domingo, fevereiro 10

 
No karate - 3
No domingo de manhã, ainda um pouco dorido do estágio da véspera, sujeitei-me a exame. Ia confiante. Não porque soubesse muito, mas por duas razões: porque confiava que a passagem era quase um prémio para aqueles que não tinham desistido e que soubessem o mínimo, e eu sabia o mínimo, e porque o meu futuro não passa por ali e tanto podia ter-me sujeitado a exame como não ter. Para mim era igual.
Ou talvez não. Porque é bom pormo-nos à prova, sujeitarmo-nos ao julgamento de outros e, desse modo, vermos até onde somos capazes de ir. É bom mas não é fácil, ou tão fácil como pode parecer à primeira vista.
Eu consegui, no exame, passar de cinto branco a amarelo. Podia, como disse, não ter ido a exame, mas tenho para mim como seguro que não gostaria de reprovar. Quem gosta? Por isso fiquei contente pela promoção. Quem não ficaria? Mesmo que isso represente muito pouco na minha vida.
Estas situações permitem-me compreender melhor – por dentro – as experiências difíceis dos meus alunos. E ajudá-los a enfrentarem melhor as situações que eles vivem como de “grande perigo”. Outro mal de que sofrem as nossas escolas. Um mal que não ajuda a resolver a situação, isto é, a enfrentar o “perigo”, mas que retira algumas das competências que seriam necessárias.
Passei, portanto. Mas não sem ter cometido alguns erros. Um deles motivou mesmo um reparo da parte do júri. Vou ter de corrigir aqueles movimentos. Na verdade, eu tinha treinado durante meia hora, antes de ir para o exame. Havia-me mesmo parecido que aquele movimento específico, no interior de um conjunto mais vasto, era simples de mais para ser assim. Mas não tinha como perceber que estava mal. Lá o fiz como tinha treinado: mal. É claro que... o mesmo se passa tantas vezes com os meus alunos. Eles aprendem, com esforço, mas mal. Depois, tenho de ser eu a dizer-lhes que não é assim. São sempre momentos delicados, em que cada uma das partes está fragilizada. Mas o lugar do professor é sempre um lugar de poder, por isso sente-se aí muito menos a sua fragilidade.
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