domingo, novembro 25

 
Do vertical ao horizontal
Quando lemos o texto bíblico, perguntei-lhes no final:
- Como é que sabemos que isto foi assim? Ou melhor, para quem acredita neste texto, como é que pode ter a certeza de que as coisas se passaram assim? Ou ainda de outro modo: qual foi o jornalista que fez a cobertura destes acontecimentos?
Com estas perguntas num diálogo progressivo, foi-lhes fácil concluir, ajudados, que este texto só pode ter um autor: Deus. Só Deus pode "revelar" aquilo que aqui está escrito.
- E quem acredita, que é que pode fazer? Nada mais que acreditar. Pois se Deus diz e eu não tenho outra forma de saber... Aliás, conhecem aquela pergunta: Quem como Deus? O valor da afirmação vem da autoridade divina daquele que a diz.
E assim caracterizámos o pensamento mítico: vertical de cima para baixo. Deus diz, o homem aceita e cumpre. É esta a matriz.
Com o pensar filosófico, a matriz é outra.
- Agora, quem diz é um homem comum, um homem como os outros. Que autoridade tem a palavra de um homem comum? Porque hei-de eu aceitar aquilo que ele diz?
Agora, o que faz valer uma afirmação são as justificações que ele me dá.
Estamos, portanto, perante um pensamento, não já vertical de cima para baixo, mas horizontal, entre homens iguais, isto é, igualmente capazes de pensar por si.
Até aqui, eles vão. O pior é quando eu lhes pergunto:
- Mas o que é que faz valer as justificações? Ou sseja, porque é que eu aceito as justificações que ele me dá?
Com algum trabalho de diálogo dirigido acabamos por concluir que...
- As justificações que ele dá valem para mim quando elas resistem ao exame que eu lhes faço. Se elas resistem, eu acabo por aceitá-las.
E, com o apoio do livro, vamos à Grécia:
- Quando tales disse que tudo era feito de água, logo outros vieram discordar. Que não: que tudo era feito de indeterminado, de névoa, de fogo, de átomos... E cada um dava as suas justificações. estão a ver como, com uma nova gramática de pensar - perguntar, responder e justificar - imediatamente começaram a surgir pensamentos muito variados?
É isto a filosofia.
E é isto a nossa oficina de filosofia.
Comments: Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?