segunda-feira, janeiro 28

 
Mundo de valores
“Um valor é uma maneira de ser ou de agir, que uma pessoa ou uma colectividade reconhecem como ideal e que faz com que os seres ou as condutas aos quais é atribuído (reconhecido) sejam desejáveis ou estimáveis para essa pessoa ou colectividade”
O mundo humano é orientado por valores, “é um mundo de valores”, uma vez que no dia-a-dia estamos constantemente a valorar as coisas, as pessoas, as ideias e principalmente os actos.
Mas o que é que nos permite classificar um acto, por exemplo como bom ou como mau?
À medida que crescemos, nós vamos construindo uma tábua de valores, uma espécie de escala hierárquica desses valores que orienta a nossa conduta e a nossa vida.
No topo dessa escala estão os valores que consideramos mais importantes, aqueles que estão sempre presentes nos nossos actos.
Esta escala pode sofrer alterações consoante o rumo da nossa vida: por exemplo, uma pessoa que hoje seja contra a eutanásia, pode no futuro, caso tenha sofrido um grave acidente que o tenha deixado impossibilitado de se mexer, aceitar este tipo de morte.
Apesar de tudo, esta escala de valores individuais tem de ser sempre conciliada com uma outra escala hierarquizada de valores, a da sociedade em que nos inserimos, porque caso isso não aconteça, sofremos as penalizações dessa sociedade. Se alguém roubar, não está a seguir os valores da sociedade, está a seguir os seus valores, diferentes dos da sociedade, deste modo será preso.
Então onde é que existem os valores?
Os valores não existem por si só, eles precisam de um suporte: uma pessoa, uma ideia ou uma acção, onde possam existir. Nós podemos dizer que uma acção é justa, mas ela será assim compreendida por toda a gente? Não, nós é que atribuímos a justiça à acção.
Deste modo é necessário, além de um suporte (por exemplo uma pessoa ideia ou acção) onde os valores possam existir, um agente que atribua esses valores ao suporte.
Então o agente (indivíduo ou sociedade), neste caso, está a expressar-se através de juízos de valor que são subjectivos e expressam as opiniões e as opções do agente. Por exemplo, “o céu é bonito”, esta é a opinião do agente, que atribui ao céu um valor positivo: a beleza.
Além de juízos de valor, o agente expressa-se também através de juízos de facto que são objectivos e expressam a realidade, por exemplo, “o céu é azul”.
Raquel Lalanda, 10C
 
Juízos de facto e juízos de valor
Em ambas as turmas tinha mandado ler a página com este título e fazer um pequeno exercício de classificação de alguns juízos.
Começámos a ler e depressa pedi uma noção de juízo de facto e outra de juízo de valor. Quando se chegou a formulações aceitáveis, insisti na sua repetição, sobretudo pelos alunos com maiores dificuldades.
Depois, pedi a cada um que escrevesse um exemplo de cada tipo de juízo e que o conferisse com o parceiro do lado. Continuámos a ler e fomos ver como deviam se classificados aqueles que tinham levado para casa.
Por mais que eu ache estranho, é para eles uma matéria difícil. Por isso temos de insistir na clareza dos conceitos e em exemplos muito simples.
A segunda parte, quase no final do primeiro mês do período e antes do cheiro a Carnaval foi em dois tempos.
- Peguem num lápis e escrevam. Que nota teriam se eu hoje tivesse que classificar-vos? (Pausa para escrita.) E, ao lado, escrevam. Que nota afirmaram no início do período que queriam ter no próximo final? (Pausa para escrita.) O resultado diz duas coisas: o lugar em que se encontram agora e o lugar para onde vão, para mais perto ou mais distante do que querem que seja o final.
Depois foi uma conversa sobre o tema. Não basta formular propósitos, o importante é o que estamos a fazer, a direcção em que vamos. Agora. Não é na véspera do último dia que se salva o que agora se vai perdendo. Como dizia António Machado, «Caminhante, não há caminho, o caminho faz-se caminhando.»
E a verdade é que alguns alunos não estão a investir o mínimo para recuperarem. Disse-o. Não sei com que efeito.
 
Trabalhando os valores
Tínhamos já trabalhado os valores em várias dimensões. Para este dia tratava-se só de afinar conceitos utilizando as páginas do livro. Por exemplo: lê-se o título “A polaridade dos valores”.
- Polaridade vem de?
- Polo, respondem de imediato.
- Quantos polos tem a Terra?
- Dois.
- Quais?
- Polo Norte e Polo Sul.
- E os valores? Quantos polos tem um valor?
- Dois?
- Quais?
- Positivo e negativo, diz alguém.
Resta dar exemplos: bom e mau, bonito e feio, barato e caro... E ler o que diz o livro, acabando por ser claro: «Os valores, devido à sua polaridade, despertam em nós sentimentos de atracção ou de rejeição.»
O mesmo para a tábua de valores, que já identificam com hierarquia. Com a polaridade e a tábua de valores, faz sentido a frase: «Os valores são o que permite dar sentido às nossas vidas.»
- Que significa a palavra “sentido”?
- Orientação, diz alguém.
- E de que verbo faz parte?
- Sentir.
- Então, temos dois significados do valor. Nós sentimo-nos bem ou mal face a um objecto ou situação e o valor dá orientação à nossa escolha, diz que é preferível o polo positivo ao negativo.
Mais complicado é o passo seguinte.
- Mas onde está ou donde vem o valor? Vem do sujeito ou está nas coisas ou nas acções?
Aqui há um trabalho a fazer. Questionar a resposta que sai, por exemplo “no sujeito que escolhe”, de forma a fazer ressaltar que talvez o sujeito escolha porque o objecto é em si preferível: um remédio é preferível a um veneno, porque o remédio cura e o veneno mata. Mas, depois, é necessário fazer o percurso inverso: ressaltar a importância do sujeito na determinação do valor do objecto. Então, as coisas estão já confusas demais e é tempo de organizar a escrita.
- Na filosofia encontramos as duas posições. E até outras mais. Por exemplo: os valores, em vez de estarem no sujeito ou no objecto, não podem resultar da relação entre ambos?
E é tempo de ir trabalhar, com o livro, os conceitos que codificam o resultado: objectivismo, subjectivismo, idealismo (platónico) e relativismo.
Na segunda turma, contudo, não foi possível chegar tão longe, porque eles não foram capazes de fazer este percurso, disperso, desatentos, incapazes de fazerem as ligações indispensáveis. Disse-lhes que teriam que estudar em casa. Não podemos deixar que a falta de andamento em aula nos paralise. Têm que escolher.
 
E agora?
Na sexta, a aula tinha terminado com a água a arrufar. Saí dizendo que era necessário inverter o andar da carruagem. Pensei em vários estratégias. Adoptei uma.
A caminho da aula, dei uma palavra aos principais “artistas” da cena anterior, do género «Hoje vais estar à altura, não é verdade?» Que sim. E, no início da aula, afirmei qualquer coisa como «Os amigos ali do fundo vão mostrar que têm nível.» E começámos a aula. E eles confirmaram as previsões.
No final, dei-lhes publicamente os parabéns, por terem mostrado que eram capazes de ter nível.Só que o caldo entornou-se na outra turma. Fim da manhã, cansados, já com fome... Quem é que lhes diz que a reflexão filosófica é suficientemente interessante para se sobrepor a tantas perturbações. Tive que insistir que aquele é um caminho errado, que temos de mudar de rumo. Vamos ver o que se consegue. A verdade é que por esse estar na aula sem estar, sem atenção e concentração eficazes leva a que se leve muito tempo e estou certo que mesmo esse tempo gasto (sim, gasto) não cria raízes, porque não toca nada de interior e vital. Não é reflexão, é apenas conversa.
 
A frase
A aula propriamente dita começou com uma frase que escrevi no quadro.
«Nenhuma estrada é demasiado longa para o homem que avança deliberadamente e sem pressa desmedida.»
 
As normas
Chama a atenção o Micael, em comentário, para a minha afirmação «as normas fazem sentido», contrapondo:
«Na minha opinião, nem todas as normas fazem sentido! Porque muitas vezes as ditas "normas" fazem com que levemos uma vida infeliz o que nos leva muitas vezes um Ser Humano ao desespero.»
Tem razão, porque aquela frase pode ser lida de modo menos rigoroso, como “todas as normas fazem sentido”. E, de facto, há normas que perderam o sentido, que produzem efeitos perversos. Tem, nisso, alguma razão.
Contudo, a minha afirmação continua a ter a sua razão de ser, por duas razões.
«As normas fazem sentido» significa que sem normas não é possível viver e quer explicitamente contraditar aqueles que se afirmam por princípio contra as normas.
Ainda andam por aí restos de uma contestação geral e absoluta contra as normas. Impor é errado, liberdade absoluta, abaixo todos os constrangimentos, viva a liberdade total, liberdade é eu fazer o que quero sem quaisquer limitações... e assim por diante. Ainda hoje se encontram muitas situações em que quem tem responsabilidades directivas afirma candidamente que aqui ninguém manda. Eu costumo responder, então demita-se.
Não, a norma é condição de sucesso. Quem quiser aprender piano ou praticar atletismo sem sujeitar-se a uma disciplina séria nunca conseguirá obter resultados.
A minha afirmação é, portanto, a negação – «pensar é dizer não», Alain – desta filosofia que ainda não foi superada.
Tem, pois, razão o Micael quando diz que «nem todas as normas fazem sentido!» Aliás, eu próprio tinha dito acima que «ainda estaríamos na pré-história se todas as normas se mantivesses e teríamos de manter todas as normas injustas, por exemplo a violência doméstica que pelo menos nalguns sítios era normal». Qualquer mudança de norma não é boa nem má, pelo que é necessário «saber se o resultado fica melhor ou pior do que estava antes.» Estamos, nisso, de acordo.
Não me parece, contudo, que o Micael tenha tanto razão quando diz que «muitas vezes as ditas "normas" fazem com que levemos uma vida infeliz». Não creio que a felicidade esteja dependente das normas. Estas não têm poder para fazer ninguém feliz ou infeliz. A infelicidade e a infelicidade são estados de espírito e dependem não tanto da realidade como do modo pessoal de estar na realidade. A propósito, cito uma frase de que gosto muito: «Estava triste porque não tinha sapatos, até que encontrei alguém que não tinha pés.»

domingo, janeiro 20

 
SE
SE “antigamente” nos alunos eram tão bons e o ensino tão excelente...
Donde vêm os níveis de iliteracia que os estudos nos apresentam entre os adultos?
Donde vêm as figuras que os adultos fazem nos concursos na televisão?
Donde vem a tão baixa qualidade de tudo em Portugal?
Donde vem a nossa incapacidade de sair da morte lenta em que se encontra a maioria das organizações entre nós?
Donde vem a incompetência científica e pedagógica que se apregoa entre os professores de hoje?
SE hoje os alunos e o ensino são assim tão maus...
Donde vêm os êxitos que entre os jovens vão sendo anunciados?
Donde vem a competência tecnológica que se encontra em tantos processos liderados pelas novas gerações?
É bem verdade: não vemos o que temos à frente dos olhos, mas os olhos com que vemos. E, no geral, são olhos zangados, derrotados, frustrados, incapazes de ir além da lamúria. Incapazes até de caminharem para um lugar novo. É claro, dali «não se esperam melhoras».
Podemos fazer alguma coisa para libertar as novas deste vírus que as mais velhas estão a espalhar?
Se retiramos aos jovens a energia e a esperança, que lhes resta?
 
A cantiga do costume
Leio, na Notícias Magazine de hoje (20 Jan.), uma carta de um leitor.
«O ensino não vai bem e dele não se esperam melhoras.»
«Os alunos (...) são rudes.»
E por aí fora.
Este tipo de discurso vem sendo multiplicado até à exaustão.
E todos sabemos que «a cantiga é uma arma» e eu não tenho dúvida de que esta dispara certeira.
Começa logo pela conclusão: «O ensino não vai bem» e tira a consequência «dele não se esperam melhoras.»
É claro que este tipo de textos vai enunciando algumas verdades, mas muito bem misturadas com uma boa dose de mentiras.
Por exemplo: «Os alunos são rudes.»
São? Eu não tenho nada essa experiência. Digo: experiência. Na minha escola andam umas obras eternas que nos têm mantido reduzidos de duas a uma escada de acesso aos pisos superiores. Devo dar público testemunho de que os alunos souberam viver este constrangimento de um modo exemplar.
Não nego que tenha havido uma ou outra confusão. Mas nada de significativo.
De qualquer modo, creio, e agora já não é experiência, que teria sido muito maior a confusão se os circulantes fossem adultos, daqueles do tempo em que todos eram bem educados.
Recordo uma escola em que estive, no tempo em que os pais dos alunos de hoje andavam na escola, naquele tempo em que todos os alunos se portavam muito bem... No bar não havia qualquer mobiliário porque no ano anterior os alunos tinham partido tudo. Dois anos depois, no tempo em que os alunos e portavam todos bem, na mesma escola os alunos de uma turma ameaçaram uma professora com uma navalha. Alguém soube?
Não, não foi em Abrantes.
 
Filosofia experimental
O conceito de laboratório de filosofia pode incomodar alguns. Mas há muito que alinho por aí. O Professor Martinó Coutinho, de Portalegre, já na primeira metade dos anos 80 nos reconhecia como filósofos experimentais. Continuo nessa.
Filosofia experimental em dois sentidos.
Ensinar filosofia é provocar “experiências intelectuais” que obriguem os alunos a pensar e os levem a territórios de reflexão a que não chegariam espontaneamente.
Além disso, considero a filosofia é uma “ciência experimental” num outro sentido, que não posso explicar aqui, mesmo sabendo que a filosofia não é uma ciência e que não é experimental como o são as chamadas ciências experimentais. Mas isso já não vem a propósito.
 
O caldo entornado
Na última aula da manhã, foi necessário entornar o caldo. Alguns alunos deram-se a si mesmos o direito de perturbar os colegas. Ficou claro que era necessário tomar medidas. Não podemos abdicar de manter na sala um ambiente de trabalho de laboratório – laboratório de filosofia.
 
O pêndulo, o campo
Na segunda parte da semana, apareci na aula com um pêndulo. Era um brinquedo pouco qualificado, mas pedi-lhes que o imaginassem perfeito.
Balancei o pêndulo e lembrei a qualidade natural do movimento, simétrico e previsível, eterno se não fosse a lei da gravidade. Sim, previsível, porque o pêndulo não pode fugir da lei natural que rege o seu movimento.
- O pêndulo é livre?
- É claro que não, o pêndulo apenas obedece às leis da natureza.
Coloquei de modo adequado um conjunto de magnetes e relancei o pêndulo. Iniciou o mesmo tipo de movimento, mais ou menos regular, mas depressa “endoidou” e lançou-se em movimentos imprevisíveis em todas as direcções. Até que estabilizou junto a um dos magnetes. E repeti o lançamento, que animava os presentes.
- Agora, o movimento foi claramente imprevisível. Mas o pêndulo é livre? O mesmo pêndulo, agora imprevisível, continua submetido às leis da natureza.
Conversámos sobre o assunto.
Depois, passámos ao tema seguinte, que para mim era o mais importante.
- Quando dizemos que o homem pode decidir entre pelo menos dois caminhos, temos em consideração o homem e os dois caminhos. Mas isso nunca se passa. Essa é uma forma abstracta de colocar a questão para chamar a atenção para um aspecto do problema. Mas, quando fazemos isso, esquecemos outro aspecto muito importante: quando o homem tem que decidir, está sempre numa dada situação. E essa situação é sempre um campo atravessado por múltiplas forças – forças físicas, biológicas, psicológicas e sociais, e entre estas forças económicas e culturais, estéticas e religiosas, históricas e... a lista é enorme.
Entretanto, ia desenhando no quando um campo de forças à volta de um caminho que se bifurcava.
E passámos ao terceiro aspecto.
- Mas como é alguém pode decidir no meio desta confusão? Como é que eu sei se hei-de decidir por A ou por B? Como é que nós sabemos por onde havemos de ir?
E conversámos sobre isso. Foi o tempo de voltar a interrogar respostas do género “o que for melhor”: mas como é que eu sei o que é melhor? terei de experimentar primeiro?
Até que chegámos a um ponto em que eu disse:- No meio de toda esta confusão há um conjunto de sinais de trânsito que me orientam e nos orientam na decisão.
E semeei a confusão de linhas de pequenas letras v. Eles olhavam. E eu acrescentei.
- São os valores. O que são valores?
Eles tinham já uma folha que lhes dera numa aula anterior. Foram ver e desmontámos a definição. Depois, fomos ao manual ler uma página onde o conceito de valor também era tratado.
 
A (des)propósito
A referência que o Primeira Linha faz a esta sessão é um exemplo concreto do que se pode chamar de jornalismo delirante, que avança sem medir consequências. E o pessoal gosta. Gosta?
 
Santos da casa
Nelson Baltazar disse estar muito satisfeito por ter sido convidado para estar ali, naquela escola. Entre outras razões, porque tem ido como convidado a escolas por todo o distrito (e enumerou uma dúzia delas a título de exemplo) e era a primeira vez que tinha sido convidado por uma escola da sua terra.
Mas não é de admirar. É um hábito da terra. Santos de fora...
 
A Europa
Dentro do projecto do Parlamento Europeu de Jovens, de que a nossa escola participa, tivemos uma sessão com o deputado Nelson Baltazar sobre a Europa e os seus/nossos desafios.
Estava uma sala cheia. De alunos que foram... levados pelos professores.
Não vou contar a sessão. Vou apenas referir três aspectos que me impressionaram.
1. Impressionou-me o desinteresse total de uma parte significativa dos alunos por aquilo que ali se estava a passar. Dizem que vivemos na sociedade do conhecimento. Sabemos que o conhecimento será o activo mais importante de que os futuros profissionais e actuais alunos vão dispor. E não há ninguém que lhes diga que estão a deixar passar por entre as mãos pepitas de ouro? Só saberão quando for demasiado tarde?
2. Impressionou-me a facilidade com que alguns alunos se sentem no direito de impedir outras pessoas de ouvirem o que se lhes destina. Alguns ainda argumentam com “boas“ razões, mas são sempre razões que pretendem justificar que o meu interesse permite matar a satisfação do interesse de outro.
3. Impressionou-me o modo como foi discutida a hipótese de entrada da Turquia na União Europeia. Desde quando é que é intelectualmente legítimo, metodologicamente correcto, estrategicamente permitido que se tome uma decisão, ainda que apenas em opinião, tendo em conta apenas os aspectos negativos? Nelson Baltazar insistia que era necessário pensar nos dois lados, prós e contras, mas a força do irracional é bem mais poderosa.
Mas, para lá destes aspectos negativos, creio que o saldo da sessão foi positivo.
 
Vamos chorar?
Segunda-feira, primeira aula da manhã.
- Quero convidar-vos a chorar comigo. Já viram como é triste a nossa vida?! Tivemos de acordar cedo para virmos para as aulas (e um coro de olhares palpitou na sala) aturar um chato de um professor (alguns pontos de interrogação ergueram-se entre as carteiras). Lá fora o dia não está apetitoso. E, além disso, vivemos no país uma situação de crise que não é nada agradável. E nas famílias de alguns de nós as coisas andam um pouco a dar para o torto – acontece em todas as famílias, mais cedo ou mais tarde. Vamos chorar a nossa triste sorte?
Era já nítido, pelas caras, que percebiam que...
- Quero começar por ler-vos um trecho de um livro que vai ser publicado em Portugal.
E comecei a ler. É uma narrativa de choque, de uma mulher que sai com o seu filho de uma cidade em guerra e acaba por ver-se numa armadilha de desespero, em que o próprio filho lhe morre nos braços e ela própria nunca mais foi a mesma.
O silêncio na sala era pesado. Via-se que a narrativa estava a lavrar fundo.
- Será que temos verdadeiras razões para a lamúria com que nos enfeitamos? Não será uma falta de vergonha nossa e um insulto a todas as pessoas que sofrem situações destas o modo como nos queixamos das nossas razõezinhas? Isto não quer dizer, é evidente, que nos contentemos com aquilo que temos e desistamos do que queremos. É importante lutar por aquilo que queremos, mas é obsceno o modo como nos lamentamos daquilo que temos.
Fizemos uma pausa.
Era tempo de continuar.
Este é um daqueles dias que desorganizam a escrita a um professor. Ao último tempo, irei com a outra turma do 10º ano a um colóquio, o que dá a esta uma aula de vantagem. Temos, pois, de trabalhar, mas não podemos deixar os outros para trás.
Trabalhámos no reforço e alargamento do que já estudámos.

sexta-feira, janeiro 11

 
O segredo
Esta segunda aula foi na quinta numa turma e na sexta na outra.
Na primeira turma, 10ºD, o entusiasmo era grande. Pedi-lhes que não contassem a ninguém antes da aula do dia seguinte:
- Acredita nisso?, perguntou um aluno incrédulo.
- Os vossos colegas têm direito à mesma surpresa que vocês tiveram. Acredito que são homens e mulheres capazes de guardar um segredo.
Estou em crer que foram capazes. Não havia qualquer sinal de que soubessem e surpresa foi geral. E até foi giro um ou outro aluno da primeira turma vir assistir à entrada para a aula da segunda... num olhar cúmplice comigo, tipo “nós é que sabemos o que vai acontecer”.
Gostei.
 
As condicionantes
Esta foi a semana das condicionantes da acção humana.
Começámos por um convite a
viver uma vida feliz, saudável e bela
hoje
porque essa é a melhor forma de viver
e hoje é o dia que temos para viver.

E lançámo-nos, pelo livro, à descoberta das condicionantes físicas e biológicas.
Por vezes é-me difícil perceber a dificuldade que os (alguns) alunos têm em entender o que significam os termos “físico” e “biológico”. Tendo a pressupor que fazem parte do vocabulário adquirido. Mas não é verdade.
E mais difícil ainda se torna ajudar a descobrir que o homem é condicionado a esses dois níveis, ou seja, que se o homem é livre é-o dentro dos limites e condicionantes físicos e biológicos.
Mais difícl foi perceber a diferença entre “ter um corpo” e “ser um corpo”. Foi ocasião para fazermos a distinção entre afirmar e negar – toda a afirmação é uma negação – e para fazer voltar à sala Platão e a sua distinção entre corpo e alma e a identificação do homem com a alma. Quanto às consequências da afirmação “eu sou um corpo”, pia mais fino. Mas não é mau dar a pensar que muitos aluno spensam que podem andar até às tantas e não dormir que isso não os afectará: acreditam que o “eu” se mantém em forma apesar de o corpo estar num desastre.
Depois, porque é necessário fazer ligações entre conteúdos e fazer passar da assimilação à expressão, foi tempo de trabalhar para um comentário à historieta sobre um indivíduo que me pisou no metropolitano. «Só se aprende a escrever escrevendo, ou antes, procurando escrever melhor do que até aqui. Vamos a isso.»

A segunda aula da semana começou por uma pergunta a uma aluna:
- Porque é que vens assim vestida?
A resposta é sempre da ordem do «porque gostei desta roupa».
Através de um diálogo dirigido através de perguntas estratégicas, foi possível ajudar os alunos a perceber que, quando eu escolho, estou a respeitar forças que são sociais mas que já actuam em mim, porque as interiorizei.
Depois de quase tudo ter sido dito em conversa corrida, foi hora de sistematizar e codificar os conteúdos em conceitos e suas definições: padrão de cultura e cultura, socialização, desvio e sanções posituiva e negativa, papel...
Ficou assim claro que o homem está sujeito a condicionantes sociais ou culturais.
Toda e qualquer acção humana ocorre sempre num espaço atravessado por forças físicas, biológicas (ecossistema) e culturais. E um acto de liberdade só pode ocorrer dentro desse espaço e sujeito a essas condicionantes.
- Mas as condiconantes não impedem a liberdade? não nos tornam escravos das normas?
Aas condicionantes tanto possibilitam como limitam. É porque tenho um corpo físico que posso abrir a porta, se quiser; é é porque há normas sociais que eu posso ir à cidade beber um café depois de almoço, se quiser.
Mas por isso mesmo, porque interiorizámos os padrões culturais, é que cada um de nós 1) só pode olhar o mundo a partir de um ponto de vista e 2) acha o seu ponto de vista normal, necessário, “assim é que é e que deve ser”.
Por exemplo, olhamos e pensamos uma sala de aula como estamos habituados a vê-la, a senti-la e a agir nela. Mas porque é que uma sala de aula tem de ser assim?
- Quero fazer-vos um convite. Vamos ver a sala de aula de outro ponto de vista. Ponham-se em pé em cima das mesas.
Houve natural hesitação. Mas foi com entusiasmo e satisfação que a sala fiocu com outra paisagem humana. Embora numa das turmas dois alunos se tenham recusado afazê-lo.
- Quero dizer-vos duas coisas. 1) Que, ao contrário das condicionantes físicas e biológicas, é relativamente fácil, embora nem sempre muito fácil a uma pessoa concreta, violar uma norma social. 2) Que, mais importante que o sabor ou a dificuldade de violar uma norma, é saber se o resultado fica melhor ou pior do que estava antes. Na verdade, ainda estaríamos na pré-história se todas as normas se mantivesses e teríamos de manter todas as normas injustas, por exemplo a violência doméstica que pelo menos nalguns sítios era normal.
Não vai ser fácil esquecerem a experiência. Tenho é algum receio de que a carga emotiva tenha prejudicado a análise de conteúdo. Teremos que voltar à análise, para aproveitarmos a força com que terá ficado.
- Não se esqueçam de limpar as mesas. Por razões de hogiene e por respeito pelos que vierem a seguir.
Era uma forma de mostrar que as normas fazem sentido.
 
Um comentário
São, mais que três textos, três vozes diferentes.
Cada um dos textos revela, em parte, aquilo que a autora produziu em situação de aula e na sequência de um percurso colectivo e pessoal
O professor está satisfeito por estas pessoas serem capazes de constituir um problema filosófico que é um importante problema social e político, no sentido claro de vida na polis. Não está tão satisfeito por alguns dos aspectos trabalhados terem ficado ausentes, por exemplo os limites da tolerância e a necessidade de não tolerar certas coisas e porquê. Além disso, algumas destas formulações são bastante discutíveis ao próprio nível em que as alunas se encontram. Mas o professor está satisfeito porque há aqui pensamento, reflexão, problematização, compreensão de e posicionamento face a algumas importantes linhas de reflexão da nossa sociedade. É claro que estes textos poderiam ser mais ricos, se o professor tivesse obrigado a escrita a um esquema prévio em que nada pudesse ser esquecido; mas esses textos mais ricos seriam mais pobres, porque não iriam traduzir um pensamento assumido do interior.
Anda por aqui o nosso trabalho em filosofia. Durante dois anos.
Por isso eu dizia aos meus alunos:
- Não me cabe dizer o que hão-de dizer no texto; talvez apenas o que não podem dizer, ou colocar problemas ao que dizem para ver se o texto resiste.
Há ainda uma razão pela qual o professor ficou satisfeito. Se a memória não lhe falha, ele não era, com esta idade, capaz de ir tão longe na reflexão filosófica.
 
Filosofia, Liberdade e Cidadania
Diz-se, no nosso mundo, que cada indivíduo é um cidadão. No entanto, existem indivíduos que não têm noção do que é a cidadania, muitos que são maus cidadãos e outros tantos que são cidadãos exemplares.
A cidadania é a capacidade de conviver com os outros, numa relação de respeito mútuo pelos direitos de cada um, numa relação de diálogo, de argumentação, de pontos de vista e convicções diferentes, numa relação de igual para igual mas ao mesmo tempo diferentes.
Num mundo de conflitos, o desafio do exercício da cidadania de uma forma positiva é ultrapassar os conflitos, não ignorando-os mas resolvendo-os, sem pôr em causa os princípios da cidadania. Numa situação destas, somos inevitavelmente levados a fazer escolhas, a tomar posições, usufruindo e usando a nossa liberdade, a liberdade a que temos direito, mais que não seja por sermos cidadãos.
A filosofia está implicada no momento da escolha: a escolha entre tomar uma ou outra posição, a escolha entre seguir este ou aquele caminho, a escolha entre o que é bom para mim como pessoa e o que é bom para mim como cidadão. Como actividade de reflexão que é, ajuda-nos a pensar duas ou mais vezes no que devemos fazer, porque é necessário ponderar bem determinadas situações, uma vez que nem sempre aquilo que devo fazer como cidadão é aquilo que quero como pessoa.
Sofia Mendes, 11ºC
 
Filosofia, Liberdade e Cidadania
A Filosofia é, de uma forma directa e sintética, uma actividade que nos faz pensar, questionar, reflectir.
A liberdade “alia-se” à Filosofia, na medida em que, quando queremos deliberar/optar por um caminho ou por outro, essa escolha tem de ser pensada e reflectida. Essa escolha não vai ter consequências só na nossa vida presente, mas também na nossa vida futura; essas escolhas podem alterar as nossas convicções no futuro e consequentemente a forma como vamos exercer a cidadania.
Exercer a cidadania é saber gerir a diversidade de convicções existente, tolerar as convicções do outro e dialogar. Penso que um dos exercícios da cidadania é tentar mudar as convicções do outro, se, porventura, essas mesmas convicções não respeitam os outros ou estão descontextualizadas do espaço e tempo da sociedade onde determinada pessoa se insere. Para isso é preciso dialogar com o outro e mostrar-lhe argumentos válidos (exercer a filosofia) para que o outro mude de livre vontade (de forma livre) as suas convicções. Em suma, é necessário praticar uma retórica salvadora.
Rita Alves Filipe, 11ºC
 
Filosofia, Liberdade e Cidadania
Nós vivemos em sociedade. Como tal, estamos dependentes das acções dos outros.
Até aqui, já aprendemos o significado das três vertentes propostas a esta reflexão. Filosofia, sabemos que significa amigo da sabedoria; querer saber mais e mais ao fundo das questões. Liberdade é a capacidade que o ser humano tem de escolher entre fazer assim e de outro modo. Por fim ,sabemos que a cidadania é a assunção do local onde se vive, à escala local, nacional e mesmo global, com as implicações decorrentes desta assunção a nível de identidade, valores e compromissos. Cidadania é também a participação de todos num esforço comum, com respeito pelos outros e tolerância das diferenças, de modo a resolvermos os problemas que se nos colocam sem recurso à violência.
Estas três vertentes ligam-se na medida em que todos o cidadão tem direito a pensar por si próprio, ir ao fundo das questões e, assim, é livre de pensar assim ou de outro modo.
É claro que em todas as sociedades existem opiniões diferentes. Temos, então, de ser tolerantes. O homem tolerante é aquele que, em nome da razão e da moral, aceita que o outro tenha convicções diferentes das dele e as manifeste.
Quando surgem conflitos devidos as diferentes convicções, temos de reflectir bem sobre as nossas convicções para conseguirmos argumentá-las. Quando não entramos em acordo com o outro, temos a liberdade de ouvir ou não os pontos de vista dele. O bom e tolerante cidadão é aquele que, mesmo partilhando uma opinião diferente, tenta entender o outro. Ouve-o, não com indiferença, mas com vontade de o entender.
Filipa Trindade, 11ºC
 
De fora, mas não muito
Alguns dos meus alunos do 11º ano já me puxaram as orelhas. Que foi com eles que me apercebi do acesso de todos à Internet e que agora só faço este blogue com os do 10º ano. Terão razão, pois por que não haveriam de ter. Mas eu não tenho solução.
Mas há sempre soluções intermédias.
Trago aqui três textos, elaborados em situação de aula por três alunos do 11º ano, na sequência da reflexão que fizemos sobre filosofia, espaço público, liberdade, cidadania e democracia. O tema dado para o exercício foi “Filosofia, Liberdade e Cidadania”.
Mas trago aqui estes textos dedicando-os aos alunos do 10º ano. Eles são, de algum modo, antecipação do que faremos talvez no próximo ano e são um “encontro” com outros aprendizes de filósofo que vão mais adiantados.
E chega.A palavra aos alunos. Repito, escrita em situação de aula e sem recurso ao livro. Tipo teste, num tempo de cerca de meia hora. É como tal que devem ser apreciados.

terça-feira, janeiro 8

 
Liberdade
Serei eu livre de estar a escrever este texto sobre a liberdade?
Há um mês atrás, a minha resposta a esta pergunta teria sido sim, eu sou livre de fazer “o que bem me der na cabeça”. Apesar desta resposta me ter parecido bastante correcta inicialmente, agora constato que talvez não o seja: se, por exemplo, eu quiser voar não consigo, não tenho liberdade para isso. Desta forma posso afirmar que estou condicionada, pelo facto de não ter nascido com asas.
Quer eu queira ou não, não posso afirmar que tenho liberdade absoluta uma vez que estarei sempre condicionada quer por factores de natureza físico-biológica, pelo facto de eu não ter nascido com asas não posso voar, quer por factores sócio-culturais, mesmo que eu tivesse asas e começasse a voar, todos me iriam achar uma “aberração”, o que provavelmente me impediria de voar.
Desta forma posso concluir que a liberdade é relativa, é condicionada por certos factores. Perante a hipótese de escrever ou não este texto, eu escolhi escrevê-lo. Mas terei agido independentemente, terei sido condicionada, ou simplesmente não tive hipótese porque esta acção já estava pré-determinada pelas forças existentes à minha volta e por dentro de mim?
Raquel Lalanda, 10C

Comentário do professor: Por exemplo… Se não andasses a estudar filosofia e se não estivesses a estudar agora a liberdade e se não houvesse o desafio de tirares uma boa nota…terias, agora, escrito este texto?

domingo, janeiro 6

 
Em filosofia
E quanto ao nosso trabalho aqui?
No final do período passado, vimos três tipos de alunos - os que estão satisfeitos, os que têm positiva mas estão insatisfeitos e os que têm negativa.
No final do 2º período já só quero um terço das negativas para, no final do ano, não termos nenhuma. Este é o NOSSO desafio.
E vimos que havia três grandes tipos de problemas: falta de estudo, limitações na escrita e limitações no exercício de um pensamento desenvolvido sobre este tipo de problemas.
Além disso, vimos também que há outros aspectos importantes: o ambiente de trabalho na sala (é colectivo), a atenção / concentração nos trabalhos (é individual), o perguntar o que não se entende, o pensar naquilo que se vai tratando em aula e no seu significado na vida...

Cada um é que sabe:
o que é que quer,
quais são os seus problemas ou limitações
e o que quer fazer para chegar àquilo que quer.

E agora vão escrever isso mesmo - que é para saberem
e entregarem - para eu ver se posso ajudar-vos.
(Só escrevem o que puderem entregar e porque se trata de matéria pessoal podem até recusar-se a escrever. O respeito pela privacidade é indiscutível.)

E assim fizeram. Todos.

Depois lancei os desafios para este período.
 
De Novo
Bem-vindos a 2008, aquele que é o mais importante ano da nossa vida.
(Fiz uma pausa e continuei.) Porque os outros, ou foram, e já não são, ou serão. Este é o ano que temos agora para viver.
E já sabem o lema que escolhi para este ano, ou para a vida?
Saborear o que temos e lutar pelo que queremos.
O saborear dá vida ao presente e o lutar aponta a vida para o futuro.
Perguntei se alguém tinha alguma coisa a dizer. Responderam que Bom Ano. Nada mais e eu continuei. Li-lhes o texto com que começámos o ano e parei no momento em que fica clara a mensagem que queria deixar-lhes:
- Agora, duas coisas podem acontecer. Ou desistir, ou insistir, persistir. Cada um é que escolhe o que quer para si. Mas eu quero fazer-vos um convite.

Há duas grandes formas de viver.
Uma vida rasteira, crocodilácea, rastejante...
ou uma vida de águia, voando alto.

«Todos nós iremos morrer. Mas poucos de nós chegarão realmente a viver.» Disse alguém.
Quero desafiar-vos a voar alto. A Viver, com maiúscula. Só assim é que vale a pena.
E é simples. Mas não é fácil.
É simples: basta fazer aquilo que torna uma vida extraordinária - os princípios que todos sabemos.
Não é fácil: é necessário fazer não o que apetece, mas aquilo que se quer, o que leva a uma vida extraordinária.
Quando o que me apetece coincide com o que eu quero, é fácil. Mais difícil é quando o que eu quero está em conflito com o que apetece.
O que é que eu realmente quero ser na vida?
Esta é, portanto, a primeira questão: o que quero eu?
E, depois, como é que eu me torno naquilo que quero.

«Os meus dias são a minha vida em miniatura.» Escreveu Robin Sharma.
Pelos meus dias eu vejo para onde vou. Na vida que levo eu vejo quais são, de facto, as minhas prioridades. Não as que eu digo, mas as que eu vivo.
É para aí que quero ir?
Para onde quer que vás, já lá estás.
Nos meus hábitos vejo a direcção em que vou.
Para voar alto, assume um compromisso com a qualidade. Ou com a excelência.
Tu podes construir uma vida extraordinária.
Pensa em grande, começa onde estás e avança passo a passo.
Quem caminha, passo a passo, dia a pós dia, de forma consistente,
numa direcção,
não pode ficar no mesmo lugar,
inevitavelmente chega longe.
Para onde é que eu quero ir?
O que é que eu realmente quero ser na vida?

"Mas eu não consigo. Isso não é para mim." dizem alguns.
É falso.
Repito:
Quem caminha, passo a passo, dia a pós dia, de forma consistente,
numa direcção,
não pode ficar no mesmo lugar, inevitavelmente chega longe.

Tudo começa, portanto, em definir que direcção? para onde quero ir?
E ir.
«Todos nós iremos morrer. Mas poucos de nós chegarão realmente a viver.»
O dolce far niente é doce, mas é perigoso, porque é deslizante.

Descobre aquilo em que queres ser mesmo bom.
Depois, treina dia após dia, dá passos consistentes nessa direcção.
É assim que se fazem as vidas maiores.

E cada um de nós tem um único ponto de partida: aquele que nos calhou para viver, aquele em que nos encontramos. Não há outro. E é daqui, deste lugar único que é o nosso, que podemos partir. Hoje.

Uma vida maior não é apenas a de primeiro ministro, de campeão de futebol ou estrela de cinema.
Uma vida maior é aquela que eleva à plenitude as suas potencialidades e as exerce de forma consistente.
Tu és único ou única
e tens muitas potencialidades.
Basta teres um cérebro humano. As tuas potencialidades são ilimitadas.

Podes ser grande em qualquer lugar.
Houve em Abrantes um homem, a quem aqui presto homenagem, que era varredor. Mas, dizia ele, «varredor de classe». Um apaixonado pela limpeza da sua cidade.
Cada um de nós pode ser qualquer coisa «com classe» ou... um medíocre.

Os homens e as mulheres que têm classe não se limitam a ir água abaixo no rio da vida em que caíram. Não, fazem o seu próprio percurso.

Uma coisa é esperar para ver o que é que a vida faz de mim,
outra é eu desenhar e fazer a minha vida:
Que vida quero eu viver?

Cada um é que escolhe o seu modo de estar na vida.
Por isso é que nada substitui a definição pessoal do projecto de vida.

terça-feira, janeiro 1

 
Balanço
Um balanço é uma avaliação retrospectiva, mas é também tomar energia para seguir em frente. Por isso, voltei a ler os balanços que os meus alunos fizeram no final do primeiro período. Deixo aqui alguns fragmentos, anónimos porque na sua maioria foram assim escritos (como pedido) mas sobretudo porque não pedi autorização para divulgá-los. Eles são também o testemunho na primeira pessoa do que é ser estudante, e de filosofia. Fiz as necessárias correcções gramaticais, excepto no último. Este serve também como testemunho do muito que temos, professor e alguns alunos, a fazer.
A todos os alunos, o meu obrigado por estas suas contribuições preciosas.

«Penso que até agora as aulas têm corrido bastante bem. O professor expõe os assuntos de forma clara, interessante, sempre procurando mostrar-nos do que fala, na prática, na vida real. Por outro lado, tenho vindo a notar que à medida que o tempo passa vai sendo mais difícil acompanhar. Mais trabalho em casa, mais concentração. Em relação às aulas mesmo, penso que há, por vezes, um burburinho que perturba um pouco quando estamos a tentar assimilar algo que o professor acaba de explicar. (...) Por fim, gostava de manifestar o meu agrado pela iniciativa do professor de fazer um blog com o nosso trabalho.»

«Durante este percurso, eu penso que evoluí na maneira de ser. Ao princípio era como uma disciplina diferente., mas agora não considero bem como uma disciplina, mas como uma maneira de aprender a viver melhor.»

«Pensava que não iria gostar de Filosofia e que não teria jeito nenhum para fazer textos. Pelo contrário, fiquei bastante surpreendida ao aperceber-me de que até me ajeitava e gostava da maneira de pensar filosófica.»

«Ao longo destas aulas aprendi novas coisas e ganhei novas perspectivas. Tenho evoluído pois tenho-me tornado mais crítica em relação a situações que me têm surgido. (...) As aulas têm-me motivado mas mesmo assim ainda há muita coisa que gostava de compreender.»

«Tenho a obrigação de afirmar que as aulas de Filosofia foram benéficas para a minha vida e os meus estudos. Não comecei da melhor maneira, mas com a ajuda do professor, da minha colega de carteira N. e da minha amiga N. Consegui superar as dificuldades iniciais e ter uma nota desejável. (...) Por outro lado, no início do período não gostava das aulas, achava que nada fazia sentido em relação ao conteúdo da matéria e quase adormecia nas aulas, pelo facto de não gostar da disciplina.»

«Ao longo deste período eu andei um pouco “desorientado” com esta disciplina, a Filosofia. Gosto de aprender Filosofia e penso que esta disciplina é extremamente necessária. (...) Sei também que é uma disciplina difícil e vou estudar mais no próximo período porque este período para mim foi uma desgraça.» Aprendi muito com esta disciplina, mas vou esforçar-me para aprender mais.»

«Eu tenho gostado das aulas de Filosofia, embora às vezes não perceba muito bem o que é dado.»

« Aspectos positivos: Até agora, estou a gostar desta disciplina porque durante as aulas discutimos temas pouco comuns sobre os quais eu, e a grande maioria dos meus colegas, julgávamos que não havia nada de novo a acrescentar. Aspectos negativos: Não sei bem o que é que devo estudar para os testes de filosofia; julgo que grande parte da “matéria” não é para ser estudada e “empinada na cabeça”, é para ser compreendida (isto pode ser um aspecto positivo ou negativo...)»

«Os aspectos negativos não foram significativos, apesar de eu não entender por vezes a matéria.»

«Às vezes não entendo bem as coisas, por vezes não peço para explicar melhor porque acho que não vou entender na mesma.»

«O professor poderia escrever mais no quadro.»

«A única coisa é o professor não dar definições em apontamentos, ser apenas oral, pois muitas das vezes não consigo tirar apontamentos.»

«O meu maior problema é o à-vontade para falar, que ainda é diminuto. Outro dos aspectos é o facto de ser difícil para mim manter-me concentrada durante todo o tempo da aula, porque a certa altura já não consigo acompanhar os raciocínios com tanta facilidade.»

«Em meu ver esta minha primeira experiência com a filosofia ao longo deste primeiro período foi positiva, visto que para além de no início olhar para a disciplina com alguma desconfiança mas vim a descobrir que era no mínimo algu interessante. Os aspectos negativos foi mesmo a desconfiança inicial de resto não tenho nada aponta»

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