está a falar a sério”, mas nada mais havia a dizer.
Quando saímos, o ambiente estava pesado. Mas o almoço era, então, a maior urgência.
 
Parar, Escrever
Não basta, quando estamos em Filosofia, só em Filosofia?, viver as coisas. É importante tomar consciência delas e pensar sobre elas.
Por isso pedi-lhes um texto sobre a nossa visita ao atelier de Lucília Moita e o nosso encontro com a artista.
Há sempre uma reacção de recusa, de enfado, de resistência. Eu diria que é normal dada a idade, mas é melhor rectificar: dada a nossa natural tendência para resistir ao que não nos nasce de dentro.
Expliquei-lhes, isto é, repeti a importância da reflexão e que a Filosofia é a casa da reflexão. Lá meteram as mãos ao trabalho.
- Lembrem-se de duas coisas. Primeira: o que se pede não é que contem a visita, mas que façam a “vossa” reflexão sobre a visita. Segunda: não comecem já a escrever, pois quem não tem ainda nada para dizer não pode escrever alguma coisa com interesse, e ouviram a nossa pintora a dizer para não se contentarem com pouco.

domingo, maio 25

 
Alegrias e tristezas
Uma das minhas maiores alegrias como professor é ver como alunos que começaram como incapazes apresentam agora resultados que nem eu me atrevia a suspeitar de imediato nem eles se atreviam a esperar. Alguns traziam mesmo uma certeza segura de que nunca seriam capazes. Que agora, felizmente, se vê desmentida. Uma das maiores tristezas é constatar casos singulares em que essa conquista não foi possível ou, realidade muito próxima, ver que alguns alunos dão respostas muito correctas do ponto de vista formal mas em que é visível que são apenas textos “marrados”, produtos entrados na cabeça à força, mas a que não corresponde qualquer significado para quem os escreve. Nota-se que aquilo é “o que está no livro” e não a análise do que se passa no mundo. Nestes casos, há a certeza mais ou menos garantida de que daquele saber escolar nada se vai salvar para a vida. Resta apenas a esperança de que, algum dia, face a uma qualquer centelha, se acenda algum recanto da memória e algo ganhe sentido com base naquilo que na escola foi feito.
 
O baile
Na sexta, baile de finalistas. Alguns insistiram em que passasse por lá.
Passei.
Gostei muito de vê-los tão bonitos, tão a sério naquilo que para eles foi, sem dúvida, um momento alto. Também assim se cresce, também por essa via se fazem as mulheres e os homens que encontramos na escola. Gosto de vê-los aí, nesse outro mundo, fora do controlo escolar. E gosto, para resistir à tentação de reduzi-los à imagem que deles nos dá a sala de aulas.
Eles e elas são sempre mais que aquilo que deles vemos no lugar do nosso poder. Mas, se não os encontramos noutros espaço, só podemos ter deles as imagens escolares. E não é justo.
P.S. – Mais uma vez... Onde andam os rapazes? Havia-os lá, é certo, bastantes. Mas dos meus alunos e ex-alunos... só dois. E isso não pode deixar de ser significativo.
 
Cadáver?
D. Lucília Moita tinha, comigo, uma “pedra no sapato”.
Há muitos anos, numa sessão, creio que no Convento de S. Domingos, na sala onde hoje é o rés-do-chão da Biblioteca, analisava-se a obra de Lucília Moita e eu referi que “pintava cadáveres”. Ficou chocada. E disse-me várias vezes desse choque, mas sempre em circunstâncias que não propiciavam explicações.
E voltou a dizê-lo. Tantos anos depois, o que significa que a marcou fundo.
Foi agora o momento de explicar o que então quis dizer.
- Eu disse que pintava cadáveres - troncos carcomidos, muros velhos - mas como quem procura ressuscitar uma dignidade perdida, encontrar no que é por todos desvalorizado um valor estético que o olhar do artista encontra e nos oferece. E faz isso mesmo também com pessoas socialmente desvalorizadas.
- Ah, nesse sentido estou de acordo. É isso mesmo.A vida é feita de encontros e desencontros. E gostei que este re-encontro tivesse ocorrido frente aos meus alunos. Para eles terem um outro acesso à vida da cidade, que vai para lá da escola e dos circuitos que eles percorrem uns com os outros.
 
Maria Lucília Moita
S. Pedro não ajudou. Estava a chover, mas lá fomos, apesar de os alunos não terem guarda-chuva, que isso agora já não se usa. Mas acabou por ajudar, porque assim entraram todos de uma vez, vinte e cinco, e não por duas vezes como estava previsto. O que facilitou as coisas e estendeu o tempo de encontro.
Devo dizer que eles se portaram muito bem. Apesar da sobrecarga do estúdio, que não foi pensado para uma tão grande afluência, os alunos foram cuidadosos, respeitadores e atentos. Nem outra coisa eu esperava deles, justamente porque eu sabia que eles são capazes disso.
Maria Lucília Moita foi a simpatia, a disponibilidade e o carinho que nela conhecemos. E a artista, claro.
Acolheu-os num misto de artista e avó. Deu conta do seu percurso, tanto pictórico como literário, explicou um pouco os problemas da procura e as técnicas de resposta, mostrou o seu percurso como pintora, chamou a atenção para as grandes mudanças na sua obra, falou do coração, partilhou o seu encantamento com a vida e incentivou-os do início ao fim a que fossem insatisfeitos, a que não se contentassem, a que procurassem sempre mais.
Quando saímos, havia por dentro deles algo de subtil e intangível... que dá pelo nome de experiência estética. Foi precisamente por isso que ali fomos.
Obrigado, D. Lucília Moita.
 
Lutas - 2
Outra luta, bem mais complexa, é a dos alunos que escrevem mas para quem, aparentemente, as palavras não significam. Escrevem frases que não têm sentido, que eles próprios não são capazes de dizer de outro modo. Como se as palavras fossem... sei lá. Peças de roupa que se escolhem de um armário e tanto podemos vestir esta como podíamos escolher aquela. São frases cuja escrita parece estar desligada dos centros nervosos da significação.
Mais visível ainda é a leitura. Há muitos alunos que lêem apenas de modo mecânico. Dizem as palavras, mas é um dizer sem conteúdo. As palavras são sons, não se articulam em frases com significado. Essas leituras fazem-me sempre recordar as minhas primeiras aulas de grego. O professor ensinou-nos a ler e... pouco depois já estávamos a ler os textos finais da selecta (era assim que se dizia). É claro que não podíamos saber o que líamos, mas dizíamos o som do que lá estava escrito. Alguns, demasiados, dos meus alunos também são assim. Não lêem, dizem.
 
Lutas - 1
Tenho, como professor algumas lutas clássicas.
Uma delas é o título com aspas. Onde é que eles terão aprendido que o título se escreve entre aspas. Sim, porque eles aprenderam. Melhor, alguém lhes ensinou, e de forma tão eficaz que eles assim o escrevem e defendem o modelo. Costumo não discutir. Antes pego numa revista e num livro e digo: encontrem-me um título (que não seja citação) entre aspas e eu aceito. Deixam de argumentar, mas há sempre um ou outro que reincide.
Outra luta, perdida, é escrever Homem, portanto com maiúscula. Pergunto-lhes pela regra da gramática que lhes permite uma tal grafia, mas, mesmo sem resposta, insistem na famosa dignidade humana, tão digna que se perde se for utilizada a minúscula.Outra ainda, no 11º ano, é a escrita de “ciêntifica”. Luta perdida. Acaba o 11º ano e são vários, ainda, os alunos que escrevem desse modo. Há alguém que explique isto?
 
Que é o homem?
Quarta-feira. Reunião de Departamento, seguida de reunião (não formal) do Grupo de Filosofia. Mas tive de faltar.
Estive a dirigir uma sessão de formação de professores de Filosofia. O objectivo é promover o encontro dos professores de filosofia (que frequentam a acção) com as recentes conquistas da ciência. Por isso chama-se a acção de formação: De novo: O que é o homem? Não é aceitável que se continue a pensar como se as ciências não estejam a dizer nada de importante. A pergunta é a mesma de sempre, a resposta é que tem de ser recolocada de novo, com os meios de resposta que hoje temos à nossa disposição.
Creio que foi uma sessão bastante produtiva.
 
Mudança?
Confirma-se. A escola não mudará verdadeiramente enquanto não se sentir – sentir! – obrigada, de fora, a fazê-lo. É inútil acreditar em milagres.
Quem troca o certo apenas pelo risco ameaçador?
Mudança? Só quando o certo passar a incerto, ou mesmo ameaçado.

quinta-feira, maio 22

 
A obra, o artista - 2
Depois de uma pequena pausa, a meio da aula, transitámos do livro para o mundo. Digo do livro, porque diz-me a experiência que os alunos lêem o livro e não o mundo através do livro. Por isso, fiz questão de dar clara notícia de que é do mundo que falamos. E mesmo do nosso mundo do pé da porta.
Peguei num livro que é uma antologia de poetas populares de Abrantes e li-lhes o primeiro poema, por sinal sobre a liberdade, de que tanto temos falado aqui. E disse-lhes que eu próprio, com outra pessoa, era um dos antologiadores: - Digo-o não para falar de mim, mas para dizer que se ninguém fizer o trabalho de salvaguarda desta arte popular, ela desaparece sem deixar rasto. E o mesmo acontece com muita outra arte, que é preciso preservar e divulgar, para que chegue até nós.
Depois, mostrei-lhes um livro sobre arquitectura popular nesta zona de Abrantes. E disse que era outro trabalho que alguém tinha feito, Rui Serrano, também sobre uma arte que é popular mas nem por isso deixa de ser arte, nomeadamente arquitectura. E comentei ao de leve algumas imagens de pormenor.
De seguida, apresentei-lhes uma revista, inovadora, publicada pela Delegação da Ordem dos Arquitectos em Abrantes.
E passámos para a pintura. Mostrei-lhes um livro sobre Mário Cordeiro, de que a Câmara organizou uma exposição retrospectiva. O livro salva a memória do que fez em artes plásticas, mas falta ainda salvar a sua poderosa escrita, que não foi ainda publicada, salvo alguns textos creio que já esgotados. Tinha, é claro, a intenção de lhes passar a ideia de que há “tarefas” que precisam de ser feitas, e algumas com urgência.
Finalmente, sim, finalmente, falei-lhes de Maria Lucília Moita,
“uma artista que mora aqui na rua”
sobretudo como pintora e desenhadora,
mas também com obra escrita.
Li-lhes um poema e pedi-lhes que escrevessem um fragmento de outro. E apresentei-lhes a obra que a Câmara editou, com um estudo especializado, sobre a sua obra visual.
Para terminarmos com uma notícia. A próxima aula será a visita ao atelier da artista e um encontro com Maria Lucília Moita.Tratem de ler o que vimos hoje e vejam o que podemos perguntar à senhora. Não vamos para lá como turistas.
 
A obra, o artista - 1
O título, no livro, é
“A criação artística e a obra de arte”
e é o momento oportuno, penso eu, para olhar para perto de nós.
Comecei por perguntar “o que é um artista?” e pedir uma resposta com os elementos de que já dispomos. “Artista é aquele que produz uma obra de arte.”
Houve quem dissesse, na sequência das aulas anteriores, que também aquele que aprecia uma obra de arte é um artista. Sim. E, com a noção de “obra aberta”, de U. Eco, e os conceitos de ambiguidade e conotação, afirmei que a obra de arte é sempre incompleta e que aquele que com ela faz uma experiência estética sempre a completa no acto de interpretação.
Depois, começámos a ler e a sublinhar e, após dois parágrafos, pedi a resposta à mesma pergunta, “o que é um artista?”, mas agora utilizando os elementos fornecidos pelo manual. Para alguns foi muito difícil, mas acabámos por chegar lá: artista é a pessoa que produz um objecto, portanto artificial, com a intencionalidade de esse objecto proporcionar uma experiência estética.
Com esta definição eu pretendia, por um lado, ajudá-los a perceber alguns mecanismos do trabalho intelectual, por outro acentuar a intencionalidade incarnada no próprio objecto, ou seja, que o objecto visa um outro.
E continuámos a trabalhar pelo livro.
 
Contra os “apontamentos” - 5
Podemos fazer alguma coisa contra o vício de estudar pelos apontamentos.Sim, o vício. Estudar pelos apontamentos é uma espécie de toxicodependência estudantil. E é essa dependência que os impede de livrarem-se deles e entrarem numa vida intelectual saudável.
 
Contra os “apontamentos” - 4
Os apontamentos não são o objecto principal do estudo. Estuda-se pelo livro.
Os apontamentos podem ser, apenas e só, auxiliares do estudo do manual ou complemento do estudo do manual.
Mas... estudar é pelo livro, pelo manual. Porque ele é o único que oferece aos alunos garantia de qualidade àquilo que estudam.
 
Contra os “apontamentos” - 3
Eu sei, num saber de experiência feito, que os alunos não concordam comigo. E já começaram a refilar contra esta minha entrada aqui.
A verdade, porém, é que já fiz o teste inúmeras vezes e deu sempre o mesmo resultado: consultar os apontamentos de um estudante é encontrar-se com uma série de asneiras. E tantas mais quanto o aluno tem menos resultados, o que é natural.
Ainda há dias, numa turma do 11º ano, uma frase que eu tinha ditado estava escrita pelos alunos das maneiras mais inconcebíveis.
Uma parte significativa dos alunos com piores resultados escolares faz resumos que são, sem medos, um “chorrilho de asneiras”. Por vezes, fragmentos de frases, colagens sem significado... resultando num amontoado de coisas sem sentido.
E dói-me o coração vê-los a estudar aquilo, a empinar aquilo, a marrar aquilo. Que não serve para nada, a não ser para lhes garantir o pior dos resultados. Porque com aquilo ninguém consegue fazer nada de inteligente.
 
Contra os “apontamentos” - 2
Eu escrevi:
Uma das minhas guerras é contra os apontamentos. Ou melhor, os alunos estudarem “pelos apontamentos”.
Volto a precisar: não sou propriamente contra os apontamentos, mas contra estudar pelos apontamentos.
E volto a explicar porquê:
Os alunos não podem garantir qualidade àquilo que fazem. Por isso, os apontamentos que tiram são, de modo habitual, um chorrilho de asneiras. E estudam aquilo, como se fossem verdades eternas.
E reforço:
Estudar asneiras não é caminhar na direcção segura.
Imaginemos que eu me punha a ensinar golfe, ou judo, ou karate... Que podia eu fazer senão asneiras? Eu não sei disso o mínimo suficiente para mim, quanto mais para os outros.
Quem são os alunos? Pessoas que estão a aprender. Que não sabem o suficiente daquilo que estudam, por isso é que têm de estudar. Mas, sim, mas eles fazem apontamentos como se pudessem ensinar-se a si mesmos.
O livro ou manual adoptado é, em princípio, mais seguro. E, se não o for, também em princípio o professor faz as necessárias correcções.
Porquê, então, estudar por uns apontamentos seguramente cheios de asneiras e não pelo livro que é um guia mais seguro?
Não tenho a mínima dúvida: uma (apenas uma) das medidas a adoptar para um maior sucesso nas escolas é erradicar esse vício de estudar por apontamentos e resumos cheios de erros.
 
A fé - 2
É por isso que eu insisto naquilo a que chamo de experiências significativas. O nosso trabalho visa que os alunos façam experiências significativas e que reflictam sobre elas.
Experiências filosóficas, neste caso.
E é por isso que eu acredito que alguma coisa há-de ficar. Porque o nosso capital humano é sobretudo feito de experiências. E é também por isso que pretendo que essas experiências tenham uma componente emocional. Não creio, por isso, que lhes seja fácil passarem sem serem afectados pelo que vai acontecendo nas nossas aulas. Só que também sei que as aulas são demasiado frágeis para lançarem raízes fundas na vida de uma pessoa.
 
A fé - 1
Ser professor é um trabalho com base na fé. Nunca sabemos se fazemos realmente alguma coisa. Apenas podemos ter fé, e esperança, de que alguma coisa do trabalho que temos possa fazer alguma diferença na vida daqueles que connosco passaram um ou dois anos. (Ou mais, no caso de outras disciplinas.)
E às vezes temos experiências que nos dão sinais positivos de que sim, alguma coisa ficou, valeu a pena a viagem que connosco fizeram. Esses são momentos de confirmação dessa fé que, apesar disso, permanece sempre fé, e nunca um conhecimento certo e seguro.
 
Os testes
Já registei a minha aversão (?) aos testes e a minha preferência pelos textos mais ou menos livres.
Porque nos testes, vê-se sobretudo o que os alunos não foram capazes de dizer, ou seja, o que não aprenderam. - Mas como é que é possível eles dizerem isto?
Subentende-se: depois de tudo o que nós dissemos em aula.
Nos textos livres é quase o contrário. Com maior facilidade somos surpreendidos por uma boa observação, por um aspecto que nos tinha passado despercebido, por um rasgo de perspicácia... Comigo passa-se isso.
E passou-se mais uma vez, com os alunos do 11º ano. Tive oportunidade de ler agora os comentários livres que fizeram a um trabalho que vimos sobre física quântica e foi interessante vê-los a reflectir num pensamento comprometido. Não tenho dúvida de que ali encontro uma autêntica interrogação filosófica. Mas eles estão quase a deixarem a filosofia. Pergunto-me que sequência terá este trabalho.
 
À saída
- Então tenha um bom fim-de-semana.
- Vou fazer por isso. Apesar de levar duas turmas de pontos para ver e uma turma de textos, a escolha do livro do 11º ano para os próximos anos e as aulas para preparar. Fora as responsabilidades familiares e os compromissos cívicos. Vai se um fim-de-semana bem cheio.
Não foi para me queixar. A vida é feita daquilo que a enche. Foi sobretudo para eles não pensarem que só eles é que têm de dar algum tempo às responsabilidades escolares. De qualquer modo, talvez todos nós tenhamos a nostalgia de um tempo completamente livre.
 
O juízo estético
Começámos por desmontar a própria expressão “juízo estético” a partir do que já sabemos:
- juízo significa afirmação, tipo A é B;
- estético vem de aisthésis e significa algo que tenha a ver com a sensibilidade, mas também com o Belo e com a Arte.
E já vimos que o Belo tanto se pode dizer de um objecto natural, uma cascata ou um pôr-do-sol, pu de uma obra de arte.
Portanto, um juízo estético pode ser dito como uma afirmação que diz algo sobre a beleza de um objecto natural ou de uma objecto artístico.
- Certo?
- Certo.
Então, vamos ao livro ver o que ali nos diz. E fomos:
«Juízo estético: apreciação sobre uma dada obra, um produto artístico ou mesmo um objecto natural.»
- Agora, só falta ampliar aquilo que já sabemos. Vamos ver algumas das características do juízo estético.
E aqui fizemos ao contrário: fomos sublinhando e tentando descobrir p que queria dizer.
Para a próxima aula trazem o exercício resolvido.Para terminar a aula, visionámos um trecho do filme Hotel Ruanda e interpelei-os no sentido de verem em termos dos Direitos Humanos. O filme entra-nos pelos sentido, por isso se diz objecto estético ou objecto artístico, mas pretende desencadear-nos a reflexão sobre aquilo que nos mostra.

quinta-feira, maio 15

 
GIF estreia na praça pública
Quinta-feira. O GIF aparece em público.
O jornal Primeira Linha traz quase duas páginas produzidas pelo Grupo de Intervenção Filosófica sobre o primeiro tema que as alunas escolheram para trabalho de reflexão.
A homossexualidade.
E, na linha da “intervenção”, consideraram que o seu trabalho de reflexão não devia ficar-se entre elas. Era preciso sair à praça pública.
Um texto da Joana Paulo, uma entrevista da Marta Lopes a uma homossexual, uma entrevista da Rira Estrela a um bissexual e duas tiras de banda desenhada da Rita Estrela e da Sara Lavrador compunham o trabalho, que foi ilustrado com uma fotografia.
Quando o jornal chegou à escola no final da primeira aula, foi uma festa. Merecida.Obrigado ao Primeira Linha, por ter aceite possibilitar esta “intervenção” e por ter proporcionado a estas alunas uma alegria de primeira apanha.
 
Nem todos, porém...
... estão já a produzir bons textos. Com muita pena minha.
Aos que não tiveram textos que eu pudesse classificar como positivos, devolvi para os corrigirem e fazerem como deve ser.
Só superando o que não se fez bem é que se evolui.
E é por isso, digo eu, que alguns estão a revelar claros progressos. Sem esquecer, é claro, aquilo que os meus colegas de outras disciplinas também andarão a fazer.
Não vejo é esses progressos nos alunos que não fazem o investimento que se lhes pede. E esta falta vem-me dizendo que estou no bom caminho.
E também os alunos vão refilando “mais um texto?!”. Mas, no final, confirmam que tive razão e agradecem eu ter ido por este caminho.
 
Mas...
... tu assim tens um trabalhão a ver esses textos todos.
Pois tenho. Mas é isso, sobretudo isso, casado com a reflexão em aula, que me permite ajudá-los, talvez obrigá-los, a evoluírem para territórios de reflexão que lhes eram à partida insuspeitos. E eles próprios se surpreendem.
Eu tenho para mim um lema como professor:
Um bom professor é aquele que ajuda os alunos a irem até onde não conseguiriam ir sozinhos.
Porque, se conseguissem, nem era necessário o professor.
 
Os textos
Gosto de ver os textos dos meus alunos (detesto classificar testes). Porque ali vejo-os a pensar, a reflectir a partir de dentro, a subirem a alturas de reflexão a que, de outro modo, não se elevariam.
Há sempre reflexões boas. Algumas que me surpreendem.
Mas as que, nesta altura, mais me agradam são aquelas que revelam uma nítida evolução face ao início. Começaram alguns alunos por não serem capazes de escrever mais que três ou quatro linhas e agora já conseguem escrever uma boa página A5, ou mais. E, por vezes, com reflexões bastante interessantes.
 
Reflectir, filosofar
O prato forte da segunda feira foi comentar o filme que haviam visto.
- Não se trata de contar a história que vimos no filme, repeti. Isso já eu sei. O que eu não sei é o que vocês pensar “sobre” aquilo de que o filme nos fala.
E lançaram-se à escrita.
Além disso, numa turma preparámos o teste que virá na quinta-feira. E na outra... já nem me lembro o que fizemos além do texto.

sábado, maio 10

 
Alô, Beja
Quarta-feira. Beja. Sob as ordens do Grão Capitão Tiago Pita, a APAEF – Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico vai a eleições e escolhe uma nova Direcção. Em Beja, sim.
Até agora sediada no Algarve, a casa passa a ser dirigida do Norte, Porto e acima. Bom trabalho à nova equipa.
Em conversa com Tiago Pita, professor de Filosofia em Beja, soube que o nosso blogue está a ser acompanhado de lá e que estão atentos ao nosso GIF – Grupo de Intervenção Filosófica.
Daqui, um abraço a quantos, em Beja, também se esforçam por pensar a vida, que vale bem a pena ser vivida. E desejamos saber que também por lá se fazem coisas interessantes, sejam elas quais forem.
 
“Os deuses devem estar loucos”
Foi o filme que escolhi. Para a mesma função: com um objecto estético, atar as pontas do que estudámos ao longo do ano.
Fui fazendo alguns comentários para evitar a leitura racista e subir a um nível antropológico e filosófico de interpretação. E, para esse efeito, o filme faz um bom trabalho.
 
Acidente
Mas, ao tirar a cassete vídeo do leitor, a fita ficou presa dentro do mecanismo. Teve de ser... partida.
Fiquei desolado. Sobretudo porque isso me impede de, na outra turma, fazermos um percurso idêntico. E agora?
 
“O Menino Selvagem”
A aula foi para ver o filme “O Menino Selagem”, de François Truffaut.
É um filme, portanto um objecto estético, um trabalho de arte. Mas que pretende provocar a nossa reflexão. - Proponho que, com ele, façamos uma ligação de tudo o que estudámos este ano. Natureza e cultura, liberdade e determinismo, pessoa e sociedade, decisão e responsabilidade, bem/mal e regra social, comportamento pessoal e instituição reguladora... Vejam o filme com atenção, sem se preocuparem demasiado com a matéria. Depois, preparem-se para fazer um texto sobre o filme. Mas não é para me contarem o filme, que eu também o vi. É para me darem a conhecer o que vocês pensam sobre o filme. Isso é que eu não sei.
 
Para o sucesso
Voltou a reunir o grupo de trabalho para o sucesso escolar. Desta vez, com a presença do Conselho Executivo. Estamos em início de trabalhos, mas já a avançar para aquilo que pode ser feito de facto para melhorar o funcionamento da escola.
A escola não é apenas aulas e mais aulas. As aulas fazem parte de um complexo sistema a funcionar, que é a escola. E a outra parte, para lá das aulas, tem também a ver com o resultado do funcionamento da escola.
Eram quase oito da noite quando cheguei a casa. Tão cansado como se tivesse passado a tarde a “dar aulas”. Mas valeu a pena. Digo eu, é claro.
 
Com Sophia
Mas na segunda parte da aula, deixámos o manual.
Estamos a falar de Estética. Quero que tenham experiências estéticas, e que possamos reflectir sobre elas.
- Já vimos cinema, já foram ao teatro, já fizemos duas exposições, já foram convidados a ir visitar a galeria municipal de arte. Agora, vamos pegar na literatura. Num dos mais belos contos que já li.
Penso que leio razoavelmente, sobretudo fruto dos anos que encenei teatro. Por isso, pedi o máximo de concentração e li
“A viagem”, de Contos Exemplares, de Sophia de Mello Breyner Andresen.
A sala estava presa ao percurso. Eu tinha-lhes dito que era sobre a vida, que era um pouco estranha a sucessão de acontecimentos, mas que isso tem um significado.
No final, falámos sobre o conto, com eles a darem pistas de análise, fragmentos de reflexão.
Gostaram bastante. Assim o mostraram, assim o disseram.
Mas nunca consigo distanciar-me daqueles alunos que não conseguem prestar atenção, que recusam abrir-se a um conto como este. Há sempre um ou dois. Numa das turmas tive que exigir pelo menos que não perturbassem.
 
Contra os "apontamentos"
Uma das minhas guerras é contra os apontamentos. Ou melhor, os alunos estudarem “pelos apontamentos”. Não sei quem os ensinou a fazerem isso, mas sei que foi um crime.
Os alunos não podem garantir qualidade àquilo que fazem. Por isso, os apontamentos que tiram são, de modo habitual, um chorrilho de asneiras. E estudam aquilo, como se fossem verdades eternas.
Por vezes, os apontamentos que os alunos tiram, ou os resumos que fazem (outro nome “técnico” para a asneira), são fragmentos sem sentido. Que eles estudam com devoção. Estudar quer dizer aqui empinar, decorar, marrar. Não significa aprender. Porque ali nada se pode aprender.
Nem sequer se for eu a ditar “bons” apontamentos. Nem assim há bons apontamentos, porque os erros de audição ou de escrita desfiguram o texto e fazem-nos estudar coisas sem sentido.
- E que é que isso significa?
- Não sei.
- E estudas aquilo que nem sequer entendes?
- Ó professor, mas nem assim consigo tirar boas notas
- Não! É por fazeres assim é que não tiras boas notas.
- Mas eu não sou capaz de outra maneira.
 
Branco e preto
Segunda-feira. Dia de poucos amigos. Começámos a aula de modo pouco amigável.
- Vamos apenas sublinhar, com ligeiros comentários.
De quando em vez, faço assim. Quero dizer que é a eles que compete estudar, estudar pelo livro, livro que quero deixar com algumas marcas de leitura.Para os ajudar no estudo e para insistir em estudarem pelo livro. E não pelos apontamentos.

domingo, abril 27

 
A geração do ecrã - 2
Sim, é verdade que este não é um caso único, nem será talvez dos mais graves. Foi apenas o que teve “direito” a uma exposição pública, o que teve o mediatismo que poucas outras notícias conseguem alcançar.
Coisas semelhantes acontecem todos os dias nas escolas. Nas escolas do Porto, das escolas de Portugal, nas escolas do Mundo. Não é por certo novidade para ninguém minimamente atento, o rol de casos de alunos que entram em escolas dos EUA e matam uns quantos alunos e professores sem olhar para trás.
Levanta-se portanto uma questão importante: Qual é a “falha”, que há para que as nossas crianças estejam a ser educadas pelo ecrã? Porque é que isto acontece?
Hoje em dia as crianças passam 90% do seu tempo fora de casa. Quando chegam a casa, durante a semana, jantam, tomam banho, vêem um pouco de televisão e vão dormir. Vêm exaustas da escola, das actividades extracurriculares, não se lhes pode exigir que façam muito mais. Afinal, não passam de crianças
Os pais por sua vez, trabalham durante todo o dia, chegam a casa tarde e a cabeça disponível para dispensar um pouco de tempo àquelas crianças que vagueiam pela casa também não é muito.
A nobre tarefa de educar estas crianças de forma “humana” caberá portanto às pessoas que passam mais tempo com elas. São eles professores, educadores, auxiliares de acção educativa, e tudo esse rol de profissionais que muitas vezes passam mais tempo em contacto com estas crianças que os próprios pais. Cabe-lhes a elas cuidar destas crianças. Educá-las, humanizá-las, fazerem delas seres humanos e não apenas pessoas. De pessoas está o mundo cheio.
Ou será que o papel dos professores é meramente o ensino da parte curricular? Não lhes caberá também a tarefa de ajudar os seus alunos a formarem-se, ajudá-los a tornarem-se alguém?
Não culpemos portanto as crianças, os jovens. Lembremo-nos de que as crianças e os adolescentes estão a crescer, a formar-se, a fazer-se. Estão a procurar bases de sustento para formarem, para encontrarem o seu “eu”.
As crianças e jovens não são como são por querem. São assim porque só sabem ser assim. Porque são os exemplos que vêem. Nunca ninguém lhes disse que não era assim, que era assado.
Não podemos esperar que alguém saiba distinguir o bem do mal, o que é certo do que é errado se nunca for ajudado a perceber as duas vertentes. A perceber porque é que isto está certo e aquilo está errado, isto é bom e aquilo é mau.
Contudo, volto a realçar que, felizmente, ainda há por aí muita criança que não foi educada pelo ecrã. Generalizar é arriscado.
Joana Paulo, 10ºC

Dá cá o telemóvel
A notícia “encheu o papinho“ a todos os meios de comunicação e, cada um, à sua maneira, produziu comentários para todos os gostos. Foi o último grande tema de discussão, exposto na Internet e publicitado pela televisão. Como também se tem referido ao longo do último mês, este caso não é único em Portugal, é somente um entre muitos outros. Nas ilhas e de Norte a Sul de Portugal, muitos casos semelhantes devem ter ocorrido. Provavelmente, casos onde foi evidente ainda mais desrespeito da parte dos alunos pelos professores.
No entanto, existem vários tipos de alunos. É verdade que se perguntássemos a alguns como é que eles reagiriam àquela situação, enquanto uns responderiam:
- Da mesma forma, claro!
Outros diriam:
- Eu jamais procederia daquela maneira!
O que pretendo concluir é que, por um lado, não podemos criar um estereótipo de alunos mal comportados, sem normas e desrespeitadores. Devemos julgar, em cada caso, as suas acções, condenando-as ou não.
Por outro lado, é fulcral compreender que o que aconteceu não é só culpa da aluna, é também um problema da sociedade portuguesa. Essa mesma sociedade que se enche de indignação ao ver aquele vídeo e que, em sentido figurado, atirou a primeira pedra, é a culpada daquela atitude. Isto porque aquela jovem está a ser criada num mundo em que os telemóveis estão, passo a passo, a fazer parte do indivíduo. Os telemóveis fazem já parte da satisfação de uma necessidade dos humanos, a necessidade de comunicação com outros indivíduos.
Ora como é possível que pais, jornalistas e professores, que normalmente são a favor do uso de telemóveis (pois é uma mais valia no desenvolvimento), conduzem com o telemóvel na mão, usam-no nas bombas de gasolina e não os desligam nos funerais, venham criticar o comportamento da aluna, adjectivando-o como escandaloso?
O problema é uma questão de formação. Para aquela aluna o telemóvel era uma parte da sua intimidade. Da mesma forma que, se um cão for treinado, mesmo com o comer à frente, só come se o dono lhe der ordem, mas se o cão não estiver treinado e o dono lhe for tirar o osso que está a comer, ele morde o dono. E, neste último caso, ninguém acusa o cão de desrespeito pelo dono, pois toda a gente sabe que se trata de um comportamento normal do animal.
A sociedade onde vivemos está a tornar-nos viciados nos telemóveis. Já não vivemos sem eles. Tornaram-se num apêndice do qual já não nos conseguimos livrar, nem sequer por 10 minutos, quanto mais por hora e meia.
O alerta é: vamos manter a nossa racionalidade, vamos preservar os valores dos nossos avós e vamos usar o telemóvel só quando for mesmo preciso. Caso contrário, qualquer dia estamos de gatas, como o cão, mas só com três patas no chão, porque a outra está a segurar no telemóvel.
Raquel Lalanda, 10ºC

A geração do ecrã - 1
Recebi, por mail, mais um daqueles textos que circulam como a água escorre para o rio. Mandei-o aos meus alunos e pedi-lhes um comentário. Deixo o texto. Deixarei os comentários que receber.
«Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas.
Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os 'Morangos com açúcar', só quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.
Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos - bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se.
Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª ministra - que não entra numa escola sem avisar - é que tem coragem de afirmar que não existe violência nas escolas).
Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe!
O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social.
Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador.Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.
Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs.
E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano.
E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho.
E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.
A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias.
A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar.
A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento.
E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã.
E nós deixamos.»
 
Livro-nos Deu
Os meus alunos do 10º ano, e alguns do 11º, têm mais um conjunto de trabalhos expostos na Biblioteca António Botto.
Trata-se de pegar na ideia comum de livro, aquela que nos é dada, e produzir algum objecto que interpele o leitor e o faça repensar a ideia de livro.
Eles realizaram objectos que estão expostos em vários locais de acesso dos leitores. São, pode dizer-se, provocações à reflexão.
A filosofia é entendida como uma reflexão discursiva, de carácter argumentativo. Mas a reflexão não tem apenas essa modalidade, essa forma de realização e apresentação.
E agora que vamos iniciar os nossos trabalhos no campo da estética.
Já fizemos duas exposições, já vimos uma peça de teatro gravada, já foram ao teatro ao vivo em Abrantes (embora não comigo)... Estamos em condições de avançar.
 
A semana
... foi dedicada a agarrar algumas pontas, pois estamos a terminar a unidade didáctica.

sábado, abril 19

 
Fico feliz quando os meus pais...
... quando o pai e a mãe lavam a loiça.
... quando vão ao parque comigo.
... quando desenho com os pais.
... quando os pais brincam comigo.
... quando os meus pais me fazem cócegas.
... quando me levam a passear.
... quando me deixam andar de bicicleta naquela descida, sem travar.
... quando me pegam ao colo.
... quando vão para o quintal brincar comigo.
... quando passeiam comigo no parque e com a minha irmã.
... quando jogam à bola comigo; mas eles quase nunca querem!.
... quando me empurram na bicicleta.
... quando me deixam ir brincar a casa dos meus amigos.
... quando eu, os meus irmos e os meus primos estamos a brincar e ela vem ter connosco.
... quando me deixam ir aos anos das doutras pessoas.
... quando me compram brinquedos e quando vejo o meu pai.
... quando vou ao trabalho dos meus pais.
... quando regamos todos o jardim. Eu gosto muito de flores.
... quando o meu pai chega ao fim de semana...
... quando me lêem histórias e brincam comigo.
... quando me dão miminhos (dar beijos, fazer cócegas, dar abraços...).
... quando o meu pai anda comigo de bicicleta e joga à bola e a minha mãe me lê, à noite, a história da Rua Sésamo.
... quando me levam a passear e cantam para me adormecer.
... quando me dão mimos, me levam a sítios giros e diferentes e quando me levam a cortar o cabelo para o pôr em pé.
... quando me levam à praia e me fazem uma festa de anos.
... quando me dão carinho, brinquedos e quando não me metem de castigo.
... quando estão a dar-me atenção e miminhos.
... quando me ajudam a fazer os trabalhos de casa.
... quando me ensinam as coisas.
... quando não se chateiam.
... quando dizem que eu sou bom aluno.
... quando ficam alegres porque tive boas notas.
... quando são bons para mim.
... quando não se zangam.
... quando me levam a casa da minha avó.
... quando ficam alegres.
... quando me ajudam quando eu tenho dificuldades.
... quando estão felizes.
... quando brincam comigo.
... quando estão contentes.... quando não brigam.
... quando me oferecem coisas.
... quando me dizem que me adoram, me dão mimos, fazem massagens e me ajudam.
... quando brincam comigo e quando me prestam atenção.
... quando o meu pai me comprar uma mota.
... quando os meus pais me entendem.
... quando me dão carinho e quando deixam a B. vir a minha casa brincar comigo.
... quando dizem que o meu avô que morreu está bem no céu.
... quando estão abraçados um ao outro e quando vão passear comigo.
... quando brincam comigo, fazem palhaçadas, quando me ajudam, me tratam bem, quando me ensinam, quando me ouvem e quando me elogiam.
... quando me ajudam nos trabalhos de casa, quando me levam a passear e quando me ajudam a ultrapassar as dificuldades.
... quando me dão carinho, quando a minha mãe fica admirada comigo e quando a minha família está junta.
... quando me dão carinho, não me batem e me levam ais sítios onde eu quero ir.
... quando compreendem o que eu quero e quando me lêem histórias.
... quando me abraçam, me beijam, me acarinham e me dizem amo-te filha.
... quando me dão carinho e fazem tudo para me proteger.
... quando me dão muito carinho, amor, alegria e felicidade e esperança. Também gosto que eles fiquem felizes e que um dia voltem um para o outro.
... quando me olham e dizem que me amam do fundo do coração, me abraçam e beijam e eu fico sem noção do que está à minha volta.Pelos alunos da Escola da Chainça (selecção).
 
Na Chainça
Sexta à noite. Sessão com os pais dos alunos da escola da Chainça.
Correu bem, como de costume. Mas não consegui que houvesse uma participação activa dos pais na conversa. Só mais para o final é que melhorou, e por isso mesmo, para dar algum espaço de participação, talvez tenha acabado um pouco tarde.
Além disso, quando peguei numa das intervenções não terei entendido bem, ou fui mal entendido eu naquilo que quis dizer. Talvez isso tenha contribuído para alguma retracção.
Mas é sempre bom participar nestas sessões. Por um lado, porque elas são importantes, não pelas novidades ou revelações que se façam, mas porque se recordam algumas coisas que todos sabemos mas de que podemos andar distraídos, e porque sempre cada um se dá conta de que os outros pais têm “os mesmos” problemas. Por outro lado, eu sempre aprendo com as intervenções das pessoas. Há sempre um ou outro aspecto que é realçado e a que eu não tinha dado boa atenção.
Para terminar, a escola ofereceu-me um excelente “compêndio de psicologia na primeira pessoa”, que foi como eu o caracterizei: um grosso volume com desenhos das crianças a ilustrarem frases suas que davam continuidade ao mote “Fico feliz quando os meus pais...” Uma maravilha!
(Também o Conselho Executivo do Agrupamento D. Miguel de Almeida, que organizou estas sessões, me entregou um “diploma” de memória do que fizemos. Que agradeço. Mas peço desculpa de dar mais valor aos “segredos” que as crianças me revelaram.
 
Desinteresse
- Afinal, o que é que se passou que nunca estiveste cá durante esta aula?
- Ó professor, isto não me interessa nada.
- Mas tu sabes que, na maioria das vezes, o interesse vem depois, depois de termos trabalhado sobre uma coisa e termos descoberto a importância que ela tem.Talvez tenha ficado a pensar.
 
O Utilitarismo
Na segunda metade da aula, foi a vez de uma aluna apresentar o pensamento de Stuart Mill e de caracterizarmos sumariamente o utilitarismo.
Comecei por dizer que não se lhes pedia que fossem kantianos, até porque há outras éticas. E por isso íamos espreitar uma outra.
Que lhes despertou de imediato muito mais simpatia. Talvez tanta simpatia como a de Kant lhes tinha despertado antipatia.
No final da aula, partimos à procura de outras éticas. E apareceram várias: a marxista, a cristã, a hippie, a yuppie.
E houve mesmo quem lembrasse o carácter práxico do homem: o homem faz-se fazendo-se. E, ao fazer-se, faz a sociedade de que faz parte.O que é um dado é que cada um de nós tem de decidir e está interessado em decidir bem em vez de mal, e cada grupo ou sociedade tem também de decidir e precisa de decidir bem em vez de mal.
 
Kant afinal?
Entreguei os textos corrigidos, chamando a atenção para os problemas detectados.
Depois, mostrei-me escandalizado.
- Vi nos vossos textos que mais ou menos unanimemente criticam e acusam os onze jurados de não terem testado a sério, como deviam, as provas que acusavam o rapaz. Que vos permite acusá-los de não terem cumprido o seu dever. Dizem mesmo que cada um de nós podia ser aquele réu, e gostaríamos de ver os nossos interesses defendidos como deve ser. Que vos permite dizer isso?
Ficaram baralhados. Parecia-lhes evidente, digo eu, e parecia-lhes evidente que também o deveria ser para mim, continuo eu a dizer. E foi isso mesmo que disseram: insistiram em que eles deviam cumprir a sua tarefa de jurados como deve ser, etc. Notava-se nos seus olhos que não percebiam a minha objecção. Que não existia. Por isso continuei.
- Então, quando estivemos a apresentar a ética kantiana, vocês levantaram-se contra ela, deram na cabeça de Kant até poderem, e agora dizem que os jurados devem cumprir o seu dever? Recusaram a universalidade kantiana e vêm agora dizer que o réu pode ser cada um de nós, portanto cada um dos homens? Afinal, que vos permite criticar Kant se depois, a argumentar se assumem quase como kantianos?
- É que Kant era um extremista!
- Ah!, um extremista. E qual é a fronteira entre o dever que deve mesmo ser cumprido e o que já não precisa de ser cumprido? Eu creio que sei: devem ser cumpridos os deveres dos outros para com vocês, os que vos interessam, e já não precisam de ser cumpridos os vossos deveres para com os outros, os que não vos interessam. Será?
Foi à volta deste ponto que discutimos um pouco. Para eu concluir:
- Não é tão fácil como parece fugirmos à ética kantiana, quando levamos a sério a ética e os direitos humanos de cada um dos homens.
Aposto que gostaram desta estratégia. Nem todos, é claro.
 
Os textos
Uma parte significativa do meu trabalho de professor é investido a “ver” os textos dos meus alunos. Insisto na escrita de textos, aponto as limitações dos mesmos e vou dando pistas de melhoria.
Faço isto por duas razões: uma filosófica, outra metodológica.
Filosoficamente, o que me interessa não é “dar matéria”, que fica “dada” quer os alunos aprendam quer não; o que interessa verdadeiramente é os meus alunos irem constituindo por dentro a sua voz, a sua reflexão, o seu pensamento. E produzir um texto é reflectir de modo muito activo, é defrontar-se com a dificuldade de dizê-lo de modo que o próprio se reconheça no que diz.
Metodologicamente, porque se os alunos vão ser testados, em grande medida, em provas por escrito, então eu devo treiná-los, isto é, desenvolver-lhes as capacidades de darem boa conta de si nisso mesmo. Fazê-los escrever e melhorar a escrita é treiná-los para as provas que vão ser chamados a prestar. Não treinos no vazio, mas no próprio exercício filosófico que vamos fazendo.
Ora acontece que eu vejo os meus alunos a apresentarem melhores produtos escritos. E de modo muito especial aqueles que entraram quase incapazes. Não iam além de três ou quatro linhas; agora já conseguem fazer uma meia folha A4; apresentavam uma folha com muita letra mas pouca escrita, ou seja, coisas sem sentido, frases sem estrutura legível, fragmentos dispersos ser textura, erros e mais erros... Hoje, eles próprios já se dão conta de que escrevem melhor. E eu sou capaz de lhes dar a um texto uma classificação um pouco melhor do que aquela que o texto vale, porque tenho de ter em consideração a evolução positiva, o que lhes serve também de estímulo. Sim, que são os resultados que nos alimentam a energia.
Infelizmente, porém, não é em todos os alunos que se nota esta evolução. E tenho para mim um problema: até que ponto esta melhoria é resultado de evolução real ou de uma maior aplicação dentro da velha estratégia de passar um ano de sorna e recuperar no sprint final? Para mim, só tenho uma resposta: a minha consideração em termos de evolução vai apenas para aqueles casos em que eu tenho visto esse esforço continuado, portanto que me permite ver o novo resultado como sustentado por esses esforço contínuo. Mas sei que esse é um ponto crítico.
 
Melhorar é preciso
No ano passado, a minha escola procedeu a uma avaliação interna, assessorada por uma empresa externa. Os resultados foram apresentados há algum tempo, mostrando os pontos fortes e os pontos fracos identificados pelos vários elementos da comunidade escolar.
O passo seguinte vai ser melhorar a situação. Para isso, o Conselho Executivo nomeou quatro grupos de trabalho. Reuniram-se hoje pela primeira vez para trabalharem num programa de acção de melhoria a ser desenvolvido no próximo ano.
Eu fui convidado a integrar o grupo que vai procurar obter melhorias no Sucesso Escolar. Os outros três grupos vão agarrar os temas da indisciplina, da higiene e da formação de professores.
 
Debate
O tempo era pouco. Mas eu também não queria mais. Porque as reflexões em grande grupo são pouco reflexões. São mais afirmações e contra-afirmações de posição. Mas isso não impede que haja o aparecimento de um inter-espaço de reflexão em que cada um pode ver acenderem-se algumas novas chamas.
 
Reflexão sobre
Na semana passada, vimos um filme / peça de teatro. Hoje, vamos reflectir sobre ela.
Como é segunda-feira, tenho de activar a circulação cerebral dos meus alunos, pois vêm ainda mal acordados. Começamos por, em colectivo, rever alguns dos conceitos que nos últimos tempos temos trabalhado.
- Agora, pegam numa folha de papel e escrevem um comentário sobre o filme que vimos cujo título vai ser Responsabilidade Social e Direitos Humanos. Não quero que me contem a história, que eu também vi e, se quiser, posso voltar a ver. O que eu não sei, mas quero saber, é o que vocês pensam sobre o que vimos. Ao trabalho.
Na segunda parte da aula, fizemos um debate em plenário sobre o mesmo filme.- Cada um já pensou, já escreveu. Agora vamos trabalhar em plenário. Por duas razões: primeira, para partilharem o que foi a vossa reflexão; segunda, porque uns com os outros vamos mais longe do que sozinhos.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?