domingo, março 2

 
A montagem filosófica
Segunda-feira de manhã. Primeiro com uma turma, depois com a outra, foi o tempo de montar a “intervenção filosófica”. No primeiro piso da Biblioteca António Botto, os alunos expuseram as obras que haviam realizado com este objectivo.
Por que razão há-de a aprendizagem filosófica traduzir-se necessariamente num texto escrito que responde a questões elaboradas pelo professor? Essa é uma modalidade, não a única modalidade.
Quando se tem de elaborar em grupo um objecto que condense um pensamento, um pouco ao modo do processo artístico, as dinâmicas são qualitativamente diferentes. Há um processo grupal, implica discussão e negociação, verifica-se a diferença de posições, é necessário introduzir uma argumentação horizontal, desenvolvem-se processos de liderança, surgem conflitos que necessitam de ser resolvidos... Podemos dizer que é a filosofia em acção no interior de um processo social específico.
Por isso mesmo, é fácil encontrar “processos de fluxo”, aqueles momentos em que as pessoas estão tão implicadas no processo que investem o máximo, perdem a noção do tempo e fazem-no com evidente satisfação apesar dos custos.
Há uma limitação evidente. Como os alunos, bem como o professor, não têm uma formação suficiente em artes, como o tempo lectivo tem de ser sobretudo investido no processo de reflexão filosófica e não no processo de construção do objecto, então o resultado que pode ser exposto não tem a qualidade plástica que seria de desejar. Mas são as limitações próprias quer do projecto, quer do analfabetismo plástico em que vivemos.
A grande maioria dos alunos não tem uma história de contacto com exposições de artes plásticas. Donde lhes poderia vir a formação que nunca tiveram?
Apesar de tudo, as (poucas) reacções que tivemos foram positivas, no sentido de terem descoberto ali dimensões de que não suspeitavam nos nossos alunos.
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