sexta-feira, novembro 30

 
Obrigado
Passamos a ter um contador de visitas no nosso blogue.
Por esse adereço, o nosso agradecimento ao professor Nuno Gil, que se deu ao trabalho de.
 
O apóstrofo
Pessoa amiga enviou-me a imagem de um texto de resposta de um aluno à pergunta:
- Qual a função do apóstrofo?
«Apóstrofos são os amigos de Jesus, que se juntaram naquela jantinha que Michelângelo fotografou.»

quinta-feira, novembro 29

 
O sentido
Para terminar, dedicámos a nossa atenção à pergunta que tinha ido para casa: que tem a filosofia a ver com a acção humana?
A nossa resposta, que foi sendo construída aos poucos em diálogo dirigido, dizia assim:
a filosofia é uma das três actividades humanas de produção de sentido: arte, religião e filosofia;
a filosofia, em complementariedade e conflito com a arte e a religião, produzem sentido à acção;
o homem necessita de sentido quando age;
e necessita de sentido porque pode decidir, e precisa de saber como decidir;
precisa de saber como decidir porque não suporta viver tipo moeda ao ar e também porque quer decidir pelo que lhe é favorável, a ele e aos outros, e evitar o que, a ele e aos outros, é desfavorável.
- E é isso mesmo que tantas vezes perguntamos: "Mas o que é que eu hei-de fazer?"
Mas ficou bem claro que ainda há muita coisa escura sobre o que é isso de filosofia. Por exemplo a insistência em que a filosofia trata do todo (mas o que é isso?, perguntei), esquecendo que a filosofia trata - ou deve tratar - das coisas concretas da vida.
 
Tempestade
Voltando ao 10º ano. Comecei a aula com uma alusão ao dia bonito que se oferecia lá fora. Desafiei-os a fruir o dia. E a agradecer a Deus, os que são crentes, ou à natureza, os que não são, e todos a sentirem por dentro a beleza de um dia assim que nos é oferecido.
Hoje, no âmbito do tema que estamos a tratar, a acção humana, queria estabelecer com eles a diferença entre "actos do homem" e "actos humanos". Começou com alguns problemas, naturais, mas depressa chegámos a um padrão de compreensão. Expliquei-lhes que era uma linguagem, que a linguagem que usamos começou por não existir e depois teve que ser "inventada", parte dela na vida do dia-a-dia e outra parte nos gabinetes dos homens e mulheres das várias disciplinas. Este é um destes últimos casos.
E fiz uma volta de revisão pelos mais fracos para que eles pudessem consolidar o adquirido. Qual quê! Parecia que nenhum lá tinha estado. Um ou outro recusava-se mesmo a dar-se ao enfado de responder.
Desembainhei a espada da língua e ataquei-os de frente. Como se estivesse furioso, e em parte até estava, obriguei-os a responder e a repetir. E disse-lhes que não tinham o direito de estar a estragar a vida às pessoas que eles mesmos vão ser daqui a 20 ou 30 anos, muito menos aos filhos deles.
- E é em nome do que vão ser dentro de 30 anos e dos vossos filhos, que ainda não se podem defender, que tenho de dizer-vos estas coisas.
 
Que fazer?
Hoje fui chamado a fazer uma substituição imprevista. Era um 7º ano. Avisaram-me logo na sala de professores de que era uma turma terrível. Foi bom, pois nada me iria surpreender.
Mesmo assim, fiquei chocado.
O 7º ano foi o único que nunca leccionei. Já trabalhei no primeiro ciclo, no segundo, no terceiro, no ensino superior, mas nunca tive alunos do 7º ano. E sobretudo há muitos anos que ando só pelo secundário (e superior). O que eu vi ilustrou muito do que eu tenho ouvido aos meus colegas.
Era uma turma grande. Mas, vi-o depressa, ali ninguém pode aprender seja o que for, a não ser a sobreviver no meio da confusão.
Pelo menos um terço dos alunos, números por alto, não tem nada que passe pela escola. Não estão ali para absolutamente nada. Outro terço talvez tenha alguma coisa a ver com a escola, mas naquele ambiente deixam de ter. O outro terço conforma-se e tenta salvar-se.
Repito. Não é possível, naquelas circunstâncias, fazer o que quer que seja. Excepto fingir que se faz.
Perguntei se tinham alguma proposta de trabalho. Perguntaram-me se podiam estudar para Português, que tinham ponto a seguir.
- Que vem para o ponto?
Lá me fizeram uma lista e terminaram com "um texto", do livro.
- Então vamos ler esse texto.
Disseram logo que sim, os que disseram, é claro. E foi a confusão. Só uma parte tinha trazido livro, porque iam ter teste, disseram. Tinha lógica. Então, foi necessário distribuir os que não tinham livro como pares dos que tinham. O esforço de criar algazarra era permanente. Mas lá conseguimos iniciar a leitura. Muitos queriam ler, mas tinha de ser um de cada vez. Aí não correu mal.
O problema eram aqueles que não estavam dispostos a acompanhar a leitura. E que, distraídos, estavam disponíveis para tudo menos para ler. Foi uma luta permanente contra o dilúvio, com a barragem sempre a ameaçar ruína.
às tantas, um aluno diz para o outro:
- Vá, enfrenta lá esse.
"Esse" era eu. Parei e olhei-o de frente.
- Diz lá.
- Eu não disse nada.
- Ainda bem que não disseste aquilo que eu ouvi.
E virei-me para o outro, o que devia desafiar-me, olhando-o também de frente.
- É preciso alguma coisa?
- Não, disse. E olhou para o outro.
Faltava meia hora para o fim da aula. Eu devia fazer alguma exploração do conteúdo do texto. Ou até uma segunda leitura. Com apenas uma leitura, ainda por cima naquelas circunstâncias, pouco podem ter apreendido. Mas percebi, sei lá se bem, que não seria possível obter quaisquer resultados por esse lado.
Deixei-os, então, estudar aos pares.
Nos últimos quinze dezoito minutos começou outra frente de batalha.
- Professor, posso ir à casa de banho?
- Não.
E até final foi um pingue-pongue, entre o "eu vou-me embora e marca-me falta, porque já não aguento mais" e o "não vais que eu não te deixo sair, porta-te como um homem, que já tens idade para isso e não como uma criança, que já não és"; “ah, isso agora é assim?”, “exactamente, agora é assim para a próxima vais antes”.Antes de sair, escrevi no quadro: «A sorte é o encontro entre a preparação e as oportunidades.» E expliquei: todos queremos ter sorte, e vocês também; as oportunidades estão por aí em cada esquina; a forma de podermos aproveitá-las é apostarmos na preparação; mas creio que vocês não estão a cuidar das vossas vidas. A vida é vossa, o que não fizerem por vocês ninguém poderá fazer.
 
Redistribuição
Hoje, reorganizei a distribuição dos alunos na sala.
Tinha ordenado os alunos pela classificação no teste e fiz pares começando pelos melhores e os mais fracos nesse teste.
O objectivo é que os mais perdidos possam ter um amparo por perto. Disse-lhes isso mesmo. E acrescentei que mostra-me a experiência que ambos ganham. Os mais fracos, porque lhes é mais fácil expor dificuldades e são apoiados por alguém que fala a mesma linguagem. O mais fortes, porque o esforço de explicar aos outros os obriga a irem mais longe. Todos nós sabemos que não há melhor forma de aprender uma coisa que ter de ensiná-la a alguém.
Aceitaram bem e praticaram já. Embora a avaliação só deva ser feita lá mais para a frente.
 
A moeda de ouro
- Quero dizer-vos que encontrei uma moeda de ouro romana que é única, não se conhece mais nenhuma em todo o mundo.
- Isso é verdade professor?, perguntou alguém suspenso entre a possibilidade de ser verdade e as situações que vou criando.
- Qual é o valor desta moeda?, continuei, sem responder à pergunta.
- Incalculável -, foi a resposta que mais sobressaiu. E eu escrevi: "incalculável".
Eles aguardavam, suspensos. Olhei-os de frente.
- Vocês são feitos de um material muito mais precioso que o ouro. E são também peças únicas. Não há, nem nunca houve em quinze mil milhões de anos, nenhuma pessoa igual a vocês. (Via-se que a declaração estava a fazer efeito.) Qual é o valor de cada um de vós?
- Incalculável -, responderam de imediato.
- Não - afirmei, e fiz uma pausa. O silêncio na sala era absoluto. Então escrevi, e depois disse em voz alta:
- Hiper-incalculável.
O silêncio continuava. Como se nunca tivessem reparado nisso. Como se fosse uma verdade surpreendente. E continuei.
- Porque isto é verdade, é necessário reconhecer essa verdade. E cada um de nós reconhecer o seu próprio valor. E reconhecer o valor de cada um dos outros. Cada um de nós é uma peça única de valor incalculável. (Fiz novo silêncio.)
- Por vezes esquecemo-nos disto. Muitas vezes desvalorizamo-nos. Sobretudo porque nos comparamos com outros, que são mais magros ou mais bonitos ou mais inteligentes ou melhores no campo de jogos... E quando nos comparamos com outros naquilo que eles têm de melhor, é claro que somos piores que eles. Mas nisso, apenas nisso em que nos comparamos. (O silêncio continuava.)
- O valor de cada um de nós deve ser visto não por aquilo que não temos ou em que somos mais fracos, mas por aquelas que são as nossas potencialidades, a desenvolver, e as nossas capacidades, já desenvolvidas. aí é que é o nosso espaço de valor e o campo para o nosso investimento. Ainda perguntei se alguém queria fazer algum comentário. Não. Partimos para a matéria do dia.

domingo, novembro 25

 
O filósofo
«Um Filósofo é aquele que consegue mostrar aquilo que o Não Filósofo não consegue ver» Ch Perelman
Um filósofo é aquele que vai mais fundo. Um filósofo é aquele que não se satisfaz com os factos, pois para ele os factos são muito pouco, o que verdadeiramente lhe interessa é o sentido, o motivo talvez?
No entanto, para conseguir explicar esta citação, primeiro é preciso saber a definição de um “não filósofo”. Do meu ponto de vista, este é aquele que não questiona. Os factos satisfazem-no; não vai mais fundo, contentam-se com a superfície. Mas o que estes “senhores” não sabem é que existem vários tipos de olhar, e que eles possuem o mais superficial de todos.
Porque será que apenas o filósofo é o único que consegue mostrar aquilo, que os outros (não filósofos) não conseguem ver? Então, a minha resposta é muito simples; porque são estes que ousam pegar na pá e cavar, cada vez mais fundo e mais fundo. E outros, mesmo sem pá, cavam com as mãos em busca de algo.
Que cavar é este perguntam-me vocês, então eu sem metáforas respondo que esse cavar é a busca intensa, rigorosa, crítica, não satisfeita e profunda da verdade.
Quando a “pedra preciosa” aparece nas mãos do filósofo, os outros indignados perguntam:
- Como é possível? Eu também lá estive e não vi isso!
E o filósofo com um olhar e um sorriso triunfante responde:
- Pois, tu só te limitaste a ver a superfície, enquanto eu, meu caro amigo, fui até ao fundo.
Margarida Cartaxo,10ºD
 
Filosofando a Filosofia
“Filosofia, s.f. ciência geral dos princípios e das causas; razão, sabedoria”. Sei que uma definição do dicionário tem como objectivo esclarecer uma pessoa, mas neste caso aconteceu-me o oposto, esta definição não me é suficiente nem me satisfaz.
Suspiro impacientemente.
Era suposto aquela definição ser a resposta da pergunta “O que é a Filosofia?”; porém o Professor pediu a nossa, não a da Porto Editora. Portanto cá vai…
Encontro-me concentrada e vou tentar “filosofar” um pouco sobre o que é para mim a filosofia. Pessoalmente era mais fácil dizer o que é um filósofo, mas não pode ser, pois filósofo vem da palavra-mãe Filosofia, e não ao contrário. O que quer dizer que só irei saber o que é um filósofo depois de saber o que é a filosofia.
Penso que, se falar metaforicamente posso chegar mais depressa à minha resposta.
Por vezes, somos induzidos em erro pelo primeiro olhar, o que me leva a reflectir que o segundo traz sempre algo de novo. “Espantosamente” reparo que o terceiro olhar também é diferente do primeiro e do segundo. Esta pequena dissertação sobre “os olhares” diz-me que a perspectiva das coisas muda com a concentração e a disposição pessoal.
Os olhares são sempre novos, senão vejamos: uma cebola. Sim, pois, uma cebola! Não me digam que acham ridículo imaginar uma?! Façam um esforço. Como todos sabemos, uma cebola tem muitas camadas. Então, metaforicamente, até chegarmos à sua essência, temos de passar por essas camadas todas… Ah! Acho que estou lá perto. Pois então a filosofia deve ser o processo de “descobrir” as camadas da cebola até à sua verdadeira essência!
Mas do que estou eu a falar? Se alguém me ouvisse iria julgar-me uma criança! Confundir filosofia com uma cebola…uma cebola !!!
Porém acho que estava a chegar a algum lado, mas alto lá! O professor disse que cada filósofo tinha a sua maneira única de filosofar, ou seja, cada filósofo faz a sua filosofia à sua maneira…Humm, é caso para pensar! Então, se cada filósofo descasca a cebola à sua maneira, como pode ter ele a certeza de que alcançou a verdadeira essência e não mais uma camada?
Vamos lá trocar a dita cebola pela realidade. Assim, para mim, a Filosofia é o estudo dos diferentes pensamentos filosóficos para atingir a verdade conseguindo-a justificar.
O professor tem razão quando diz que a Filosofia é radical, porque se tem de ir até à raiz ou essência. Ou seja, é necessário cavar, descascar, espremer cada vez mais fundo e mais profundamente.
A verdade nunca é vista a olho nu e é por isso que a Filosofia existe.
Margarida Cartaxo Nº 14 10ºD
 
O filósofo
“O filósofo é aquele que consegue mostrar aquilo que o não filósofo não consegue ver” Ch Perchman
Esta frase quer dizer que o filósofo vê o todo, o real, aquilo que faz parte da vida, coisas menos comuns, mas que ninguém repara nelas, no entanto fazem parte da vida, mas nem todos lhe dão atenção, nem pensam nelas profundamente para lhes tentar dar sentido ou para ver o seu sentido. O filósofo pensa sobre aquilo que vê, que sente, que pensa, ele tenta encontrar o sentido dos seus pensamentos nos próprios pensamentos e no que sabe e no que procura saber mais, porque o filósofo é a primeira pessoa a ter consciência da sua ignorância (douta ignorância), uma virtude que todos deveriam ter. O filósofo pensa, pergunta, investiga e explica as coisas menos comuns que pode haver.
Por outro lado, existe o não filósofo cujas características são “passar pelas coisas, não as olhar, não as observar e nem sequer pensar nelas”.
O não filósofo não “perde tempo” a pensar nas coisas menos comuns.
O não filósofo aceita as ideias do outro, as opiniões e os pensamentos e raramente diz “não”. Ao contrário, obviamente, do filósofo que se questiona porque será como dizem, se é verdadeiro o que dizem, constrói a sua própria opinião e pensamentos e procura saber sempre mais, por isso, diz “não” quando tem a certeza que não é como dizem ou explicam. Pode-se afirmar que o filósofo é o símbolo da dúvida e da curiosidade, ao contrário do não filósofo.
Vânia Raimundo, 10º D
 
O que é a Filosofia ?
A palavra filosofia vem do termo philos + sophia, ou seja, amar da sabedoria. Eu penso que filosofia é uma disciplina onde se aplicam questões mais gerais e profundas do que as diferentes disciplinas. Após algumas aulas de filosofia a que assisti, o professor colocou-nos a seguinte questão: “O que é a Filosofia?” e, logo depois, cada um de nós foi respondendo. Mas o mais interessante foi, de facto, que tinha notado que cada um de nós tinha uma opinião diferente acerca da filosofia. Alguns diziam que filosofia era uma ciência que estudava a vida, outros diziam que era uma disciplina onde se aplicavam questões tais como: “O que é uma cadeira?” e havia ainda muitas outras respostas… Isto levou-me a pensar, então “mas o que é realmente a filosofia?”. De um modo geral, sei agora que filosofia não tem definição própria, é pensar por si mesmo, e ir mais além (ir até onde se consegue chegar). Mas para o fazer, agora que já sei, começa-se sempre com o primeiro passo. Após saber o que é a filosofia, ganhei um aspecto muito importante na vida. Senti que algo mudou em mim. O facto de ser como era dantes, mudou completamente do que sou agora, porque ganhei consciência de tudo o que se passa à minha volta. Consegui finalmente perceber que “a filosofia vai permitir reflectir sobre o que já sabemos e até, ajudar a criar pensamentos, ter ideias e ter consciência de que produzimos essas ideias e opiniões. Com tudo isto, agora sei que “só sei que nada sei, mas sei mais do que esses que nem isso sabem” – filósofo Sócrates.
Margarida Martins, 10ºC
 
O que é isso de filosofia?
A palavra “filosofia” deriva do grego “philos” que significa amigo e “sophia” que significa sabedoria.
Contudo, a filosofia é muito mais que isto. Talvez por isso seja tão difícil definir e explicar o que é afinal a filosofia. Com os conhecimentos que já adquiri, vou tentar.
A filosofia, ou melhor, através da filosofia, tentamos dar um novo sentido ao que já sabemos (ou pensamos que sabemos). Com a filosofia, pretendemos chegar mais longe, ter as nossas ideias, os nossos pensamentos, as nossas opiniões, não nos limitando a ouvir e aceitar tudo o que nos é “oferecido” ao longo da vida. “Filosofar é estar a caminho”. Filosofar é soltarmo-nos do óbvio, do que todos pensam, todos acham. É ser diferente, é ser autónomo.
Filosofar é questionar, perguntar, duvidar. É procurar as respostas não aceitando a primeira que encontramos, “sujeitando a exame” todas as possíveis respostas e, com o que sabemos, de acordo com as nossas ideias, seleccionar o que aceitamos e o que não aceitamos. Filosofar é, depois de perguntar, dar uma resposta devidamente justificada.
Filosofar faz com que tenhamos de nos distanciar das ideias generalizadas, dos conceitos “pré – concebidos”, tomando uma posição consciente mas crítica.
Há um leque de assuntos nos quais podemos pegar. A filosofia tem esta vertente da “liberdade”. Qualquer coisa pode servir para expandirmos o nosso conhecimento de nós, do que no rodeia, dos outros.
Talvez por isto mesmo seja difícil definir “filosofia”. É uma imensidão de coisas, de perguntas, de respostas, de justificações a essas respostas, de pensamentos…
Existem dezenas de “áreas” que a filosofia explora. Contudo, o número de ideias, opiniões, pensamentos é igualmente vasto. Ou seja, cada um tem o seu conceito de filosofia, assim como tem as suas opiniões sobre tudo o que o rodeia. Como tal, não há uma definição fixa de filosofia, como há para a química e a física, a biologia e a geologia e tantos outros ramos de estudo.
A filosofia surgiu num contexto em que o homem procurava conhecer mais, conhecer outras coisas. Hoje em dia, pelo menos para mim, a filosofia procura saber mais e melhor o que já se sabe. Procura ver as coisas com outros olhos pois elas “variam consoante os óculos que usamos”, consoante a maneira como olhamos e encaramos as coisas.Para mim, isto é, de uma forma geral, a filosofia.
Joana Paulo, 10º C
 
O que é a Filosofia?
Desde que ouvi falar na palavra Filosofia ou até mesmo na disciplina Filosofia, sempre tive curiosidade em saber do que se tratava. Esta curiosidade surgiu porque achei que era uma disciplina diferente por exemplo da Biologia porque quando eu ouvia falar de Biologia sabia que esta área estudava a vida, mas não conseguia entender o que era isso de Filosofia.
Aqui começa a minha caminhada pelo saber…
Certo dia, entro numa sala do liceu, na minha aula de Filosofia e o professor diz-me que a palavra Filosofia deriva da junção dos termos philos (amor) + sophia (sabedoria), ou seja, o gosto, o interesse pela sabedoria.
Fiquei então a perceber que a Filosofia se tratava de uma ciência que estuda o saber e que principalmente o questiona.
Para mim, a Filosofia é, sim, uma ciência, mas é algo mais…algo que “põe em causa” as teorias, os factos e até mesmo o extremo abstracto.
Ter uma posição filosófica é ficar atento “àquela coisa” ou assunto que nos desperta à atenção, ou seja, observar, depois observar outra vez. Após a observação, devemos questionar-nos sobre o que vimos e de certeza que vão surgir algumas dúvidas. Estas devem ser esclarecidas através da investigação, mas sobretudo, uma investigação feita por nos próprios, sermos nós a descobrirmos a resposta às nossas dúvidas.
Ou, então, se não concordarmos com alguma coisa, dizer que não concordamos e principalmente justificar porque é que não estamos de acordo. Afinal de contas, como dizia Alain, “Pensar é dizer não”.
A Filosofia pode-se tornar num bom vício, porque quanto mais coisas descobrimos mais dúvidas temos, logo temos de investigar mais e nessa investigação vamos aprender muitas coisas e quanto mais aprendemos mais queremos saber. Para mim, isto é a Filosofia.
Inês Salvador, 10ºC
 
O que é a Filosofia?
Iniciei o estudo da filosofia há três semanas, e a primeira coisa de que falámos foi da sua definição. O professor lançou-nos a pergunta “O que é a filosofia?” e, visto que, nenhum de nós sabia o que era, cada um disse o que na sua opinião e, com o pouco que tinha ouvido falar sobre este tema, o que achava que era. Todos respondemos de maneira diferente. Quem teria acertado?
Pois é, ao contrário de todas as disciplinas que já conhecia, que têm uma definição, estudam determinadas matérias que se relacionam entre si e só existe uma resposta certa para uma pergunta, a filosofia não tem uma definição concreta, estuda tudo e existem várias respostas correctas para a mesma pergunta.
É isto mesmo que é a filosofia, uma ciência em que cada um pode dizer o que pensa sobre qualquer coisa. Mas em que é preciso pensar mesmo.
No meu caso, a filosofia (filos+sophia = amigo+sabedoria), é exactamente o que a formação da sua palavra nos diz, amigo da sabedoria, ou seja, é questionarmo-nos sobre o porquê das coisas, questionarmo-nos sobre coisas que as mentes mais “lunáticas” (o meu caso) imaginavam que fossem inquestionáveis, tais como “ O que é uma cadeira?”, “ O que é uma janela?”, que à primeira vista parecem básicas, mas que na realidade não o são.
Para mim existem duas coisas fundamentais para o estudo da filosofia, a concentração e a capacidade de pensarmos por nós próprios, porque por muito inteligente que uma pessoa seja, nem sempre está correcta, e por isso não devemos concordar imediatamente com quem quer que seja. Todos temos cabeça e autonomia. Devemos primeiro pensar, e só então podemos saber se concordamos ou não com a maneira de pensar da pessoa em questão. É importante saber dizer não.
Todos nós, apesar de uns serem mais sábios que outros, temos a capacidade de ser filósofos. A única coisa de que precisamos é de nos questionarmos, de responder e de justificar a nossa resposta de uma maneira válida, lógica e racional.
Bárbara Silva , 10ºC
 
Homem, um ser práxico
Hoje, pedi-lhes que lessem, em pares, meio texto de Arnold Gehlen. Problema: o que quer dizer "o homem é uma tarefa"?
Em plenário, fomos concluindo.
- o animal nasce muito definido biologicamente; o homem nasce plástico;
- o animal será muito como os da sua espécie; o homem será muito como os da sua cultura.
Foi, então, fácil perceber o homem como tarefa: tarefa porque não nasce feito, tem de fazer-se. Fazer-SE. Por isso se diz que o homem é um ser práxico, ou seja, na sua vida ele faz-SE.
E introduzi um tríplice distinção: eco-formação, hetro-formação e auto-formação. O homem começa por ser feito pelo meio ambiente natural e cultural, nesse ambiente alguns "outros" ocupam-se especialmente da sua formação e é só depois que o homem ganha alguma autonomia para fazer-se a partir daquilo que o meio e o ambiente fez dele.
Mas este "depois" começa bastante cedo, por exemplo quando a criança começa a cuspir a papa que não quer ou a fugir da mão dos pais para ir para ir ver o que lhe interessa... até que mais tarde se define como projecto próprio de vida face aos outros.
A partir daqui, dei-lhes algumas notas para leitura do homem.
Platão, há 2.500 anos, números redondos, ensinou-nos que
homem = alma + corpo,
mas em que o homem era a alma e o corpo só atrapalhava.
Quanto mais alma mais homem; quanto mais corpo menos homem.
E a alma era espiritual, racional, imaterial e eterna ou imortal.
A igreja católica aprendeu a lição e espalhou-a por todo o Ocidente.
E ainda hoje muito do nosso pensamento é feito nesta matriz.
Mas as ciências biológicas e sociais têm vindo a propor-nos outra matriz de leitura:
homem = corpo que pensa.
Sendo assim, o homem é um corpo que chega a ser capaz de dizer "eu".
Mas é importante darmo-nos conta de que este corpo só será capaz de dizer "eu" se for educado por uma sociedade em que aprenda a dizê-lo. O corpo do animal homem não é naturalmente homem, faz-se homem em sociedade.
Além disso, desde Platão, aprendemos a definir-nos como animal racional. Mas basta olhar para nós para vermos que não é lá muito verdade. Por exemplo, todos nós conhecemos a história: «Sei que fumar mata, mas eu continuo a fumar». Isto é racional?
Concluíram facilmente que não. E quantas vezes damos por nós a fazer o contrário do que queremos e sabemos que devemos fazer?
Talvez fosse melhor substituir a noção de homem como "animal racional" por "animal capaz de ser racional".
A racionalidade é uma função do córtex cerebral que a evolução colocou no topo das funções adquiridas para, com ela, o animal humano conseguir melhor qualidade de vida num mundo muito complexo.
Perguntei se havia alguma questão. Não havia. Mas eu adivinho que haveria muitas. Por isso acrescentei. Isto não tem nada a ver com a religião cristã. A distinção entre alma e corpo é grega e só depois foi incorporada no pensamento cristão.
 
Autoscopia
Comecei a aula com uma observação.
- Hoje está um dia triste lá fora. Por isso, só há uma solução: fazermos com que a alegria nos venha de dentro. Aliás, quando a alegria nos vem de dentro não está tão dependente do que possa acontecer-nos de fora.
E continuei.
- Estamos a chegar de um fim de semana. É altura de fazermos um balanço. Cada um para si, em privado, é claro, porque se trata de matéria íntima. Cada um revê "o filme" do fim-de-semana e faz o teste a partir de quatro perguntas.
E fui dizendo-as e escrevendo-as no quadro, num ambiente de silêncio.
1 - Que me aconteceu?
2 - Que fiz?
3 - Que me fiz?
4 - Como me fiz?
 
Do Fazer ao Agir
Pedi-lhes que lessem meia página do livro e, a pares, esclarecessem, num texto de uma ou duas frases, a seguinte afirmação:
Fazer é diferente de Agir.
Fui vendo o que faziam, perguntando aqui, sugerindo uma pista ali... Até que passámos ao plenário, com algumas respostas e sintetizámos:
Fazer = produzir um efeito
Agir = fazer intencionalmente
O arado "faz" um rego, o lápis "faz" um risco. Mas só o homem age.
Portanto, a distinção está na intencionalidade. O que nos remete para um conjunto de palavras... que lhes pedi que apresentassem. Começaram a surgir:
razões ou motivos, consciência, finalidades, ponderação ou reflexão ou pensamento, significado, vontade ou querer, agente ou sujeito...
Estas são as palavras com que podemos escrever um texto sobre a acção humana. Ou, é claro, pensar a acção humana. E pensá-la é, além do mais, esclarecer a linguagem do dia-a-dia, que é bastante confusa.
Feito este exercício, estavam em condições de perceber sozinhos o resto do texto. Dei-lhes alguns sublinhados, como faço de quando em vez, para os ajudar a trabalhar o livro. (Alguns irão ler estas páginas em casa, outros não. Mas isso já está fora do meu alcance.)
 
Os testes
Os primeiros testes são uma ameaça, o perigo desconhecido.
Não têm que se preocupar. Em vez de quererem adivinhar o que vai sair para se prepararem para o que vai sair, preparem-se e estarão em condições de resolver os problemas que vos forem colocados.
O primeiro teste é isso mesmo, o primeiro. O resultado que tiverem é importante, é claro, mas também como informação do que podem e devem fazer. Alguns vão ter melhor resultado do que desejam, e será óptimo; outros terão resultado menos bom do que querem, e terão que ver o que devem fazer.
E fizemos o teste.
Numa turma houve 12 alunos (43%) e na outra 19 (70%) que tiveram nota inferior àquilo que queriam ou esperavam.
- Agora, é como quando se vai ao médico: diagnóstico, receita e aplicação. Só a aplicação de uma boa receita depois de um bom diagnóstico é que permite resolver o problema. Temos de ver o que correu mal, onde esteve o problema e o que deve ser feito para superar o insucesso que desejamos que seja temporário.
Alguns alunos recuperam facilmente. Noutros casos foi falta de estudo, e cabe a eles resolver a equação. O verdadeiro problema são os outros, aqueles que não conseguiram obter o que queriam por carências de base.Nesses casos o trabalho terá de ser longo e paciente. Mas vale a pena, porque, quando houver ganhos, eles alastram pelas várias disciplinas. Como de costume, os problemas não são de filosofia, mas de compreensão, de escrita, de estrutura das frases, de organização de raciocínio, de falta de imaginação construtora. Há, como de costume, demasiado pensamento reprodutivo e muito pouca imaginação ou pensamento próprio. Temos que continuar a trabalhar sobre estes tabuleiros todos.
 
Ser influenciado
Devo ter feito alguns sublinhados mais fortes do que devia. Com efeito, surgem-mo nos textos afirmações de que o homem livre «não é influenciado», de que «não devemos ser influenciados».
Mas quem é que não é influenciado?
- Já aqui falámos de que sem influências da sociedade nem nos tornamos homens ou mulheres. E vocês não estão a ser influenciados por aquilo que aqui discutimos e fazemos? É claro que sim. Ainda há pouco nem sabiam o que era a filosofia e hoje já são capazes de fazer bons trabalhos e boas análises filosóficas. E isso deve-se a quê?
Mas parece-me que o dogma de que não devemos ser influenciados vem lá de fora e é um preconceito da filosofia de rua que por aí anda. Que eu talvez tenha ajudado a reforçar. Ou, pelo menos, que não consegui corrigir.
 
A liberdade
- Ser livre é pensar por si. Mas pensar por si não é necessariamente estar contra. Tanto pode ser estar contra como a favor. Alguns jovens colocam-se contra os pais ou professores para serem livres, mas não fazem mais do que submeterem-se ao pensar do grupo. O jovem filósofo é aquele que desenvolve o sentido crítico, isto é, que desenvolve um critério de julgamento e que se coloca contra e a favor a partir daquilo que pensa e não daquilo que lhe pedem que aceite e que seja. Não ser capaz de ser diferente do que o grupo quer é o mesmo que não ser capaz de ser diferente do que os pais querem.
 
Eu e os outros
- Percebe-se facilmente a razão por que tantos adolescentes pensam "contra" os pais e os professores. Significa, antes de mais, que são capazes de pensar e que querem pensar por si. Há aqui uma vocação de filósofos a afirmar-se. Mas muitas vezes o que acontece é que para não pensarem como os mais velhos acabam por copiar aquilo que os da mesma idade dizem e fazem. E assim se perde aquilo que poderia ser um percurso de autonomia. Libertam-se dos pais e submetem-se aos do grupo. Em vez de pensarem pela sua cabeça, tornam-se mais um da manada. Querem ser livres e submetem-se à tirania do grupo. Ser livre é pensar por si.
 
Pensar por si
- Porquê filosofar?, perguntei.
E pedi-lhes que lessem, em pares, um texto de Michel Tozzi constante do manual adoptado.
Foi no plenário que acabámos por concluir com o autor:Quando somos pequenos aprendemos com os que nos rodeiam, dois pais e professores à televisão. Como não temos sentido crítico, bebemos tudo como se fossem verdades indiscutíveis. Mas quando chegamos à adolescência, começamos a colocar tudo em causa e a penar por nós.
A adolescência é a idade filosófica por excelência. As crianças fazem muitas perguntas, mas aceitam facilmente as respostas. Os adultos muitas vezes já têm medo de fazer as perguntas, quanto mais de procurar as respostas.
Depois deste trabalho, pedi-lhes que escrevessem um texto justamente intitulado "Porquê filosofar?"
Escreveram. Só que... não se apropriaram da reflexão que havíamos feito. Pedi-lhes que o reescrevessem para incorporarem os novos contributos. As segundas versões já vinham melhores.
 
Os olhos
“Cada um de nós vê com os olhos que tem e os olhos que tem foram formados pela cultura em que foi educado.”
Normalmente quando alguém que não pertence a um determinado grupo e é introduzido nesse mesmo grupo tem bastantes dificuldades em integrar-se, visto que não tem os mesmos costumes, a mesma forma de vestir, as mesmas características ou a mesma forma de pensar. Isto deve-se ao facto das pessoas olharem os outros sempre com os mesmos olhos, o que faz com que tenham de os ver sempre da mesma forma. É como a moda de usar óculos escuros, as pessoas usam os óculos escuros até dentro de casa, onde não há sol, da mesma maneira que as pessoas usam sempre os mesmos “olhos” sem se dar ao trabalho de corrigi-los, no que diz respeito a avaliar o próximo. A isto chama-se preconceito.
Esta tese explica também o porquê da existência “desses olhos” que, segundo podemos comprovar, na maioria das vezes não conseguem fazer uma correcta avaliação daquilo que está mais à vista, isto porque foram educados de modo a só reconhecerem como correcto determinadas afirmações, formas de estar, características, maneiras de pensar, maneiras de vestir…
A forma como avaliamos os outros está relacionada com a nossa educação, e apesar dessa educação poder ter sido a melhor, não devemos deixar que esses preconceitos “nos ceguem”, devemos tentar pensar por nós próprios abstraindo-nos assim das nossas reacções imediatas face a algo novo, devemos avaliar cuidadosamente o que nos é apresentado sem recorrermos a ideias pré-estabelecidas. Não podemos deixar que as nossas ideias pré-estabelecidas comandem a nossa vida, porque caso isso aconteça o mundo continuará dividido em “fatias”.
Infelizmente, a sociedade actual apresenta uma estruturação específica, fatias: os indivíduos que a compõem agrupam-se em determinados grupos segundo certos critérios, como a religião, a cultura, as classes sociais… Esta estruturação conduz a inúmeras situações de desrespeito e desprezo entre os vários grupos, que são na maioria das vezes derivadas do desconhecimento ou incompreensão entre esses grupos.
Normalmente indivíduos que foram educados em culturas diferentes têm formas de pensar também elas diferentes, isto porque as ideias recebidas por influência do meio envolvente são também elas diferentes. Por exemplo os cristãos e os indianos dificilmente terão as mesmas ideias em relação a um mesmo assunto.
O desconhecimento e incompreensão que advêm das diferentes culturas, em que duas pessoas foram educadas, podem também conduzir a conflitos entre elas, é talvez esta uma das origens da guerra.
Nestes casos, uma forma de reduzir as divergências de opinião ou mesmo conflitos devidos a preconceitos ou cunhos de formação, consiste em recorrer à comunicação e discussão de pontos de vista entre as partes, recolhendo assim a informação. Seguidamente, a informação recolhida deve ser processada para que sejam criadas ideias próprias e racionais, a isto chamamos filosofar.
Embora os monges tibetanos sejam tidos como filósofos, este, da nossa história, não se comportou como tal.
Raquel Lalanda, 10ºC
 
Porquê / Para quê filosofar ?
Desde a nossa juventude que somos “bombardeados” com ideais e teorias que sempre considerámos verdadeiras e indiscutíveis. No entanto, como é que podemos ter a certeza de que todas essas ideias e teorias são verdadeiras?
Essas verdades “indiscutíveis” foram criadas por seres humanos iguais a nós que as transmitiram a outros seres humanos. É assim que flúi o conhecimento. No entanto, se esses seres humanos são iguais a nós, têm as mesmas limitações que nós e assim, tal como nós, podem ter opiniões correctas ou erradas.
Deste modo podemos concluir que nenhuma “verdade” é certa e inalienável. Devemos sempre pôr essas “verdades” à prova, devemos examiná-las, e isto é feito através da reflexão, através do filosofar.
Assim, não devemos aceitar cegamente as ideias e teorias que existem (pois quem pensa o que os outros pensam, não pensa, é o eco dos outros). Devemos tentar não nos deixar influenciar pelos outros seres humanos, devemos através da reflexão e da experiência (através do filosofar) tentar atingir um conhecimento seguro do real. Ao filosofarmos, além de atingirmos esse conhecimento, adquirimos também uma visão crítica e racional sobre as coisas. Somente após termos conseguido atingir este mínimo de sabedoria é que devemos passá-la a outros. Pois a sabedoria e o conhecimento são matérias-primas que devem ser consumidas, pois são das únicas que não produzem dejectos!
Raquel Lalanda, 10º C
 
O filósofo
“O filósofo é aquele que consegue mostrar aquilo que o não filósofo não consegue ver.” Ch. Perelman
O filósofo pensa de forma radical. Vai á raiz das questões, dos problemas. Desta forma descobre, percebe, aprende coisas que não aprenderia olhando “de forma superficial”, sem pensar no que vê.
Eu considero que, nesta frase, o não filósofo é aquele que olha para tudo o que o rodeia e limita-se a ver aquilo que já foi visto, a pensar o que já foi pensado, não se libertando do senso comum e não tentando aprofundar, conhecer melhor tudo o que o rodeia.
O filósofo por sua vez, pensa, questiona, pondera, responde, submete a exame, justifica. Desta forma, atinge um conhecimento vasto, profundo, até sobre uma questão considerada comum, como por exemplo: “o que é que está certo?”
O não filósofo limita-se a aceitar o que já sabe. Não pensado, não interrogando, não submetendo a exame tudo o que lhe dizem, tudo o que já aprendeu. Não tenta voar mais alto.
É por tudo isto que “o filósofo consegue mostrar aquilo que o não filósofo não vê”.
Joana Paulo, 10ºC
 
Escrever
Desde cedo, mando-os escrever. Algumas frases, ou mesmo um texto.
Que é a filosofia?
Leio e corrijo. Por vezes mando corrigir o que foi escrito. E assim vão progredindo. Consolidam o que vamos dando e sobretudo desenvolvem um discurso próprio, que vou procurando que melhore.
Escrever é um trabalho criativo, é assumir-se como voz própria, é constituir-se como autor, mais especificamente como filósofo, ainda que aprendiz. Por isso, esforço-me para que fujam do plágio, da repetição por outras palavras, pela reprodução do livro ou do professor.
No início, há alunos que não conseguem escrever mais que uma ou duas frases. Por vezes não conseguem dizer mais do que confessar a sua incapacidade. Mas, pouco a pouco, vão desenvolvendo uma competência que esperava o exercício.
Para mim, eles são convocados a duas produções: oral, na aula, e escrita, na aula e em casa. (É claro que alguns esquecem-se e escrevem "umas coisas" antes da aula", mas depressa vêem que isso não dá.)
Quando se lê os textos dos alunos, encontra-se boas produções, algumas que são verdadeiras surpresas. Mas também nos damos conta de que alguns perceberam ao contrário, que perceberam coisas de que nem suspeitávamos. Pelo que este exercício da escrita dos alunos tem um duplo efeito no professor: alguma satisfação pelo caminho andado e a percepção de correcções a fazer.
 
Visita a Sócrates
- Quem quer ir à Grécia?
Todos queriam? Deixaram-se enganar pelas palavras ou entraram no jogo? Mudei de linguagem.
- Vamos assistir em directo a um encontro muito importante. Podemos dizer que a filosofia é aquilo que os filósofos fazem. Vamos ver um dos maiores filósofos a "fazer filosofia". Sócrates, o filósofo, vai encontrar-se com Eûtifron, um sacerdote de Atenas.
Contei-lhes a história de Sócrates que foi ao templo de Delfos consultar o oráculo que disse que Sócrates era ao mais sábio de Atenas: «Eu? Mas eu não sei nada! E, no entanto, o deus não pode estar enganado...» E Sócrates foi ver o que se passava, ou melhor o que é que sabiam os que passavam por ser os mais sábios e os mais importantes de Atenas. E percebeu que eles, afinal, não sabiam nada. E concluiu: «Só sei que nada sei. mas mesmo assim sei mais que esses que nem isso sabem.»
- Ora bem, vamos assistir a um encontro deste género. E vamos ver como é que Sócrates já pratica tão bem o novo modo de pensar, o pensar filosófico.
E distribuí-lhes um trecho do diálogo platónico Eûtifron, que lemos e analisámos.
Vimos Sócrates em acção: a ouvir as afirmações do outro, mas sobre tudo a submetê-las a exame.
- Uma afirmação, agora, não é válida ou aceite só porque alguém a diz. O que é que torna uma afirmação aceitável?
Foi difícil chegarmos lá. Mas chegámos.
- Uma afirmação é válida quando resiste ao exame. Isto é, quando a justificação dada resiste aos testes a que for sujeita.
Esta é a nova gramática deste novo modo de pensar, a filosofia.
 
Do vertical ao horizontal
Quando lemos o texto bíblico, perguntei-lhes no final:
- Como é que sabemos que isto foi assim? Ou melhor, para quem acredita neste texto, como é que pode ter a certeza de que as coisas se passaram assim? Ou ainda de outro modo: qual foi o jornalista que fez a cobertura destes acontecimentos?
Com estas perguntas num diálogo progressivo, foi-lhes fácil concluir, ajudados, que este texto só pode ter um autor: Deus. Só Deus pode "revelar" aquilo que aqui está escrito.
- E quem acredita, que é que pode fazer? Nada mais que acreditar. Pois se Deus diz e eu não tenho outra forma de saber... Aliás, conhecem aquela pergunta: Quem como Deus? O valor da afirmação vem da autoridade divina daquele que a diz.
E assim caracterizámos o pensamento mítico: vertical de cima para baixo. Deus diz, o homem aceita e cumpre. É esta a matriz.
Com o pensar filosófico, a matriz é outra.
- Agora, quem diz é um homem comum, um homem como os outros. Que autoridade tem a palavra de um homem comum? Porque hei-de eu aceitar aquilo que ele diz?
Agora, o que faz valer uma afirmação são as justificações que ele me dá.
Estamos, portanto, perante um pensamento, não já vertical de cima para baixo, mas horizontal, entre homens iguais, isto é, igualmente capazes de pensar por si.
Até aqui, eles vão. O pior é quando eu lhes pergunto:
- Mas o que é que faz valer as justificações? Ou sseja, porque é que eu aceito as justificações que ele me dá?
Com algum trabalho de diálogo dirigido acabamos por concluir que...
- As justificações que ele dá valem para mim quando elas resistem ao exame que eu lhes faço. Se elas resistem, eu acabo por aceitá-las.
E, com o apoio do livro, vamos à Grécia:
- Quando tales disse que tudo era feito de água, logo outros vieram discordar. Que não: que tudo era feito de indeterminado, de névoa, de fogo, de átomos... E cada um dava as suas justificações. estão a ver como, com uma nova gramática de pensar - perguntar, responder e justificar - imediatamente começaram a surgir pensamentos muito variados?
É isto a filosofia.
E é isto a nossa oficina de filosofia.
 
A origem histórica
- Quero convidar-vos para irmos fazer uma visita de estudo. (Quase se levantaram.) Vamos à Grécia, mais exactamente à cidade de Mileto, que fica onde hoje é a Turquia, e vamos assistir a um dos mais importantes acontecimentos da história da humanidade. Vamos a isso? Apertem os cintos, que vamos levantar voo.
Estavam presos ao que ia passar-se.
- Um homem, chamado Tales, Tales de Mileto (e escrevi no quadro), está a pensar. E faz uma pergunta: de que é que tudo é feito? E responde: de água. E justifica: porque onde há água tudo medra e onde falta a água tudo morre e desaparece. (E calei-me.)
Eles estavam ao mesmo tempo desiludidos e atentos. Como quem diz: só isso? Avancei.
- Porque é que eu disse que foi «um dos mais importantes acontecimentos da história da humanidade»? Que há de extraordinário nisto tudo para, 2.500 anos depois, números redondos, ainda contarmos este episódio? Ainda por cima, trata-se de uma afirmação falsa.
Pelo método do diálogo conduzido, utilizando as suas respostas e fazendo eu perguntas que os empurravam para a direcção que eu queria, chegaram a concluir que aqui há algo de muito importante que se passa: um homem faz uma pergunta e é ele próprio que responde por si e dá justificação para aquilo que afirma. O facto de a afirmação não ser hoje válida não invalida que seja válido hoje o modo de pensar. Aqui nasce a filosofia como um novo modo de pensar. Como? Nestas três palavras: perguntar, responder e justificar. podemos, por agora, dizer que é isto a filosofia: perguntar, responder e justificar. E quero que estas sejam aqui três palavras sagradas. Até porque é aqui que também começa toda a ciência - que podemos dizer que é um outro modo de pensar que vai nascer, números redondos, 2.000 anos depois de Tales de Mileto.
E temos assim três modos ou três gramáticas de pensamento: o pensar mítico, o pensar dito racional (à falta de melhor palavra) e o pensar científico.
No princípio só havia o pensar mítico. Depois, na Grécia, nasceu o pensar filosófico, e já havia dois. Agora, na nossa sociedade, há três modos de pensar e nós pensamos com eles os três. Daí alguma confusão, mas também uma grande riqueza.
 
Antes da origem da filosofia
O trecho bíblico da criação do mundo serviu como matéria de trabalho em aula. Lemos e passámos ao comentário. Como de costume, começaram a dar "opinião".
- Não me interessa a vossa opinião. Quero é saber o que o texto diz, a vossa leitura do que o texto diz.
Foi difícil começarem. Mas eu empurrei.
- Como é que é isso de a luz ser criada no primeiro dia e o Sol e as estrelas surgirem só dias depois?
Chegaram a concluir que esta luz era "outra luz", diferente da luz do Sol. E saltámos para o pensamento semita, dualista, de um duplo princípio, o Bem e o Mal, com maiúsculas. Ali diz que o Bem vem de Deus e que domina sobre o Mal.
- Como é isso de «um firmamento entre as águas»?
Não chegaram lá mas eu desenhei o mundo na visão primitiva: uma superfície plana e circular, coberta por uma meia esfera. É isto que ainda hoje vemos quando vamos por exemplo ao castelo de Abrantes. É esta a visão que está presente neste texto.
E continuámos a explorar o texto neste sentido.
Quis atingir três objectivos muito claros:
Que um texto de um tempo passado não pode ser lido como se fosse um texto de hoje.
Que temos de entender o que um texto diz e só depois pensarmos sobre o que ele diz.
Que o pensamento mítico é uma forma de pensamento e que pensa contando histórias.
Até surgir a filosofia, todo o pensamento era assim: pensar contando histórias. E ainda hoje muito do nosso pensamento segue esta gramática do pensamento mítico. E demos alguns exemplos. Os maiores vêem-se no papel do cinema e das telenovelas, que são formas de pensar a vida.
 
A cadeira
Um dos primeiros exercícios de pensamento a que os convoco é muito simples. Pergunto apenas "o que é uma cadeira?" ao que logo alguém responde
- É um objecto que serve para a gente se sentar.
- Isso é uma pedra.
- É um objecto que serve para a gente se sentar e tem quatro pernas.
- Isso é um banco.
- É um objecto que serve para a gente se sentar, tem quatro pernas e tem encosto.
- Isso é um sofá.
E continuamos assim durante algum tempo.
- Todos vocês, se eu pedir, sabem ir buscar uma cadeira; todos vocês utilizaram já, e bem, tantas vezes a palavra "cadeira"; mas agora ninguém sabe dizer o que é uma cadeira. Que é que se passa?
Quase posso dizer que esta é para eles uma experiência traumática. Que os marca.
Dali eu tiro duas conclusões primeiras:
Que utilizamos palavras a que não prestamos muita atenção, que muito do que dizemos nunca foi objecto de uma análise cuidada;
Que a filosofia é, entre outras coisas, o exercício de "olhar as palavras à lupa" e ver o que elas querem dizer.
 
Balanço
Quando fizemos um mês de aulas, pedi-lhes um balanço, uma avaliação do percurso feito em conjunto. Expliquei que de filosofia eu tinha obrigação de saber um pouco mais que eles, mas de como eles tinham vivido este percurso a única autoridade são eles. O exercício foi oral, em plenário.
Eu sintetizo do seguinte modo, como fiz perante eles para ver se tinha percebido bem. Sintetizo e comento.
O percurso tem sido interessante - e isso é bom
Eles andam um bocado perdidos - e isso é natural
Estão um pouco fartos de se falar sempre do mesmo, a filosofia - e isso é natural
Quando eu era professor de sociologia, nunca começava pela metodologia. Pelo contrário, entrávamos na matéria e depois víamos como é que se chegava lá. Mas em filosofia nunca fiz isso. Ou melhor, sempre respeitei a tradição de se começar por uma reflexão sobre... uma coisa que eles não conhecem. É verdade que procuro que façam alguma experiência da filosofia, mas todo um mês a falar «do mesmo» não é fácil para eles.
Outra observação teve a ver com o facto de ser demais uma hora e meia a falar do mesmo: «Depois de meia hora já é difícil prestar atenção.» Eu procuro variar as actividades ao longo da aula, mas por vezes uma mesma actividade prolonga-se. Contudo, também eles têm de ir aumentando a sua resistência, a sua capacidade de atenção continuada. É difícil o equilíbrio. Ao passo que o desequilíbrio é fácil. Vamos pouco a pouco.
Um dos objectivos deste exercício de avaliação é dar-lhes espaço de análise crítica, é dizer-lhes que tudo pode e deve ser avaliado. Que uma pessoa com cabeça não pode ser indiferente àquilo que vive. Que o direito à crítica é universal e para ser exercitado aqui onde vivemos.Acrescento que criticar é utilizar um "crivo" que permite distinguir entre o que está bem e o que está mal. E peço-lhes, por questões de método, que comecem pelos aspectos positivos e que continuem, só depois, pelos negativos. Nada é só positivo e nada é só negativo. Ser capaz de ver os dois lados é ser capaz de ver melhor e ser mais inteligente.
 
A filosofia
De propósito, na primeira aula não falámos de filosofia. Temos tempo.
Mas na segunda perguntei-lhes o que pensam ou sabem do que é isso que dá pelo nome de filosofia. Cada um disse o pouco que sabia.
A maioria confessou que nada sabia, embora alguns talvez apenas o tenham dito para poderem ficar calados face à turma. Outros já apontaram a reflexão como nota característica. Um ou outro já tinha ido espreitar à Internet...
Depois dei-lhes a primeira nota.
A Filosofia é uma das actividades de procura e construção do sentido. Necessária sobretudo quando se perde.
E, para me explicar, desenhei um caminho a bifurcar-se. Se eu chegar aqui, à bifurcação, e não souber para onde ir, corro o risco de me perder. Ora todos os dias tomamos milhares de decisões e precisamos de saber para onde ir.
O homem é um animal que faz opções e só há duas formas de optar
 
O(s) livro(s)
Para que conste a quem quiser espreitar.
O livro obrigatório, ou manual:
Phi – Filosofia 10º ano, de Agostinho Franklin e Isabel Gomes, Texto Editores.
Livro quase obrigatório, para quem puder e quiser:
O dia em que Sócrates vestiu jeans, de Lucy Eyre, Casa das Letras

segunda-feira, novembro 5

 
O peixe
Na segunda metade da aula, depois de uma pausa para respiração, já trabalhámos. Leitura e análise de um texto que eu baptizei de “O Peixe”. É uma história oriental
Um jovem pediu para ser aluno de um professor célebre. Este deu-lhe um peixe para ele observar. Ele olhou e viu o que toda a gente vê num peixe. E ficou certo de saber já tudo o que havia a saber acerca do peixe.
- O que é que ele viu? Nada É sempre assim. Os ignorantes sabem sempre tudo. Só os de fora é que vêem o ridículo da ignorância.
Mas o professor não vinha e o aluno teve que continuar a olhar para o estúpido peixe.
- É sempre assim, os ignorantes promovem sempre os outros a estúpidos.
O aluno já estava farto, mas o estúpido do professor não aparecia.
- Mais um promovido à categoria de estúpido.
Então, para passar o tempo, começou a desenhar o peixe, e, aí sim, começou a descobrir coisas interessantes. E aprendeu o que o seu professor tantas vezes lhe ensinara: que o lápis é o melhor dos olhos.
- Afinal, o professor não ensinara, apenas pensava que ensinara, pois só agora o aluno descobriu por si. O verbo aprender só se conjuga na voz activa, e na primeira pessoa do singular, “eu aprendo”, e do plural, “nós aprendemos”.
O professor veio, mas não ficou satisfeito e disse-lhe que continuasse a observar. Então, o aluno atirou-se ao trabalho com vontade.
- Este é um momento muito perigoso: o aluno pode desistir ou insistir. Ele insistiu e ganhou. Outros desistem...

N.B. – Os travessões indicam aquilo que fomos concluindo em diálogo dirigido sobre o texto. Foi bonito. Tive a certeza de que eles gostaram.

O direito à asneira
Faço sempre questão de proclamar na primeira aula algumas das regras que vão reger-nos. E a primeira de todas, a mais básica, digo-a assim mesmo direito à asneira que não quer dizer palavrão ordinário, é claro. Trata-se do reconhecimento puro e simples de que estão aqui para aprender e isso significa que não sabem. Portanto, é natural que não saibam e não devemos fingir que se sabe o que não se sabe. Mas isso implica dois corolários: 1 – que cada um se reconheça a si o direito de errar, e diz-me a experiência que não é tão fácil como devia ser; 2 – que cada um reconheça ao outro o direito de errar sem por isso ser penalizado, e também isso não é tão fácil como devia ser. Disse, depois, que este é um lugar de trabalho, portanto diferente do tempo e espaço de recreio; que estão aqui porque quiseram e é, só pode ser, para o que aqui se faz; que não estou ali para os ensinar, porque ninguém ensina nada a ninguém, mas também ninguém aprende sozinho, portanto o meu papel é ajudá-los a aprenderem; que “quando um burro fala, os outros baixam as orelhas”; que isto vai parecer difícil mas é próprio para jovens da idade deles e basta olhar para frente para vermos que os outros também por cá passaram... E terminei dizendo que estão aqui para sofrerem uma transformação de que agora nem suspeitam. Não para serem transformados por mim naquilo que eu possa querer deles, mas para serem transformados por aquilo que formos fazendo uns com os outros, em que cada um é o principal responsável pela transformação que vier a fazer. Acrescentei que é essa transformação que vai medir a qualidade do trabalho. Trabalho = (A -» Z) sendo A o seu estado inicial, Z o seu estado final. Daí que, se não houver mudança é sinal de que não fizemos nada.
 
O barco vai de saída
Era o dia de início das aulas. Sabia que logo pela manhã, oito e meia, iria estar de serviço às substituições. Ou seja, poderia calhar-me uma turma do 5º ao 12º ano. Não era possível preparar uma aula específica, uma tarefa, um programa, para executar. Teria de lançar-me de pára-quedas.Calhou-me a substituição de um professor de filosofia numa turma do 11º ano. No último piso. Tive tempo, por isso, de pensar uma estratégia e um programa até lá. Mas comecei sem ainda ter aterrado completamente.
Creio que correu bem. Pelo menos foi o que li nos olhos deles.Depois, foi o encontro com uma turma que já tive no ano passado, portanto um turma “de continuação”. Aproveitei o facto de termos ali uma nova aluna e fiz uma aula de revisão das regras do jogo. É indispensável, logo de início, mostrar o jogo e jogar de acordo com as regras. A primeira imagem é muito importante, pois é ela que organiza o pensamento e o comportamento da turma. Foi bom voltar a encontrar os meus alunos. Tenho a certeza de que vai ser bom – embora por vezes difícil – mais um ano de trabalho.
Depois, para terminar a manhã, o encontro com uma nova turma do 10º ano. Alunos que, no geral, eu não conhecia. Mas alguns já os havia encontrado numa aula de substituição há dois anos. Tinham-me eles dito há dias. Mas hoje não falámos disso.Começámos pelas apresentações. Perguntei-lhes se queriam dizem alguma coisa, que não. Mas a Ana disse que não gostava de Filosofia. Que já tinha experimentado e é uma coisa «esquisita», de que não gostou. Acabou por dizer que estava disponível para que algumas outras experiências, este ano, pudessem ser melhores. É esse o ponto de partida necessário. E passei eu a apresentar as regras do jogo, que eles ouviram com atenção.
Depois, lemos um texto, uma história de sabor oriental, e explorámos em conjunto o seu significado. Estava um calor excessivo, mas trabalhámos no texto até ao final da aula. A Ana acabou por dizer que já viu que este ano iria ser diferente. Claro, não há dois professores iguais. E foi já à pressa que lhes desejei “bom fim-de-semana”.
Adeus, ó cais de Alfama.

P.S. – Este texto foi escrito na altura e agora transplantado para aqui.
 
Da norma editorial
A responsabilidade editorial deste blogue, dada a sua natureza, é do professor, que vai dando conta do que se vai passando, vai escolhendo os textos dos alunos, e vai alimentando as entradas.
Quanto aos textos escolhidos, eles são da autoria dos alunos, que os fazem como tarefas escolares. Depois de entregues, o professor assinala problemas (de pontuação, de acentuação, de construção...) que os alunos irão corrigir ou mesmo problemas filosóficos que os alunos vão resolver como entenderem. Depois, são reenviados ao professor, em formato digital, o que significa (conforme ficou explícito em aula) autorização para publicação neste blogue.
Contudo, deseja-se que os alunos sejam participantes inteiros deste projecto que quer ser colectivo. Por isso podem propor textos de sua iniciativa. Para lá, é evidente, das entradas por comentário.Este blogue não é o retrato fiel, não é o documento histórico ou as actas do nosso curso. Ele vai ser o que nós conseguirmos que seja.
 
A abrir
Vai este blogue servir para nele deixarem marcas os passos que juntos, alunos e professor, fazemos na disciplina de Filosofia no 10º C e 10º D da Escola Dr. Manuel Fernandes em Abrantes.
As razões são muitas, mas sobretudo quatro.
Primeira: o nosso percurso é um percurso e é o melhor que somos capazes de fazer hoje, por isso queremos partilhá-lo.
Segunda: os alunos vão produzindo bons textos, tendo em conta a sua idade e nível escolar, são obras que merecem ser divulgadas.
Terceira: esses textos divulgados podem muito bem ser exemplos, múltiplos, não a copiar, mas a servir de referência aos alunos que têm mais dificuldade em perceber “o que é para fazer”, e de exemplos, também, embora de outra natureza, para os pais que aqui podem ver um pouco do muito de que os seus filhos são capazes.
Quarta: as pegadas que pretendemos deixar aqui podem servir de motivação para irmos sempre um pouco mais para a frente e para cima neste nosso percurso filosófico.

Este é o nosso blogue, o blogue da nossa conversa filosófica, o lugar onde vimos à fala, filosofando, ou filosofalando, com os que quiserem cruzar-se connosco nestas esquinas digitais.
Para o professor, é também uma experiência pedagógica, primária, é certo, no sentido de primeira para si, quanto ao uso da Internet como recurso educativo. Uma aventura colectiva.

Como nos Lusíadas, «Já no largo Oceano navegavam» os inquietos alunos filosofando, quando esta rota foi aberta. Teremos, por isso, de fazer algumas incursões ao passado próximo.

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