domingo, dezembro 9

 
Liberdade 2
Há liberdade?
Esta foi a pergunta que escrevi no quadro para começar. Tratava-se de ir levantar aquilo que tínhamos dito na aula anterior.
- Fazem o favor de escrever no caderno a resposta: Sim ou Não?
- E se eu não souber?
- Escreves “Não sei”.
Depois, apresentei-lhes uma listagem de frases de filósofos. Uns a dizerem que sim, há liberdade, e outros a dizerem que não, a liberdade não passa de uma ilusão, uma forma de ignorância.
Pedi-lhes que indicassem com que frases daquelas concordavam e de quais discordavam. Pensar é, tantas vezes, tomar posição sobre o que outros dizem. E essa é uma das razões maiores para se estudar o pensamento de um autor. Ele obriga-nos a tomar posição, muitas vezes sobre problemas ou aspectos que nunca tínhamos pensado.
E partimos.
Com uma bola de ténis de mesa, mostrei o que todos sabiam, que a bola salta sob a lei da gravidade e os atritos vários, e que não pode decidir a sua queda, o seu comportamento. É apenas movida por forças exteriores, que não controla e sobre as quais não tem qualquer poder.
A minha gata voltou à sala. Se tiver fome e tiver comida... Agora, a gata é movida por forças exteriores e interiores.
E o homem?
Também o homem é movido por forças exteriores, é claro, e outras interiores - forças animais, psicológicas e sociais interiorizadas.
Então, o que significa afirmar que o homem é livre?
Se o seu comportamento não vem deste conjunto de forças, donde vem?
E parei, com o silêncio na sala a esperar por uma resposta.
Trouxe a palavra determinista de Helmoltz, dizendo que todo o universo seria explicável em termos forças de atracção e repulsão. Era o determinismo físico.
Ultimamente, alguns biólogos vêm dizendo que todo o comportamento humano é explicável por forças biológicas, sobretudo pela hereditariedade. É um determinismo biológico.
Será que o homem é como a bola de pingue-pongue, resultado apenas das forças que sobre ele agem, de fora e por dentro? Ou há outra explicação?
Este é um problema actual. E sem sabermos a resposta não saberemos como viver.
- Por exemplo. Se eu te maltratar, te bater, que é que fazes?, perguntei à aluna que estava mesmo à minha frente. E continuei. - Podes responder na mesma moeda. Mas talvez te arrisques a levar ainda mais. Não parece ser boa resposta. Ou podes ir fazer queixa de mim. Que dizes?
Preferiu apresentar queixa.
- Mas se a minha gata me roubar o bacalhau que eu tinha para o almoço, vou apresentar queixa dela? Ela não é responsável, já o vimos. Se vais apresentar queixa de mim é porque eu podia não ter feito aquilo que fiz. Certo?
Foi por aqui que andámos, a fazer “experiências de pensamento” que nos permitissem pensar a nossa vida sem a admissão da liberdade.
Não há como termos de enfrentar este que é um dos grandes problemas teóricos de hoje.E se não encontrarem de imediato resposta para ele, eu estou nas mesmas circunstâncias. Mas isso não nos desobriga de o pensarmos. O problema é nosso.
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