domingo, novembro 25

 
Homem, um ser práxico
Hoje, pedi-lhes que lessem, em pares, meio texto de Arnold Gehlen. Problema: o que quer dizer "o homem é uma tarefa"?
Em plenário, fomos concluindo.
- o animal nasce muito definido biologicamente; o homem nasce plástico;
- o animal será muito como os da sua espécie; o homem será muito como os da sua cultura.
Foi, então, fácil perceber o homem como tarefa: tarefa porque não nasce feito, tem de fazer-se. Fazer-SE. Por isso se diz que o homem é um ser práxico, ou seja, na sua vida ele faz-SE.
E introduzi um tríplice distinção: eco-formação, hetro-formação e auto-formação. O homem começa por ser feito pelo meio ambiente natural e cultural, nesse ambiente alguns "outros" ocupam-se especialmente da sua formação e é só depois que o homem ganha alguma autonomia para fazer-se a partir daquilo que o meio e o ambiente fez dele.
Mas este "depois" começa bastante cedo, por exemplo quando a criança começa a cuspir a papa que não quer ou a fugir da mão dos pais para ir para ir ver o que lhe interessa... até que mais tarde se define como projecto próprio de vida face aos outros.
A partir daqui, dei-lhes algumas notas para leitura do homem.
Platão, há 2.500 anos, números redondos, ensinou-nos que
homem = alma + corpo,
mas em que o homem era a alma e o corpo só atrapalhava.
Quanto mais alma mais homem; quanto mais corpo menos homem.
E a alma era espiritual, racional, imaterial e eterna ou imortal.
A igreja católica aprendeu a lição e espalhou-a por todo o Ocidente.
E ainda hoje muito do nosso pensamento é feito nesta matriz.
Mas as ciências biológicas e sociais têm vindo a propor-nos outra matriz de leitura:
homem = corpo que pensa.
Sendo assim, o homem é um corpo que chega a ser capaz de dizer "eu".
Mas é importante darmo-nos conta de que este corpo só será capaz de dizer "eu" se for educado por uma sociedade em que aprenda a dizê-lo. O corpo do animal homem não é naturalmente homem, faz-se homem em sociedade.
Além disso, desde Platão, aprendemos a definir-nos como animal racional. Mas basta olhar para nós para vermos que não é lá muito verdade. Por exemplo, todos nós conhecemos a história: «Sei que fumar mata, mas eu continuo a fumar». Isto é racional?
Concluíram facilmente que não. E quantas vezes damos por nós a fazer o contrário do que queremos e sabemos que devemos fazer?
Talvez fosse melhor substituir a noção de homem como "animal racional" por "animal capaz de ser racional".
A racionalidade é uma função do córtex cerebral que a evolução colocou no topo das funções adquiridas para, com ela, o animal humano conseguir melhor qualidade de vida num mundo muito complexo.
Perguntei se havia alguma questão. Não havia. Mas eu adivinho que haveria muitas. Por isso acrescentei. Isto não tem nada a ver com a religião cristã. A distinção entre alma e corpo é grega e só depois foi incorporada no pensamento cristão.
Comments: Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?