segunda-feira, novembro 5

 
O peixe
Na segunda metade da aula, depois de uma pausa para respiração, já trabalhámos. Leitura e análise de um texto que eu baptizei de “O Peixe”. É uma história oriental
Um jovem pediu para ser aluno de um professor célebre. Este deu-lhe um peixe para ele observar. Ele olhou e viu o que toda a gente vê num peixe. E ficou certo de saber já tudo o que havia a saber acerca do peixe.
- O que é que ele viu? Nada É sempre assim. Os ignorantes sabem sempre tudo. Só os de fora é que vêem o ridículo da ignorância.
Mas o professor não vinha e o aluno teve que continuar a olhar para o estúpido peixe.
- É sempre assim, os ignorantes promovem sempre os outros a estúpidos.
O aluno já estava farto, mas o estúpido do professor não aparecia.
- Mais um promovido à categoria de estúpido.
Então, para passar o tempo, começou a desenhar o peixe, e, aí sim, começou a descobrir coisas interessantes. E aprendeu o que o seu professor tantas vezes lhe ensinara: que o lápis é o melhor dos olhos.
- Afinal, o professor não ensinara, apenas pensava que ensinara, pois só agora o aluno descobriu por si. O verbo aprender só se conjuga na voz activa, e na primeira pessoa do singular, “eu aprendo”, e do plural, “nós aprendemos”.
O professor veio, mas não ficou satisfeito e disse-lhe que continuasse a observar. Então, o aluno atirou-se ao trabalho com vontade.
- Este é um momento muito perigoso: o aluno pode desistir ou insistir. Ele insistiu e ganhou. Outros desistem...

N.B. – Os travessões indicam aquilo que fomos concluindo em diálogo dirigido sobre o texto. Foi bonito. Tive a certeza de que eles gostaram.

O direito à asneira
Faço sempre questão de proclamar na primeira aula algumas das regras que vão reger-nos. E a primeira de todas, a mais básica, digo-a assim mesmo direito à asneira que não quer dizer palavrão ordinário, é claro. Trata-se do reconhecimento puro e simples de que estão aqui para aprender e isso significa que não sabem. Portanto, é natural que não saibam e não devemos fingir que se sabe o que não se sabe. Mas isso implica dois corolários: 1 – que cada um se reconheça a si o direito de errar, e diz-me a experiência que não é tão fácil como devia ser; 2 – que cada um reconheça ao outro o direito de errar sem por isso ser penalizado, e também isso não é tão fácil como devia ser. Disse, depois, que este é um lugar de trabalho, portanto diferente do tempo e espaço de recreio; que estão aqui porque quiseram e é, só pode ser, para o que aqui se faz; que não estou ali para os ensinar, porque ninguém ensina nada a ninguém, mas também ninguém aprende sozinho, portanto o meu papel é ajudá-los a aprenderem; que “quando um burro fala, os outros baixam as orelhas”; que isto vai parecer difícil mas é próprio para jovens da idade deles e basta olhar para frente para vermos que os outros também por cá passaram... E terminei dizendo que estão aqui para sofrerem uma transformação de que agora nem suspeitam. Não para serem transformados por mim naquilo que eu possa querer deles, mas para serem transformados por aquilo que formos fazendo uns com os outros, em que cada um é o principal responsável pela transformação que vier a fazer. Acrescentei que é essa transformação que vai medir a qualidade do trabalho. Trabalho = (A -» Z) sendo A o seu estado inicial, Z o seu estado final. Daí que, se não houver mudança é sinal de que não fizemos nada.
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