domingo, novembro 25

 
A origem histórica
- Quero convidar-vos para irmos fazer uma visita de estudo. (Quase se levantaram.) Vamos à Grécia, mais exactamente à cidade de Mileto, que fica onde hoje é a Turquia, e vamos assistir a um dos mais importantes acontecimentos da história da humanidade. Vamos a isso? Apertem os cintos, que vamos levantar voo.
Estavam presos ao que ia passar-se.
- Um homem, chamado Tales, Tales de Mileto (e escrevi no quadro), está a pensar. E faz uma pergunta: de que é que tudo é feito? E responde: de água. E justifica: porque onde há água tudo medra e onde falta a água tudo morre e desaparece. (E calei-me.)
Eles estavam ao mesmo tempo desiludidos e atentos. Como quem diz: só isso? Avancei.
- Porque é que eu disse que foi «um dos mais importantes acontecimentos da história da humanidade»? Que há de extraordinário nisto tudo para, 2.500 anos depois, números redondos, ainda contarmos este episódio? Ainda por cima, trata-se de uma afirmação falsa.
Pelo método do diálogo conduzido, utilizando as suas respostas e fazendo eu perguntas que os empurravam para a direcção que eu queria, chegaram a concluir que aqui há algo de muito importante que se passa: um homem faz uma pergunta e é ele próprio que responde por si e dá justificação para aquilo que afirma. O facto de a afirmação não ser hoje válida não invalida que seja válido hoje o modo de pensar. Aqui nasce a filosofia como um novo modo de pensar. Como? Nestas três palavras: perguntar, responder e justificar. podemos, por agora, dizer que é isto a filosofia: perguntar, responder e justificar. E quero que estas sejam aqui três palavras sagradas. Até porque é aqui que também começa toda a ciência - que podemos dizer que é um outro modo de pensar que vai nascer, números redondos, 2.000 anos depois de Tales de Mileto.
E temos assim três modos ou três gramáticas de pensamento: o pensar mítico, o pensar dito racional (à falta de melhor palavra) e o pensar científico.
No princípio só havia o pensar mítico. Depois, na Grécia, nasceu o pensar filosófico, e já havia dois. Agora, na nossa sociedade, há três modos de pensar e nós pensamos com eles os três. Daí alguma confusão, mas também uma grande riqueza.
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