sábado, abril 19

 
Os textos
Uma parte significativa do meu trabalho de professor é investido a “ver” os textos dos meus alunos. Insisto na escrita de textos, aponto as limitações dos mesmos e vou dando pistas de melhoria.
Faço isto por duas razões: uma filosófica, outra metodológica.
Filosoficamente, o que me interessa não é “dar matéria”, que fica “dada” quer os alunos aprendam quer não; o que interessa verdadeiramente é os meus alunos irem constituindo por dentro a sua voz, a sua reflexão, o seu pensamento. E produzir um texto é reflectir de modo muito activo, é defrontar-se com a dificuldade de dizê-lo de modo que o próprio se reconheça no que diz.
Metodologicamente, porque se os alunos vão ser testados, em grande medida, em provas por escrito, então eu devo treiná-los, isto é, desenvolver-lhes as capacidades de darem boa conta de si nisso mesmo. Fazê-los escrever e melhorar a escrita é treiná-los para as provas que vão ser chamados a prestar. Não treinos no vazio, mas no próprio exercício filosófico que vamos fazendo.
Ora acontece que eu vejo os meus alunos a apresentarem melhores produtos escritos. E de modo muito especial aqueles que entraram quase incapazes. Não iam além de três ou quatro linhas; agora já conseguem fazer uma meia folha A4; apresentavam uma folha com muita letra mas pouca escrita, ou seja, coisas sem sentido, frases sem estrutura legível, fragmentos dispersos ser textura, erros e mais erros... Hoje, eles próprios já se dão conta de que escrevem melhor. E eu sou capaz de lhes dar a um texto uma classificação um pouco melhor do que aquela que o texto vale, porque tenho de ter em consideração a evolução positiva, o que lhes serve também de estímulo. Sim, que são os resultados que nos alimentam a energia.
Infelizmente, porém, não é em todos os alunos que se nota esta evolução. E tenho para mim um problema: até que ponto esta melhoria é resultado de evolução real ou de uma maior aplicação dentro da velha estratégia de passar um ano de sorna e recuperar no sprint final? Para mim, só tenho uma resposta: a minha consideração em termos de evolução vai apenas para aqueles casos em que eu tenho visto esse esforço continuado, portanto que me permite ver o novo resultado como sustentado por esses esforço contínuo. Mas sei que esse é um ponto crítico.
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